02/09/2009
Foto: JC Imagem
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José Ursicino da Silva, o Maestro Duda |
José Teles
teles@jc.com.br
“Gostei muito
da homenagem, já que aqui ninguém se lembra mais de mim”. Foi assim, com seu
jeito despachado, característico, que José Ursicino da Silva, o Maestro
Duda, comentou o fato de ter sido escolhido para ser homenageado como
compositor residente na 6ª edição da Mostra Internacional de Música de
Olinda – Mimo, que começa hoje, em João Pessoa, e quinta-feira, no Recife
e em Olinda (ver programação). Domingo, ele regerá a Orquestra Mimo no
concerto de encerramento das Oficinas de Formação de Orquestra, fruto da
Etapa Educativa que neste ano contará com cerca de 900 estudantes e
profissionais de música para troca de conhecimentos. Neste dia, Duda adianta
que apresentará uma composição, “uma fantasia”, que resumirá a história do
Brasil, contada a partir da chegada dos espanhóis a Pernambuco, liderados
por Vincente Yáñez Pinzón, em janeiro de 1500. “O nome é Uma visão
nordestina e, à medida em que vou contando a história, vou utilizando ritmos
nordestinos: ciranda que fala de praia, forró quando se fala de Lampião e
por aí vai”.
Aos 74 anos,
o maestro Duda pontifica na música pernambucana, e na brasileira, há seis
décadas. Seguiu o caminho de quase todo maestro: fez estágio em banda de
música – no seu caso, a lendária Saboeira, de Goiana, sua cidade natal,
quando tinha apenas dez anos. Aos 12 compunha Furacão, seu primeiro frevo.
Logo estaria na Jazz Band Acadêmica e na Paraguari, a orquestra da Rádio
Jornal do Commercio, por onde passaram nomes como Jackson do Pandeiro,
Sivuca, Luperce Miranda e Clóvis Pereira. Sempre teve trânsito livre entre o
erudito e o popular. Ao mesmo tempo em que tocava oboé e corne-inglês na
Sinfônica do Recife, empunhava o sax numa orquestra de bailes.
Notabilizou-se mesmo pelos frevos que arranjava e compunha: “Compunha, não,
continuo compondo. Quem escreve não para assim de repente. Quem compõe
continua compondo sempre, só que tomaram meus espaços. Tem pouco espaço para
orquestra hoje em dia no Recife. Na verdade, eu trabalho mais lá fora, em
outros Estados, Brasília, Belo Horizonte”.
O maestro
Duda tem sido homenageado de diversas formas. Em 1982, a sua Suíte
nordestina foi escolhida para abrir as festividades da Semana da Pátria,
sendo transmitida pela TVE para todo o Brasil. Em 1985, sua orquestra
representou o Brasil na Feira das Nações em Miami, Flórida (EUA). Mais
recentemente, a curadoria do Projeto Memória Brasileira, da Secretaria de
Cultura de São Paulo, escolheu Duda como um dos 12 melhores arranjadores do
século. Foi lançado, inclusive, um disco deste projeto, intitulado
Arranjadores, no qual Duda assina o arranjo para as Bachianas nº5, de Heitor
Villa-Lobos, executado pela Banda Savana.
Duda também
já tem composições gravadas em dezenas de países, o que levaria a imaginar
que ele tem condição financeira folgada: “Amanhã mesmo eu vou receber
direitos de uma música minha que está tocando no Japão. Eles mandam uma
planilha muito bem-organizada, quantas vezes tocou, quantas pessoas ouviram
e tal. Mas o dinheiro, quando chega nas minhas mãos é R$ 18 ou se muito R$
35. A orquestra de Spok, que viaja tanto, toca sempre meu frevo Nino o
pernambuquinho, quando vem o direito autoral, é R$ 16. Tenho música editada
nos Estados Unidos, Suécia, neste mundo todo, sem esquecer o que tenho no
Brasil. Pois os direitos disso tudo quando dão muito é um salário mínimo”.
Duda não tem a menor idéia de quantas músicas já fez, estima que sejam mais
de mil. Contados os discos de sua autoria e aqueles em que teve
participação, já ultrapassou 500 títulos. Tampouco recebe dinheiro por
estes. O que dava dinheiro mesmo aos maestros eram os bailes, mas ele diz
que este formato de Carnaval de shows, de artistas conhecidos,
gratuitamente, acabou de vez com os bailes de clubes e, portanto, com o
trabalho das orquestras. “Antigamente havia muitas orquestras, mas os
espaços as excediam, portanto, no Carnaval era preciso importar as grandes
orquestras cariocas.
De uma
geração de grandes maestros e da efervescência do frevo, tanto na rua quanto
nos grandes clubes, Duda hoje é um maestro que toca pouco (como de resto
quase todos seus contemporâneos de batuta). Na verdade, ele tem sua
orquestra formada por parentes, filhos, nora, todo mundo tem a música no
sangue (Spok, por exemplo, é genro de Duda). O maestro, que se destacou como
arranjador, que escreve peças eruditas, canções populares (o maestro
Severino Araújo gravou seus frevos e tem até um samba na voz de Jamelão),
não esconde que tem predileção pelo frevo e critica a ausência de mais
espaços para o ritmo em Pernambuco: “Se toca muito pouco em Pernambuco. O
Recife é a capital do frevo, mas onde ele é escutado por aqui? Deveria haver
espaços permanentes para se tocar frevo, nem que seja para o turista. O cara
vem de fora e quer escutar, ver uma orquestra de frevo, mas cadê? Na praça
de alimentação do aeroporto, que deveria ser um desses espaços, tem um cara
tocando um teclado e vendendo os disquinhos dele, sem tocar frevo. Toca
sucessos populares. Tudo bem, mesmo sendo um espaço público, que ele
vendesse os disquinhos dele. Mas que administração do aeroporto fizesse com
que se tocasse frevo ali dentro”.
Com toda
história que tem, causa surpresa que não tenham ainda escrito uma biografia
de Duda. Teses acadêmicas há diversas. Numa dessas, revelou ele ao Blog
Antônio Magalhães, foi descoberta a partitura do seu primeiro frevo,
Furacão, que ele dava como perdida.
(©
JC Online)
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Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
DIDIER LOCKWOOD E RICARDO HERZ |
20h30 |
Convento de São Francisco (João
Pessoa/PB) |
|
Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
FERNANDO SODRÉ |
18h |
Convento de São Francisco
(Olinda/PE) |
Mostra de Cinema |
Orquestra dos Meninos |
18h30 |
Pátio da Igreja da Sé |
Concertos |
ART METAL QUINTETO |
19h |
Igreja Rosário dos Homens Pretos
(Olinda/PE) |
Concertos |
DIDIER LOCKWOOD E RICARDO HERZ |
20h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE) |
|
Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
ST. PETERSBURG STRING QUARTET |
18h |
Mosteiro de São Bento (Olinda/PE) |
Concertos |
DUO MILEWSKI |
17h |
Ordem Terceira do Carmo (Recife) |
Mostra de Cinema |
Nós Somos um Poema |
18h |
Seminário de Olinda |
Concertos |
TRIO DE CÂMARA BRASILEIRO |
18h30 |
Convento de São Francisco
(Olinda/PE) |
Mostra de Cinema |
Música é Perfume (Maria Bethânia) |
18h30 |
Pátio da Igreja da Sé |
Concertos |
TONINHO HORTA |
19h |
Seminário de Olinda (Olinda/PE), |
Concertos |
ORQUESTRA SINFÔNICA DE BARRA MANSA |
20h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE) |
|
Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
ST. PETERSBURG STRING QUARTET |
17h |
Basílica do Carmo (Recife), |
Concertos |
QUINTETO SOPRO BRASIL |
18h |
Igreja Rosário dos Homens Pretos
(Olinda/PE) |
Mostra de Cinema |
Raphael Rabello |
18h |
Seminário de Olinda |
Mostra de Cinema |
Um Homem de Moral (Paulo Vanzolini) |
18h30 |
Pátio da Igreja da Sé |
Concertos |
ANTONIO NÓBREGA E ORQUESTRA RETRATOS DO NORDESTE |
19h |
Seminário de Olinda (Olinda/PE), |
Concertos |
BUENA VISTA SOCIAL CLUB STARS |
21h30 |
Palco Praça do Carmo (Olinda/PE) |
|
Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
ORQUESTRA MIMO ENCERRAMENTO DAS OFICINAS DE
FORMAÇÃO DE ORQUESTRA |
11h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE) |
Concertos |
ENCONTROS (Coreto da Praça) |
16h |
Praça do Carmo (Olinda/PE) |
Concertos |
ORQUESTRA SINFÔNICA DO RECIFE |
17h |
Basílica do Carmo (Recife) |
Mostra de Cinema |
No Tempo de Miltinho |
18h |
Seminário de Olinda |
Concertos |
JOANA BOECHAT |
18h30 |
Convento de São Francisco
(Olinda/PE), |
Mostra de Cinema |
Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Dei |
18h30 |
Pátio da Igreja da Sé |
Concertos |
JAM DA SILVA |
19h |
Seminário de Olinda (Olinda/PE) |
Concertos |
GONZALO RUBALCABA, DAVID LINX & SERGIO KRAKOWSKI |
20h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE) |
|
Atividade |
Programação |
Hora |
Local |
Concertos |
ORQUESTRA SINFÔNICA DE BARRA MANSA ENCERRAMENTO DO
CURSO DE REGÊNCIA |
11h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE), |
Concertos |
GRANDE CIA. BRASILEIRA DE MYSTÉRIOS E NOVIDADAES |
16h |
Praça do Carmo (Olinda/PE) |
Concertos |
QUARTETO RADAMÉS GNATTALI |
18h |
Igreja de São Pedro (Olinda/PE) |
Mostra de Cinema |
Quebrando Tudo |
18h |
Seminário de Olinda |
Concertos |
QUINTETO DE METAIS NORDESTE |
18h30 |
Igreja de Guadalupe (Olinda/PE) |
Mostra de Cinema |
Palavra (En) Cantada |
18h30 |
Pátio da Igreja da Sé |
Concertos |
CESAR CAMARGO MARIANO |
19h |
Seminário de Olinda (Olinda/PE) |
Concertos |
HERMETO PASCOAL |
20h30 |
Igreja da Sé (Olinda/PE) |
Manguebeat agora é patrimônio imaterial
Chico Science, o grande nome do Manguebeat
Assim como o
bolo de rolo, o manguebeat é o novo Patrimônio Imaterial do Estado. A lei do
deputado Sérgio Leite (PT) já foi sancionada pelo governador Eduardo Campos.
“É importante lutar para preservar a nossa cultura. O manguebeat foi muito
importante para o Estado e nos deu um reconhecimento internacional”,
justificou o autor da lei.
O deputado é
autor ainda de um outro projeto desse tipo, agora visando os bacamarteiros,
mas confessa que é preciso ter cuidado para que o título de Patrimônio
Imaterial não seja banalizado. “Tem uns projetos que são absurdos, mas
prefiro não citar os nomes. Mas no caso dos bacamarteiros e do manguebeat, o
reconhecimento é mais do que merecido”, justificou.
Secretário de
Cultura do Recife e um dos mentores do movimento mangue, Renato L., aprovou
a iniciativa. “É sempre bom um reconhecimento como esse. No entanto, o
importante é saber que eco terá um projeto assim, saber como ele será
revertido para os nossos artistas”. O vocalista da Nação Zumbi, Jorge du
Peixe, comemorou a notícia: “Fico feliz com esse projeto. É bom ver o
reconhecimento por um movimento que chacoalhou os anos 1990 e que, até hoje,
continua ecoando”.
O crítico de
música do JC e autor do livro Do frevo ao mangue beat, José Teles, estranhou
a notícia: “Ao contrário do frevo, o mangue não é um ritmo. Eles não estão
homenageando um ritmo e sim uma movimentação, uma idéia. É estranho”.
A doutora em
sociologia pela UFPE com a tese A nova velha cena – A formação do campo
cultural no Recife, Carolina Leão, analisou a reverberação política da lei:
“O PT se vale do mangue assim como o PMDB um dia se utilizou do armorial. O
(sociólogo) Pierre Bourdieu escreveu que, tudo o que é institucionalizado,
fica velho. Estamos transformando em tradição o que é muito recente, é um
sintoma da nossa época”.
(©
JC Online)
SITE
MOSTRA INTERNACIONAL DE MÚSICA DE OLINDA -
MIMO
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Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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