12/09/2009
Foto: Melquíades Júnior
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"Mecânico" da sanfona,
Zecildo de Oliveira, passa o dia inteiro afinando, consertando e
´ressuscitando´ sanfona, em Tabuleiro do Norte
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MELQUÍADES JÚNIORNa região do Vale do Jaguaribe, o
trabalho de afinar sanfona ainda sobrevive, embora com poucos
especialistas
Tabuleiro do Norte. Se já não é qualquer um que sabe tocar um acordeom,
também é quase ninguém especializado na arte de afiná-lo, deixar com a
sonoridade certa para quem quer “puxar o fole”. No Interior do Ceará,
são poucos os afinadores de sanfona. Alguns remontam e até fabricam, com
peças de sucata, um acordeom inteiro. O trabalho tem poucos seguidores,
mas a demanda é grande, principalmente das bandas de forró, que após
cada turnê correm atrás dos verdadeiros “luthiers” da sanfona.
Um deles foi agricultor, passou para sanfoneiro e, porque “não deu muito
certo”, apurou o ouvido para afinar a sanfona e, quando é necessário,
ressuscitá-la. Passa horas sentado no chão da sala ou na frente de casa,
que já foi construída com dinheiro da afinação. Como não seria
diferente, tem trecos de sanfona para todo lado.
Alguns instrumentos estão com simples ferrugem e com os teclados
precisando afinar suas “cordas vocais”, outros nem fole ou teclados têm,
mas os donos ainda fazem questão de chamar de acordeom, que só volta à
vida depois de chegar às mãos de Zecildo de Oliveira, 35 anos, mecânico
da sanfona em Tabuleiro do Norte, na região jaguaribana, que atende a
sanfoneiros de vários Estados.
Zecildo começou a atividade “de repente”. Toca sanfona, mas não é lá
essas coisas, precisou consertar o próprio instrumento, “e peguei o
jeito da coisa”, diz. Em apenas seis anos de afinação, diz que já
trabalhou com pelo menos 600 sanfonas. Bandas de forró e acordeonistas
da região jaguaribana, Rio Grande do Norte e até do Maranhão socorrem a
peça fundamental de um bom forró a qualquer hora do dia, pedindo-lhe o
conserto “para ontem”. A casa do afinador já recebeu sanfoneiros como
Redondo e “Chiquinho do Acordeom”, atualmente da banda Mastruz com Leite
e um dos grandes apoiadores do afinador, ajudando na aquisição de peças
e clientes.
“Muitos sanfoneiros tocam muito bem, mas não percebem a desafinação, só
quando chegam aqui sabem que não tá normal”, comentou ele.
Afinação
Uma afinação simples leva cerca de dois dias e custa pelo menos R$
200,00. “Mas se a sanfona vem toda ‘quengada’”, sem fole nem teclados,
pode ir para R$ 700,00. Daí é usar a criatividade, nesse caso leva mais
de mês para ficar pronta.
O fole é feito com uma espécie de papelão industrializado; os teclados
são feitos de canos de PVC fundidos, e “fica igualzin”, atesta o
mecânico, que recebeu a reportagem sem parar o trabalho de afinação das
notas no cavalete da sanfona.
Para deixar na medida, movimentava a licha com um motor de máquina de
costura doméstica. “Aqui é tudo na base do aproveitamento”.
Meio século
A juventude de Zecildo contrasta com a idade de outro afinador de
sanfona, mas se funde no talento para ser todos ouvidos para o
instrumento. Ano passado completou 50 anos que seu Raimundo Zacarias, de
76 anos, vive, ou como ele diz, “véve” de afinar sanfona. Não dá conta
de quantas já deixou “sadia pra tocar”.
Ele não só afina, mas toca. E lamenta que no distrito de Lagoinha,
localizado no município de Quixeré, não tem ninguém interessado em
seguir a profissão. Nem na família, que já nasceu com um pé na música –
todos os dez irmãos e irmãs tocavam instrumentos.
“A minha afinação eu não quero que aperreiem, só entrego com um mês, mas
a bem dizer é um negócio bem feito que só vendo”, afirma Zacarias. “Eu
cobro barato” – R$ 300,00 para afinar a sanfona. O preço aumenta quanto
maior for a ferrugem. A demora é que só pode trabalhar à noite, “à mode
a zoada do dia, o povo e os carros passando, que atrapalha o trabalho da
gente, aí só quando tem sossego é que trabalho”. Comenta, citando que já
afinou as sanfonas de João Bandeira e Paulo Ney. “Mas ele tá que adoece
toda vida que pega uma encomenda. É a poeira da sanfona, aí fica
respirando aquilo, quando dá fé tá com gripe”, afirma Maria Santa,
esposa do afinador. Eles moram com filhos e netos.
Mestre
Raimundo Zacarias é intitulado mestre pelos admiradores da região
jaguaribana. Tem vontade de conhecer Zecildo Oliveira, que tem a metade
de sua idade e parece ser o único seguidor de sua arte de afinação, que
já tem meio século de existência.
Mais informações:
Zecildo Oliveira
(88) 3424.2054
Raimundo Zacarias
(88) 3443.2069
(©
Diário do Nordeste)
Afinador de sanfonas vira celebridade em Pernambuco
Serviço leva em média três dias para ficar pronto.
Há 30 anos Antonio Ticaca faz o trabalho que custa cerca de R$ 200.
Do G1, com informações do Via Brasil
Na pequena cidade pernambucana de Gravatá, Antônio Ticaca faz diferença
entre os sanfoneiros da região. Requisitado por músicos de todo o estado,
ele dá o tom do instrumento. A vida dele é afinar sanfonas, profissão de poucos.
Nesta rua no centro de Gravatá, a casa de Antônio chama atenção de que
passa. O motivo é a quantidade de sanfonas no terraço. Ele já está há 30 dos
70 anos que tem hoje cercado pelos instrumentos.
Com tanto tempo ao lado da sanfona, tem gente que pensa que seu Antônio é
sanfoneiro. Na verdade ele trabalha como afinador do instrumento, uma
profissão pouco conhecida, mas muito importante aqui na região. É ele o
responsável pela qualidade do som que embala o forró. Natural de Jataúba,
distrito de Brejo da Madre de Deus, Antônio aprendeu o oficio pelo amor a
sanfona.
“Eu comecei fazendo um sonzinho, aí o mestre que me ensinou viu que eu
dava pra trabalho. Aí me convidou pra eu ir trabalhar com ele. Ele me
ensinou e hoje, graças a Deus, sou um mestre de sanfona.
Tem músico que vem de Recife, de Limoeiro, de Caruaru, da zona do sul [do
estado], de todos os lugares mandam sanfona pra mim.”, conta o afinador de
sanfona, que tem ainda mais trabalho na época perto dos festejos juninos.
Seu Antônio afina a sanfona de toda a quantidade de baixos. O serviço leva
em média três dias. O processo é o mesmo, ele abre o instrumento e aos
poucos vai ajustando nota por nota. O trabalho é bem cuidadoso e exige muito
do ouvido. O serviço custa em média R$ 200.
Bastante solicitado, Antônio quase não sai da oficina. A esposa, Etelvina de
Faria, procura entender e diz que não sente ciúmes das sanfonas. “De manhã
toma um cafezinho e vem pra cá. Onze horas, onze e meia, mais ou menos, o
almoço tá pronto. Ele almoça, descansa um pouquinho, tem dia que nem
descansa e volta pra cá. Aí, só lá de tardezinha”, relata a esposa de
Antônio
Mesmo crescendo ao lado dos instrumentos, o filho Antônio de Farias não
desenvolveram as mesmas habilidades do pai. “Nem tentei aprender porque
achava difícil demais”, explica.
Embora não se considere bom sanfoneiro, seu Antônio arrisca algumas músicas.
Afinal, de que vale afinar e não aproveitar um pouco?
(©
G1)
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VÍDEO
Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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