27/08/2001
CD de Naná Vasconcelos chega ao Brasil
três anos depois

O CD Fragmentos, do percussionista Naná
Vasconcelos, chega ao mercado brasileiro com três anos de atraso. Gravado em Paris e
editado nos Estados Unidos, Europa e Japão em 1998, o álbum reúne trilhas sonoras
compostas pelo músico pernambucano especialmente para filmes, documentários e balés.
"O CD nunca saiu por aqui porque eu não tenho contrato com nenhuma gravadora no
Brasil", afirma o músico, eleito sete vezes o melhor percussionista do mundo pela
revista especializada norte-americana Down Beat.
Apesar da demora, Naná comemora o lançamento do
álbum pelo selo Núcleo Contemporâneo: "O álbum parece muito com meu show solo e
serve para a juventude conhecer o meu trabalho".
Radicado nos Estados Unidos há 26 anos, o
percussionista divide seu tempo entre Nova York e Recife. No último ano, por exemplo, ele
trabalhou na reforma da casa instalada em Recife e na produção do disco da banda Cordel
do Fogo Encantado. "Depois de tanto tempo fora, é bom ficar um pouco no Brasil,
principalmente quando está frio nos Estados Unidos", diz.
Acostumado a realizar projetos sob encomenda, Naná é responsável pela
composição de mais de 15 trilhas sonoras para cinema, como as produções
norte-americanas Procura-se Susan Desesperadamente, de Susan Seidelnan, e Downbylaw, de
Jim Jarmush. Apesar de preferir tocar os projetos pessoais, o músico conta que os
trabalhos encomendados são gratificantes. "Gosto muito do lado visual da música, de
contar estórias sem palavras, só sons que levam para a selva, a floresta, o mar, a
montanha", explica Naná. Além de ouvir a clientela formada por cineastas e
coreógrafos, o músico ainda assiste a cenas de filmes e balés durante o processo de
criação de trilhas sonoras. "Quero entender a idéia do artista, antes de compor.
Mas não para fazer apenas ritmos e sim orquestrações", diz o compositor e
percussionista.
A idéia de lançar Fragmentos partiu do produtor John Zorn,
especializado em trilhas sonoras de filmes. A partir do pedido, Naná selecionou músicas
compostas na década de 90 para documentários, balés e longas-metragens. O disco abre
com a música Vento Chamado Vento, que integra com Gorée o documentário De
L'Autre Côtés de L'Eau, dirigido por Didier Grosset. As faixas Mundo Verde e Vozes
foram criadas para o filme Rhythm of Life, de Maja Zrnic. Para o filme Because
Why, de Arto Paraganan, foi composta Marimbaribyoba. E para o longa brasileiro Sertão
das Memórias, de José Araújo, Naná fez a música Forró do Antero e ainda o
tema homônimo ao filme. O repertório do disco conta também com Vamos Pra Selva,
do filme italiano Amazonia, il Fiume del Silenzio, e Road to the Pygmies, do
balé homônimo da norte-americana Judith Jakson. Além de solos, o disco traz parcerias
com Egberto Gismonti e Cyro Batista, entre outros músicos.
O percussionista promete a participação de convidados internacionais no
próximo CD, que deve ser lançado até o final do ano. "É um trabalho mais pop, com
a utilização de samplers. Já que todo mundo 'sampleia' minhas músicas, vou eu mesmo
'samplear'", diz.
Ligado à vanguarda instrumental, Naná elogia as
criações que misturam canções da bossa nova e batidas da música eletrônica. O
movimento, impulsionado pelo álbum Bossa Cuca Nova, está sendo amplamente divulgado na
Inglaterra e França. Enquanto os sons brasileiros continuam a influenciar o cenário
internacional, o mercado fonográfico nacional ainda aposta em sucessos passageiros.
"O descartável faz parte do movimento fonográfico no Brasil. O axé e o pagode já
desapareceram. O forró do Ceará e o forró universitário estão sumindo das
rádios", diz. "Mas só consegue se manter quem não é descartável",
afirma ele. (TERRA/Diversão)
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