por PAULO SÉRGIO SCARPA
Lamentável que uma cidade como Recife não tenha
1.931 pessoas para lotar o Teatro da UFPE, com ingressos a R$ 10 e R$ 20, para assistir o
único concerto do violoncelista pernambucano Antônio Meneses, depois de 18 anos. Azar de
quem não foi e que fica apenas reclamando dos outros que nada fazem pela
Cultura no Estado.
Interpretando com a Orquestra Sinfônica do Nordeste
(OSN), sob a regência do maestro Rafael Garcia, o Concerto em Dó Maior, de Haydn
e as Variações Rococó, de Tchaikovsky, Meneses mostrou que seu violoncelo possui
a mais suntuosa e aristocrática paleta sonora, daí ser considerado o maior violoncelista
de sua geração, embora nascido em um País sem a mínima tradição nesse instrumento.
Ele ainda presenteou a platéia entusiasmada com duas peças da dificílima Suítes, de
Bach desafio para qualquer violoncelista.
A leitura de Haydn feita por Meneses transmitiu
emoção, técnica e perfeição. O executar ao vivo possibilita ao artista entregar-se
mais ao instrumento já que despreocupado com as exigências da técnica e de um diretor
artístico da gravadora em estúdio. Por isso, não foi estranho perceber o olhar de
admiração e respeito dos músicos da OSN no grande solo do primeiro movimento.
Da mesma forma, mostrou total domínio sobre o
instrumento - um violoncelo Matteo Goffriller, de 1700, mas de fabricação moderna - nas
Variações Rococó, peça de fôlego porque exige total sincronia com a orquestra e
pleno domínio das mãos. Tchaikovsky amava o violoncelo, daí querer tirar do artista
todas as suas qualidades de intérprete. Das duas peças das Suítes de Bach,
Meneses extraiu momentos de extrema beleza e leveza sonora.
Integrante do famoso Trio Beaux Arts, tocando ao lado
do pianista Menahim Pressler e do violinista Young Uck Kim, Meneses tem uma torcida de
críticos e fãs que o considera superior a Mstilav Rostropovich, Lynn Harell, Stephen
Isserlis e Yo-Yo Ma. Mas é bem menos popular porque ainda falta ao pernambucano uma
carreira fonográfica expressiva, gravando com orquestras conhecidas e maestros de renome.
Ele deverá sanar essa falha a partir de outubro, quando se inicia uma nova turnê do
Beaux Arts pelos Estados Unidos, com repertório com música moderna e contemporânea e o
suporte da Phillps. (Jornal do Commercio)