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16/07/2001

Grupo do sertão de PE é revelação na música

Otto Valle
da Agência Nordeste

Grupo musical do sertão de Pernambuco traduz toda a riqueza cultural do Nordeste. Depois de firmar como uma grande revelação no Brasil, a banda segue para a sua primeira turnê na Europa.

   O grupo musical Cordel do Fogo Encantado, novo expoente artístico do sertão pernambucano, está às vésperas de levar a riqueza cultural do Nordeste para o mundo. O quinteto está em turnê nacional e viaja, em agosto, para a Europa, onde tocará no festival de Sfinks, na Bélgica, e visitará a Alemanha e a França. Lá eles irão divulgar seus ritmos marcados pela força de instrumentos de percussão integrados à musicalidade das poesias da literatura de cordel. O trabalho é uma releitura própria do folclore e das tradições sertanejas.

   O Cordel conquistou a crítica e o público e vem, aos poucos, se firmando como a grande revelação musical de Pernambuco desde o surgimento de Chico Science & Nação Zumbi (morto em 1997), maior precursor do movimento Mangue Beat. No entanto, apesar de os dois grupos serem pernambucanos, não há como comparar os estilos, pois um vem do litoral e o outro do sertão, deixando clara a cultura arraigada em cada uma dessas comunidades.

   Mesmo assim, o produtor do conjunto, Antônio Gutierrez (o mesmo do Mundo Livre S/A), admite que, quando viu o Cordel pela primeira vez, teve a mesma impressão do primeiro contato que teve com Chico Science. "A sensação foi a mesma. O impacto foi muito forte'', afirma, ressaltando que não se trata de semelhança de estilos, mas de reconhecimento de talento.

   A banda surgiu em Arcoverde (PE), que fica a 260 quilômetros do Recife, no ano de 1997. ``Daquele ano para cá, aprimoramos muito nosso trabalho, que antes era fundamentado em uma apresentação cênica-musical. Não abrimos mão da influência performática, mas hoje a música ganhou um espaço muito grande na produção do grupo'', explica o vocalista e principal letrista da banda, Lirinha.

   Neste final de semana o grupo está se apresentando em Brasília e em Alto Paraíso (GO). Seguem para Belo Horizonte e, depois, partem para a Europa. Todos estão muito ansiosos para divulgar o trabalho em outros países levando a cultura sertaneja. ``A expectativa é grande pois será o momento em que a gente vai perceber a força da nossa música sem o entendimento do português. Queremos ver de que forma esse pessoal vai reagir'', diz Lirinha, resumindo a opinião dos demais integrantes.

Folclore e originalidade

   No início do século XX, o escritor Euclides da Cunha versava sobre o povo nordestino e sua capacidade de sobrevivência. ``O sertanejo é, antes de tudo, um forte'', declarava em sua obra máxima, Os Sertões, publicada em 1902. Força inegável tem, também, a arte produzida por essa gente que, passados cem anos, continua a sofrer, como Euclides retratou, mas que não deixa de contribuir com a cultura brasileira. Para confirmar essa riqueza artística que vem do sertão, o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado começa a decolar no cenário artístico nacional, fazendo uma releitura própria de todo esse legado sertanejo.

   A originalidade do grupo - composto por Lirinha, Clayton Barros, Emerson Calado, Nego Henrique e Rafa Almeida - fica por conta do resgate que eles fazem do folclore e das tradições sertanejas, misturando histórias, contos e crenças com ritmos da região. No início da banda em 1997, a intenção era produzir um espetáculo cênico-musical, muito mais fundamentado na representação teatral do que na música. Segundo o vocalista e letrista do grupo, Lirinha, a peça surgiu da vontade em propagar essa cultura que os integrantes sentiam tão latente no povo sertanejo.

   Lirinha explica que o conjunto foi batizado pelo público, que se referia ao grupo usando o nome da peça. Após o sucesso alcançado em Arco Verde, a banda começou a viajar por Pernambuco para divulgar o trabalho e, devido à receptividade positiva, decidiu se mudar para o Recife.

   Foi na capital pernambucana que os primos Nego Henrique e Rafa Almeida se uniram ao Cordel. A presença dos dois trouxe forte influência do candomblé ao Cordel e é justamente essa mistura dos elementos que confere um aspecto singular à produção artística do grupo. O resultado dessa salada cultural é tão impressionante que chamou a atenção do pernambucano Naná Vasconcelos, considerado um dos melhores percussionistas do mundo. O Cordel convidou Naná para produzir o primeiro disco da banda.

   O disco foi lançado oficialmente em fevereiro deste ano, no teatro Parque do Recife. A banda, que ainda não assinou contrato com nenhuma gravadora, custeou todo o projeto. A primeira tiragem foi de 8 mil exemplares e está praticamente esgotada. (OV) (O POVO)

Cordel do Fogo Encantado se apresenta no Villa-Lobos

   Uma das grandes revelações musicais do país nos últimos tempos, o grupo Cordel do Fogo Encantado chega a Brasília para um show hoje, às 21h, na Sala Villa-Lobos. O grupo nasceu de um espetáculo teatral na cidade de Arcoverde, porta de entrada do sertão pernambucano.

   Seus cinco integrantes têm entre 18 e 24 anos e, em vez de seguirem os passos dos consagrados nomes do movimento manguebeat, se aprofundaram na pesquisa da arte popular nordestina ligada à música e à poesia. O som do grupo, essencialmente percussivo, reúne ritmos da região de Arcoverde, como o toré indígena, samba de coco de raiz, reisado e candomblé, integrados à tradição da poesia oral sertaneja e da literatura de cordel. (Correio Braziliense)

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