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Ladainha de Canudos

09/10/2002

 O baiano Gereba que se apresenta no sábado na Bienal

O cantor e compositor Gereba virá para o final da Bienal, lançar seu disco Sertão. O artista participa há mais de 20 anos dos shows à beira do açude Cocorobó, onde existiu o arraial de Canudos. Gereba é natural de Monte Santo, onde Conselheiro pregou e construiu.

   Um frade italiano peregrinava pelos sertões da Bahia quando viu a montanha íngreme faiscando ao céu. O capuchinho achou o lugar parecido com a Judéia, por onde Cristo pregou a palavra e sofreu a cruz. Monte Santo nasceu, a partir da escarpa pedregosa, sobre a qual se ergueram capelinhas votivas. Tempos depois por ali passou Antônio Conselheiro, a falar a palavra do Bom Jesus e erguer obras concretas: cemitérios, igrejas e lugares de devoção. A romaria ao Monte Santo continua ainda hoje, e povoou a infância do menino Winston Geraldo Guimarães Barreto, natural do lugar. Ele cresceu, ganhou apelido, danou-se na música. E nunca mais deixaria de cantar a saga de Canudos, pertinho dali.

   Gereba fez em agosto 57 anos, 40 deles dedicados à música, mais de 20 a entoar a história do povo do Belo Monte. ''Em 1997 lancei um disco chamado Canudos, lembrando o centenário da guerra. Agora eu retomo o tema, comemorando os cem anos de Os Sertões do Euclides da Cunha'', diz Gereba, por telefone, de São Paulo, onde mora. ''O disco vem com toda a alegria, é bem pra cima. Porque se não fosse essa obra, que completa cem anos, ninguém tava sabendo desse massacre. Os Sertões merece todas as comemorações, todas as festas. Coincidentemente, tem uma música que representa muito bem essa alegria, que é a alegria que a gente tem quando chove no sertão, um poema do Patativa do Assaré. Foi uma felicidade imensa ela sair nesse disco''.

   Além desta faixa, ''Festa da Natureza'', outro sertão também dá as caras, pela voz de Câmara Cascudo, autor do poema ''Não gosto de sertão verde'', que Gereba musicou. ''Vou lhe contar... Neste meu disco, todos os sertões estão juntos, foi meu disco mais bem realizado, não só tecnicamente. Comecei a fazer em novembro do ano passado, terminei em fevereiro''.

   Por feliz coincidência, Gereba, a mulher e o filho ficaram hospedados numa fazenda que já abrigou outro artista muito famoso e lhe inspirou um trio de personagens. ''Candinha me emprestou uma fazenda, chamada Graúna, a 40 km de Natal, a mesma que ela emprestou para o Henfil. Ele ficou lá um ano e tanto e criou o personagem Graúna, além de Zeferino e Bode Orelana. A minha intenção era fazer o disco em homenagem ao centenário de Os Sertões, mas eu não queria ficar restrito a Canudos, porque a nação é uma coisa só''. O disco tem 15 faixas e abre com uma parceria de Gereba e Bule Bule, repentista do Mercado Modelo de Salvador. Mas a primeira música do disco nasceu do sítio de Candinha, a faixa ''Graúna'', temperada pelos pios das aves do lugar.

   ''Minha ligação com Canudos é orgânica. Desde pequeno ouvia meu bisavô, meu avô, pessoas mais próximas. Vivi até meus 14 anos em Uauá, lugar do primeiro choque entre o povo do Conselheiro e os militares. A base central do musical que estamos fazendo em São Paulo, Sertão sertões são, é o seu Cândido, 83 anos, que vive lá em Monte Santo. O pai do seu Cândido tinha 17 anos no tempo da guerra, e tomava conta dos cavalos e dos mantimentos dos soldados nas quatro expedições. É uma história fantástica. Fiz um filmezinho com seu Cândido, em 97, base desse espetáculo''.

   ''Os mais entendidos, que querem saber a história de Canudos, ficam esperando eternamente que o Zé Celso Martinez Corrêa monte Os Sertões. Já está passando o centenário do livro e é bem capaz de a imprensa continuar dizendo assim, brevemente, em 2005, Zé Celso vai montar Os Sertões, de Euclides da Cunha, o espetáculo vai durar seis horas e tal. E não são capazes de se tocar que nós estamos com o primeiro musical sobre o livro. Só fizemos duas apresentações, teatrinho lotado e tudo, estamos doidos atrás de apoio que é pra rodar o norte-nordeste. Mas a gente não consegue''. Cenas do espetáculo podem ser conferidas no site do Gereba. Além do show de lançamento do disco (sábado, no estande da editora Paulus, às 19h, e domingo, às 20h30min, no auditório principal), Gereba vai conversar com o público. ''Vou contar essas coisas nossas... Tomara que, quando estiver aí, apareça Rosemberg Cariry, o Pingo de Fortaleza, meus amigos Fagner e Nelson Augusto''. (Eleuda de Carvalho)


SERVIÇO:
Sertão
- Mais recente disco do cantor e compositor baiano Gereba. 15 faixas. Paulus. R$ 20,00. Lançamento no sábado, dia 12, às 19 horas, na Estande da Paulus, na 5ª Bienal Internacional do Livro do Ceará.

(© NoOlhar.com.br)

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