Notícias
Manuel Correia dá prova de vitalidade

24/10/2002

 

Historiador e geógrafo pernambucano comemorou seus 80 anos autografando mais duas obras – a biografia de Pereira da Costa e um depoimento autobiográfico

DIANA MOURA BARBOSA

   O professor e pesquisador Manuel Correia de Andrade foi protagonista de dois grandes eventos na Fundação Joaquim Nabuco. Um deles, o lançamento de um livro de sua autoria, Pereira da Costa: O Homem e a Obra. O outro, a comemoração de seu aniversário, celebrado com uma extensa programação.

   Correia de Andrade é um dos pesquisadores que mais se dedicou à divulgação do trabalho do historiador Francisco Augusto Pereira da Costa, que nasceu em 1851 e teve uma produção intensa até o início do século 20. Intelectual interessado na investigação do passado, Pereira da Costa deixou um enorme arquivo de livros, artigos, ensaios e outros textos, todos manuscritos, disponíveis no Arquivo Público Estadual. Essa produção revela a riqueza e a versatilidade do seu pensamento. Investigava assuntos tão variados quanto a diversidade do folclore regional e a importância do Estado de Pernambuco no contexto da federação. Em outros ensaios, discorreu sobre a ilha de Fernando de Noronha e o Estado do Piauí, defendendo que fosse reanexado a Pernambuco. Por isso, resumir seu pensamento num livro não é tarefa fácil e não é à toa que foi encarregada a Correia de Andrade.

   “Já venho pesquisando a obra de Pereira da Costa há 50 anos, para as minhas aulas, de modo que tenho um vasto arquivo sobre ele. Revelar os seus escritos para as novas gerações é algo da maior importância. O valor dele é tão grande, que foi reconhecido ainda em vida, por seus contemporâneos”, explica o professor. Correia de Andrade comenta ainda que a Cepe pretende editar toda a obra de Pereira da Costa. “A idéia, por enquanto, é só um projeto. Se for levada adiante, será um trabalho exaustivo que precisará de uma equipe de 15 pesquisadores ligados à cultura popular, antropologia, sociologia, lingüística e história, entre outras áreas. O resultado teria que ser dividido em 36 volumes”, antecipa.

   O professor destaca que estudar sobre Pereira da Costa, atualmente, seria uma excelente maneira de dar mais fôlego a temas como a valorização do Estado pernambucano no cenário nacional. Apesar de não ter cultivado muitas polêmicas, algumas de suas idéias geraram embates à época da publicação dos textos. Ele, por exemplo, defendia os holandeses, que acreditava ter feito muito pelo Estado. Também criticava o que chamava de “mutilação” de Pernambuco: o desmembramento de Alagoas e da Comarca de São Francisco, que deixaram de fazer parte do território do Estado depois da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, respectivamente. “Seus textos sobre esses assuntos chegam quase a defender um separatismo entre Pernambuco e o resto da federação. Ele se queixava muito pelo Estado não receber o que julgava ser sua merecida importância nacional”, revela Correia de Andrade.

   Entre outros temas caros ao historiador, estão a lingüística – numa pesquisa sobre a especificidade do falar pernambucano – e a cultura popular. Suas incursões pelo folclore mereceram elogios de Câmara Cascudo. Para Correia de Andrade, Pereira da Costa ainda tem o mérito de ter pesquisado muitos documentos e em vários arquivos. “Há documentos que ele registrou e que se perderam. Então, suas anotações são a única fonte para se pesquisar certos dados históricos.”

   Além do lançamento de Pereira da Costa: o homem e a Obra, a Fundação Joaquim Nabuco também promoveu duas mesas-redondas e uma exibição de vídeo em homenagem aos 80 anos de Manuel Correia de Andrade, um dos pesquisadores mais importantes que já atuaram na Universidade Federal de Pernambuco e na Fundação Joaquim Nabuco.

   Atuando com igual desenvoltura nas áreas de história e geografia, Correia de Andrade se tornou uma refrência internacional para os temas que pesquisa, sendo convidado para ministrar vários cursos em universidades de todo o País e do exterior. Sua obra é debatida por nomes como Tânia Bacelar (UFPE), Maria Adélia de Souza (USP), Edvânia Torres (UFPE), Pedro Vasconcelos (UFBA), Luiz Sávio de Almeida (UFAL), Antônio Carlos Robert de Moraes (USP) e pelo filho de Correia de Andrade, o também pesquisador Joaquim Correia de Andrade (UFPE).

Jornal do Commercio)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind


Google
Web Nordesteweb