12/11/2002
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Grandes nomes da
MPB, como Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, se reuniram para
fazer uma homenagem a um dos maiores compositores nordestinos, o Capiba, num CD cuja renda
será revertida para o projeto "Natal Sem Fome", uma campanha criada há 10 anos
pelo Sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
O álbum chega às lojas nesta semana e representa o
último trabalho de Raphael Rabello, um dos maiores violonistas brasileiros, conhecido e
reverenciado internacionalmente, e que hoje teria 40 anos se estivesse vivo.
Cada um dos 11 clássicos compostos por Capiba foi
entregue a um grande nome da MPB. O cunhado de Rabello, o sambista Paulinho da Viola,
interpreta "Valsa verde".
A cantora baiana Maria Bethânia, que teve seu nome
inspirado numa das músicas de Capiba, a "Maria Bethânia", imortalizada pela
voz de Nelson Gonçalves, participa da coletânea com outra canção, "Cais do
Porto".
Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso e Ney
Matogrosso são outros artistas que estão no CD interpretando, respectivamente,
"Recife, cidade lendária", "Resto de Saudade", "Olinda, cidade
eterna" e "Serenata suburbana".
Alceu Valença, Milton Nascimento e a dupla João
Bosco e Paulo Moura são os outros músicos de peso que fazem parte das 11 produções do
disco.
Na faixa "Sino, claro sino", Milton
Nascimento aproveita pela primeira vez a voz do artista Rabello num dueto póstumo -- a
voz foi registrada no momento em que ele passava a letra da música para Nascimento.
O projeto, idealizado e produzido por Raphael
Rabello, acabou interrompido com a sua aos 32 anos e estava parado desde 1995, apesar de
Rabello ter deixado 90 por cento dele pronto. Foi sua irmã, Luciana, que retomou o
trabalho sete anos depois.
Além da luta contra a fome, organizada por Luciana e
pelo filho de Betinho na Campanha da Ação da Cidadania, o disco marca os cinco anos da
morte do sociólogo e de Capiba.
(Por Luiz André Ferreira, especial para a Reuters)
(© UOL Música)
Vozes da MPB afinam CD de Raphael
Rabello |
Projeto do violonista,
interrompido em 95, homenageia Capiba com interpretações de convidados como Chico e
Caetano
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO Projeto no
qual Raphael Rabello trabalhava quando morreu em 1995, aos 33 anos, o disco "Mestre
Capiba por Raphael Rabello e Convidados" foi ressuscitado. As fitas, que começavam a
oxidar, largadas numa estante do estúdio do violonista, precisaram de muitos banhos
químicos para desvendarem, após sete anos de esquecimento, o virtuoso violão que
acompanhava um naipe precioso de vozes da MPB cantando composições do pernambucano
Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904-1997), um dos maiores entre os compositores
de frevo.
O resultado é uma homenagem de Rabello às músicas
mais delicadas desse compositor -entre as quais não estão apenas frevos, mas sambas,
serestas e outras canções- por meio das vozes de Chico Buarque, Paulinho da Viola,
Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gal Costa, Maria Bethânia, Alceu Valença e Claudionor
Germano, o intérprete tradicional de seus frevos. Além das mãos e da voz de João Bosco
e do sopro de Paulinho Moura.
"Capiba fez parte de nossa infância. Raphael
teve mais um trabalho de escolha de repertório que de pesquisa. Capiba era amigo de nosso
avô José Queiroz Batista", conta Luciana Rabello, 41, irmã do violonista e
responsável pela retomada do projeto que se concretiza agora.
As dificuldades para completar o disco foram
principalmente de articulação. "Só quando contatei a Ação pela Cidadania é que
as coisas começaram a andar", explica Luciana lembrando que o CD faz parte do
programa Natal sem Fome desde que foi pensado.
Depois foi acertar o que o violonista planejara.
"Foi um processo de tentar lembrar as conversas que tive com meu irmão, pois ele
não deixava nada escrito."
Entre as faixas que comporiam o CD, "Sino, Claro
Sino" ainda não tinha voz quando o violonista morreu. Dela, Rabello deixou uma
gravação com violão na qual cantarolava a letra da música -a voz-guia. Para gravá-la,
descobriu-se que Rabello tinha pensado em Milton Nascimento.
"O Milton chegou ao estúdio de caso pensado.
Cantou apenas pedaços da música. Não me intrometi. No final, comentei que
precisaríamos regravar, ao que ele respondeu sorrindo "não faço mais nada, coloque
a voz-guia"." E estava registrada a primeira e única participação vocal de
Rabello. Em duo com Milton Nascimento.
O sucesso "Valsa Verde" foi gravado duas
vezes. Uma na voz de Paulinho da Viola e outra em registro instrumental. O pedido foi
feito pelo próprio Capiba a Rabello, que não pôde recusar. A valsa foi considerada a
música de apresentação do jovem Capiba, ao compô-la em 1932.
Ainda menino, esse filho do professor de música,
arranjador, clarinetista e violinista Severino Atanásio já se interessava pela música.
Mas foi por volta de 1934 que ganhou os carnavais com "É de Amargar", seu
primeiro frevo.
Aos 90 anos, Capiba foi conhecer as gravações em
que Rabello estava trabalhando. "Embora meu irmão tenha mantido as músicas como
concebidas, Capiba achou estranhos os vocais de João Bosco no samba "A Mesma Rosa
Amarela" [risos]", conta Luciana.
"Mas a única versão do disco, no sentido de
uma "releitura", a espanholada de Ney Matogrosso para "Serenata
Suburbana", não causou estranheza. Capiba disse que gostou do que ouviu."
Mas as novidades póstumas do violão de Rabello não
param em Capiba. Foram encontradas gravações do músico num estúdio americano que devem
virar disco no ano que vem. "Eles me chamaram para identificar algumas músicas que
meu irmão tinha deixado por lá", conta Luciana. "Encontrei-o tocando choros,
sozinho, ao estilo de seus primeiros discos." É esperar.
MESTRE CAPIBA POR RAPHAEL RABELLO E CONVIDADOS -
artista: vários. Lançamento: Acari Records/BMG. Quanto: R$ 19,90 (em média).
(© Folha de S. Paulo) |
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