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02/10/2001

Amor com trilha sonora de Chico César

Cena de ‘A Luz dos Olhos Meus’, peça inspirada num caso real

Ele criou canções para 'A Luz dos Olhos Meus', cujo tema é o namoro de um cego e sua guia

BETH NÉSPOLI

   Com seis composições criadas especialmente por Chico César, estréia no Teatro Brasileiro de Comédia a peça A Luz dos Olhos Meus, texto e direção de Eliézer Rollim e no elenco está seu irmão Lincoln Rollim e Patrícia Horta. E nesse fim de semana, no mesmo teatro, volta ao cartaz o infantil Anunciação, com texto e direção de Lincoln, espetáculo ganhador do Prêmio Panamco 2000 na categoria estréia.

   Por coincidência, os dois espetáculos falam de amor. A inspiração para A Luz dos Olhos Meus surgiu há dois anos, quandos os irmãos Eliézer e Lincoln participavam, no Nordeste, das gravações do filme O Baile Perfumado.

   "Estávamos numa rodoviária de Garanhuns, em Pernambuco, sem ter o que fazer, quando vimos um cego e uma mulher, sua guia, ele tocando um realejo e ela uma viola de plástico", conta Eliézer. "Nos aproximamos e quando a mulher saiu de perto por uns minutos, ele perguntou se ela era bonita, dizendo que 'arrumaram' ela para ele. A felicidade deles transbordava. Ambos estavam em estado de graça. Eram pessoas sozinhas e alguém resolveu juntá-los. Eles não tinham nada, mas tinham tudo. Estavam felizes de terem um ao outro", diz Lincoln.

   Esse encontro foi o ponto de partida para o espetáculo que estréia esta noite. A história do cego Quinô (Lincoln) que vive só num casebre depois de uma longa separação da esposa, que o traiu. Subitamente, chega a sua casa Candinha, trazendo uma carta da ex-mulher, uma carta de perdão. Começa aí uma relação entre Quinô e Candinha, cheia de arestas de início. "Ele é grosseiro e resmungão com ela que já gostava dele há alguma tempo", diz Lincoln. Quinô perdera a confiança nas mulheres, confiança aos poucos recobrada pela atitude de Candinha. Aos poucos, a rudeza vai cedendo lugar à ternura.

   "O texto é muito bonito. O mais difícil foi fazer o olho do cego. Foi um longo exercício", comenta Lincoln. O cenário remete a um casebre, mas é feito de nichos, onde estão depositados os mais diversos objetos, imagens de santos entre eles. "Cegos guiam-se pelo tato, então achamos legal criar paredes para serem tocadas, com sua organização muito particular."

   Fácil mesmo foi conseguir a participação de Chico César. Afinal, ele e os irmãos Rollim cresceram em cidades vizinhas na Paraíba. A amizade entre eles começou na infância e consolidou-se mais tarde, quando estudavam em João Pessoa. Eliézer é ainda o autor da adaptação do texto de Vau de Sarapalha para o Grupo Piollim. Afinado com esses artistas, Chico César assistiu aos ensaios e compôs uma trilha que, segundo Eliézer, contribuiu intensamente para a beleza e dramaticidade do espetáculo.

   Assim como A Luz dos Olhos Meus, o infantil Anunciação conta uma história de amor, mas numa linguagem bem diferente. "Aqui a linha é mais para o folhetim circense", diz Lincoln. O casal em Anunciação é formado pelos palhaços Carlão e Fiorina. "Na tradicional dupla de palhaços os números têm pontapé na bunda, um palhaço dominador e outro que obedece, além de tapas e socos.

   E, dificilmente, tem mulher palhaço nesse história", observa o diretor. O humor nos números de Carlão e Fiorina surge justamente do namoro entre eles, namoro puro, quase platônico, com o qual as crianças se identificam e se encantam. (© O Estado de S. Paulo)


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