Um grande encontro: Graciliano Ramos e
Clarice Lispector, dois expoentes da literatura brasileira, emprestam vida e
obra a uma programação cultural neste outubro. O Chão de Graciliano
(exposição de documentos, livros, objetos pessoais e fotografias) e o
seminário Diálogos do Silêncio (organizado por universidades
de Fortaleza) são o destaque
Jornalismo e literatura há muito se paqueram. E a exposição O
Chão de Graciliano é mais uma prova de que esse romance tem tudo
para dar certo. Idealizar a mostra que reconta vida e obra do autor de
Vidas Secas, a partir de documentos e imagens, foi como escrever
uma notícia. ''A exposição tem um lead - em que juntei tudo o
que diz respeito a Palmeira dos Índios, onde Graciliano foi revelado como
escritor. Depois, passo para Vidas Secas - o centro da obra,
até pela temática que é nordestina, sertaneja. A gente passa também pelos
dois romances de fundo psicológico, Angústia e São
Bernardo, e, finalmente, chegamos em Infância - que é
o autobiográfico'', descreve o jornalista alagoano Audálio Dantas, curador
da exposição. A mostra é aberta ao público de Fortaleza amanhã; em cartaz,
no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN).
Segundo Audálio Dantas, O Chão
de Graciliano vem de um projeto de um livro homônimo, no qual se
juntariam fotografias e textos alusivos a Graciliano Ramos (1892-1953).
''Transformei o livro numa exposição'', resume, acrescentando o pedido do
Sesc Pompéia (São Paulo) em fazê-lo (a exposição esteve primeiro lá, entre
janeiro e março). Documentos, livros e objetos pessoais foram reunidos a
partir dos acervos do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de
São Paulo e do Museu da Casa de Graciliano Ramos (em Alagoas).
Além deles, um ensaio fotográfico do
cearense Tiago Santana. Registros dos municípios alagoanos de Quebrangulo
(cidade natal do escritor), Buíque (quintal da infância), Viçosa (onde
passou a adolescência) e Palmeira dos Índios (onde o prefeito se tornou
autor de Caetés, Angústia, Vidas Secas
e São Bernardo). ''Percorremos a região em novembro do ano
passado. Esse ensaio mostra duas coisas. O Graciliano, que foi muito
econômico na escrita, sem adjetivação quase e que tinha o homem como centro,
e o Tiago conseguiu traduzir isso de maneira extraordinária porque a
paisagem fica como pano de fundo e só. E mostra também que as condições
daqueles personagens praticamente não se alteraram naquele pedaço de chão.
Há, claro, alguns sinais modernos da tecnologia, algum automóvel... Mas, se
você sair da estrada, você encontra Graciliano inteirinho'', conta Audálio
Dantas.
Leitor de Graciliano Ramos, além de
seu conterrâneo, Dantas aposta no romance entre jornalismo e literatura.
''Acho que todo jornalista deveria ler Graciliano ao menos pela forma de
escrever um texto mais enxuto''. Apaixonado também pela temática brasileira,
em primeira mão anuncia: está preparando algo parecido com a exposição
O Chão de Graciliano, tendo Rachel de Queiroz como mote. Dantas
já entrou em contato com a irmã da escritora cearense, Maria Luíza, a fim de
reunir o máximo de documentação sobre dona Rachel.
Numa programação
paralela, a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade de Fortaleza
(Unifor) e a Universidade Estadual do Ceará (Uece) organizam o II
Seminário Interuniversitário: Diálogos do Silêncio. Em debate (e em
cena, através de apresentações culturais), vida e obra de Graciliano Ramos e
Clarice Lispector. De acordo com Célia Felismino, coordenadora do Curso de
Letras da Unifor, o seminário foi pensado sob pretexto dos 50 anos de morte
de Graciliano e dos 30 anos de publicação do livro clariceano Água
Viva. Aberto ao público, mediante inscrições, tem abertura amanhã e
segue até sexta-feira.
GRACILIANO + CLARICE
Além da exposição O Chão de Graciliano, durante este mês, o
Centro Cultural Banco do Nordeste oferece uma programação paralela que tem
Graciliano Ramos e Clarice Lispector à frente:
Sexta-feira (17)
A peça Solo de Clarice é a atração do projeto Ato Compacto (ao
meio-dia, às 15h30min e às 18h30min. Grátis). A montagem é uma reunião de
trechos dos livros Água Viva, Laços de Família e
A Hora da Estrela. Direção: Graça Freitas.
Segunda-feira (20)
O programa Imagem em Movimento exibe a série ''O cinema de Clarice e
Graciliano''. Em cartaz:
São Bernardo (meio-dia) - de Leon Hirszhman, conta a história
de Paulo Honório (vivido por Othon Bastos), protagonista do romance homônimo
de Graciliano Ramos. Um homem obcecado pelo poder e que faz um mal negócio:
casa-se;
O Corpo (15h30min) - de José Antônio Garcia, é uma adaptação
do conto de Clarice Lispector. A comédia fala sobre bigamia, traição e
hipocrisia. No elenco: Antônio Fagundes, Marieta Severo, Claudia Jimenez e
Carla Camuratti;
Vidas Secas (18h30min) - de Nelson Pereira dos Santos, toma
como ponto de partida o romance homônimo e clássico de Graciliano Ramos. É
sobre uma família de retirantes, que atravessa o sertão em busca da
sobrevivência. À frente, Fabiano (Átila Iório, no cinema) e Sinhá Vitória
(Maria Ribeiro).
Segunda-feira (27)
Em mais uma edição do programa Imagem em Movimento, a série ''O cinema de
Clarice e Graciliano'' reprisa São Bernardo (15h30min) e
O Corpo (18h30min). Ao meio-dia, um bônus:
A Hora da Estrela - de Suzana Amaral, traz Marcélia Cartaxo na
pele da nordestina Macabéa, ''moça feiosa e ignorante que migra para a
cidade grande e, entre o amor desengonçado pelo conterrâneo Olímpio (José
Dumont), a amizade pela colega Glória (Tamara Taxman) e as consultas à
cartomante Carlota (Fernanda Montenegro), cumpre uma vida como outra
qualquer''.
A abertura do seminário Diálogos do Silêncio: Graciliano Ramos e
Clarice Lispector acontece quarta-feira (15), com a seguinte
programação (no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura):
- 17h30min: distribuição de material e credenciamento;
- 18h30min: abertura oficial;
- 19 horas: apresentação do espetáculo da dança contemporânea Vozes do
Diálogo. O espetáculo foi concebido a partir dos livros Água
Viva (de Clarice Lispector) e Angústia
(de Graciliano Ramos). Direção: Andréa Bardawil. Pesquisa de movimentos: a
Turma (Yochabel Moitas, Sylvia de Sousa, Tatiana Chaves, Luisa Helena savir,
Fátima Souza, Moanoel Moacir e Joubert Arrais);
- 20 horas: conferência de abertura ''Viver-escrever o silêncio. Modos de
usar de Clarice Lispector (livros feitos por destroços de livros)', com o
professor Renado Cordeiro Gomes (da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro/PUC-RJ);
- 22 horas: apresentação do Coral do Curso de Letras da UFC.
SERVIÇO:
O Chão de Graciliano - documentos, livros, fotografias e objetos
pessoais recontam a vida e a obra de Graciliano Ramos. Curadoria: Audálio
Dantas, jornalista. Fotografia: Tiago Santana. A exposição será aberta
amanhã (15), às 20 horas e permanece em cartaz até o final de novembro. No
Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro),
visitação gratuita de segunda-feira a sábado. Informações: 488.4100.
II Seminário Interuniversitário Diálogos do Silêncio
-programação envolvendo mesas-redondas, conferências, lançamentos de livros
e apresentações culturais. Inscrições: R$ 10,00, nas secretarias dos cursos
de Letras da UFC (288.7617), Uece (272.8791), Unifor (477.3370) e FGF
(299.9900).