O cantor revisita sua carreira
multifacetada no CD e DVD 'Ao Vivo em Todos os Sentidos'
ADRIANA DEL RÉ
O cantor e compositor Alceu
Valença tem mais coletâneas do que realmente gostaria de ter. Mesmo
porque grande parte delas, segundo o cantor pernambucano, não leva sua
marca. "Existem muitas coletâneas minhas e, para elas, eu não sou
consultado", reclama ele. "Então, misturam alhos com bugalhos." A
resposta do compositor é seu novo CD e DVD, Alceu Valença - Ao Vivo em
Todos os Sentidos, lançado pela Indie Records.
O álbum é uma espécie de
coletânea autorizada. Afinal, foi Alceu quem escolheu cada uma das
canções, que contemplam todas as facetas de seus 30 anos de estrada. Ou
melhor, quase todas. O forró ficou de fora, apesar de o gênero já ter
sido amplamente explorado em recentes CDs do cantor: Forró de Todos os
Tempos (1998), Sertanejo e Forró (98) e Forró Lunar (2001).
"Eu nunca tinha feito um disco que tivesse todas essas matrizes: músicas
que são uma fusão com o rock, com o blues; canções urbanas, que falam
sobre cidade grande; o maracatu; os frevos com orquestra", comenta.
"Neste disco, apesar dessa diversidade de composições, timbres e
maneiras de cantar, existe uma conexão de uma música para outra. Existe
um sentido harmônico no geral." É o que o compositor gostaria que outras
coletâneas suas, as não autorizadas, tivessem.
A miscelânea não causa surpresas. Alceu Valença é um cantor de muitos
ritmos, gêneros e espetáculos. Ele se gaba em dizer que possui quatro
tipos de shows, que são tirados da manga de acordo com o lugar onde se
apresenta.
No projeto Ao Vivo em Todos os Sentidos, Alceu exercita toda esse
ecletismo que lhe é peculiar numa gravação realizada em um único dia, no
Espaço Fundição Progresso, no Rio, com platéia e tudo mais. O resultado
é um CD que reúne 20 faixas, a maioria de grandes sucessos como Bicho
Maluco Beleza, Perdeu o Cio, Tropicana (Morena Tropicana), Estação da
Luz e Como Dois Animais. No DVD, há mais músicas.
Filme - Não é o primeiro álbum ao vivo com a marca Alceu Valença,
mas é o primeiro DVD, com cenas de bastidores, faixas bônus e todos os
outros extras que tem direito. A idéia do DVD veio primeiro que o álbum
homônimo. Certo dia, o presidente da Indie Records, Liber Gadelha,
resolveu procurar Alceu Valença, após vê-lo destilar sua irreverência
num programa de televisão. Gadelha ficou sabendo também que o músico
arrastava multidões para seus shows, inclusive muita gente jovem.
Gadelha disse a Alceu que queria conversar. Mesmo escaldado com as
gravadoras, o compositor pernambucano, dos cabelos compridos, sorriso
fácil e forte sotaque de São Bento do Una (cidade onde nasceu), quis
saber o que Gadelha tinha a lhe oferecer.
O proprietário da Indie propôs, então, um registro de seu show,
assumindo todos os riscos e prejuízos caso o músico não gostasse do
resultado. "Ele me deu as condições todinhas para gravar o CD e o DVD.
Achei que DVD não ia dar tempo", diz Alceu. Não houve ensaios, nem
platéia especialmente convidada para a ocasião. "Mas na hora H saiu o
DVD. Quem esteve na Fundição viu: gravamos direto, uma loucura total."
Além do projeto ao vivo, Alceu tem em contrato com a Indie mais um CD,
desta vez de inéditas, para o qual o compositor diz já ter músicas
prontas.
Não é novidade para ninguém que Alceu Valença sempre manteve uma relação
complicada com as grandes gravadoras. A razão? A vontade de quererem
direcionar sua carreira. "Essas gravadoras pediam para eu gravar tal
canção e eu não gravava. Por causa disso, minhas músicas não iam para a
rádio", conta. "E quando elas me tiravam da rádio, eu ficava rindo,
porque eu ia para as ruas fazer meus shows e adquiri um público de mais
de 1 milhão de pessoas por ano."
Para evitar aborrecimentos, há
cerca de cinco anos Alceu Valença lança seus discos por selos
independentes. No ano passado, ele lançou nas bancas seu 26.º
disco-solo, De Janeiro a Janeiro (pelo seu selo Tropicana), que veio
encartado numa revista de música. Agora, com este trabalho ao vivo,
Alceu se prepara para a turnê com o novo formato de show.
Além disso, o músico aguarda ansiosamente a resposta do Ministério da
Cultura. Explica-se: Alceu enviou ao MinC o roteiro de um filme, escrito
por ele, todo em verso e com diálogos rimados, com o título de Cordel
Virtual.
Caso seja aprovado, ele poderá começar a captar recursos por meio de
leis de incentivo. "É um musical, tem uma história ficcional. Tem um
artista, que pode ser eu ou não", diz Alceu, que prefere não dar mais
detalhes sobre o assunto. Pelo menos, não por enquanto.
(© O Estado de S.
Paulo) |