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08/11/2003
Tocadora de pífanos pernambucana, radicada na Paraíba, lança CD e é uma das maiores atrações do Brincantes JOSÉ TELES “Eu nasci no agreste (sic) de Buíque, Pernambuco, no dia 12 de janeiro de 24. Tô com 79 anos”, diz dona Isabel Marques da Silva, mais conhecida como Zabé da Loca, moradora do assentamento Santa Catarina, em Monteiro, Paraíba. Durante 25 anos, ela viveu numa gruta, formada por duas grandes rochas, fechadas com paredes de taipa, no sítio Tungão, a 19km de Monteiro. O apelido veio desta maneira inusitada de habitação, a “loca” (gruta). Mesmo que houvesse passado toda a existência numa casa de alvenaria, feito que a Prefeitura doou a ela, no assentamento Santa Catarina, Zabé da Loca acabaria sendo reconhecida por sua arte. Ela é uma exímia tocadora de pífano, instrumento que aprendeu ainda criança. Ao longo dos anos, trabalhou na lavoura e tocou com vários grupos. Viúva, com três filhos, Zabé da Loca lidera seu próprio grupo, formado pelo filho Beiçola (pífano), e os amigos e vizinhos, Setenta (caixa), Mestre Livino (prato) e Pinto (zabumba). O talento de Zabé da Loca pode ser confirmado hoje, à noite, na Praça do Marco Zero, no projeto Brincantes – A Energia da Cultura Popular, e com a música que registrou no CD, que ela recebe antes do show, numa homenagem que terá participação do Quinteto Violado e do Secretário do Reordenamento Agrário, Eugênio Connoly. O disco é o primeiro da série Cantos do Semi-Árido, realizado pela Fundação Quinteto Violado (FQV), com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Projeto Dom Hélder. A FQV retoma o projeto da extinta gravadora Marcus Pereira, que, no dos anos 70, mapeou a música brasileira e a registrou em quatro álbuns duplos. “Não será exatamente igual, porque neste projeto somente os artistas cantam. O Quinteto Violado não participa das gravações”, diz Toinho Alves. Esta será também a estréia oficial de Zabé da Loca em disco (antes, ela havia gravado em João Pessoa, uma produção artesanal, que resultou num CD de distribuição reduzida). Toinho Alves, conta que em vez de trazê-la para um estúdio no Recife, no qual a “pifeira” dificilmente iria sentir-se à vontade, levaram um estúdio móvel até o cariri paraibano, a fim de que o trabalho ficasse o mais fiel possível ao original. O disco contém 14 faixas, só uma delas não instrumental (uma novena de São José). É um som que lembra os ternos de pífanos, porém com ritmo mais pesado, e andamentos e melodias mais variadas nos sopros. Zabé da Loca e seu grupo fazem uma música ao mesmo tempo pura e visceral, que, finalmente tem alcança um público maior.
(© Jornal do Commercio) Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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