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Caetano Veloso solta e prende a molecada em "A Foreign Sound"

05-06-2008

 

Músico segue com ingressos a R$ 500 e casa lotada; temporada dá destaque a standards norte-americanos

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

   O fim de semana é a segunda e talvez última oportunidade para (não) ver Caetano Veloso pré-estrear em caráter de pequeno circo íntimo, em São Paulo, seu próximo disco e show, "A Foreign Sound".

   O seleto ambiente do Baretto, no hotel Fasano, tem todos os lugares já reservados para as quatro apresentações programadas para hoje e amanhã.

   Talvez Caetano prorrogue a minitemporada até o próximo final de semana. Caso isso aconteça, você precisará desembolsar R$ 500 para se candidatar a espectador.

   Caetano é o homem que há três décadas e meia vem sistematicamente fazendo o contrário do que diz, falando o contrário do que faz. Atravessou os anos 90 defendendo a axé music, enquanto cantava e gravava finas estampas chiques em espanhol e, agora, inglês.

   Vai aos standards norte-americanos justamente quando o Brasil começa a adquirir, sob Lula, tensa identidade nacional, nacionalista. Faz o estrangeiro do "Estrangeiro" (89), no início do século que, em 1986, ele mesmo afirmava que ia ser o século do Brasil.

   Dizia isso em seu filme "Cinema Falado", que será relançado em DVD nos próximos dias. Nos extras do DVD, seu filho Moreno aparece ao seu lado dizendo que, em casa, o pai musical critica tudo, não gosta de nada.

   Na entrega dos prêmios da MTV deste ano, em agosto, Caetano estranhou a fala do filho (que não conhecíamos ainda). Disse que, engraçado, vive dizendo que gosta de tudo -até de axé, Sandy, essas coisas todas.

   Pois Moreno, ao lado dos amigos moleques Domenico Lancellotti (caixa, pratos, tamborim e MPC) e Pedro Sá (guitarra e violão), é um dos eventos do show de finuras musicais de Cole Porter, Richard Rodgers, Eden Ahbez e que tais, que você (não) vai ouvir neste fim de semana.

   Moreno fica no pandeiro e no timbau, mas também no violoncelo, instrumento que definiu a sonoridade caetânica dos 90 pelos dedos de Jaques Morelenbaum.

   Mas o filho de Caetano toma-o, não de Morelenbaum, e sim dos primórdios musicais do maestro Rogério Duprat, homem que definiu o som do melhor de Caetano (a tropicália), mora em São Paulo e nunca mais dialogou com seu mais esforçado discípulo.

   O encontro intimista de Caetano com seus filhos, após anos de sufoco, ainda é plena indefinição. Se por um lado eles modernizam "Baby" (68), por outro não têm muito por onde voar em clássicos belos e arrastados como "Cry Me a River", "I Only Have Eyes for You", "Sophisticated Lady"...

   Essa última é, ainda assim, pequeno ápice de um show ainda morno -mesmo que Caetano a acompanhe da bravata de que cantá-la é uma ousadia, que ele antes não teria coragem de cometer. Esquece-se de que já a gravou, em dueto rascante com Elza Soares, na época de "Cinema Falado".

   Não é o melhor do show, entretanto. O melhor está na corrupção da voz grave de Elvis Presley em falsetes em "Love Me Tender". Na convicção e no vigor com que Caetano tradicionaliza "Come As You Are", do Nirvana. Em "Baby" (Caetano) casada com "Diana" (Paul Anka). Está no pop.

   Sobretudo, está no espírito ultrakitsch de "The Carioca", em que Caetano adere de modo tropicalista às cafonices que tanto gosta de louvar, despido de diáfanas estampas finas e de frias mesuras ao público de R$ 500.

   Deve ser por essas e outras que adentra o século do Brasil cantando em inglês, embaixador da subtropicália nas terras de Osama e de Bush. Caetano, 61, ainda não deixou de se sentir estrangeiro.

Caetano Veloso
Onde: Baretto (Hotel Fasano, r. Vitório Fasano, 88, tel. 0/xx/11/3896-4000)

Quando: hoje e amanhã, às 21h e 23h
Quanto: R$ 500 (ingressos esgotados)

(© Folha de S. Paulo)

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