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05-06-2008
CD reúne versões de famosos para composições do parceiro de Gonzagão
Júlio Cavani
É difícil
encontrar um brasileiro que não saiba cantar pelo menos um verso de uma
música de Zé Dantas, apesar de nem todos conhecerem o nome do autor de
Xote das Meninas. Ele foi um dos principais parceiros de Luiz Gonzaga,
responsável por alguns dos maiores sucessos do Rei do Baião, cada vez mais
confirmados como eternos. Para celebrar e divulgar o nome do compositor e
mostrar como ele foi importante para a música brasileira, sua viúva
Iolanda Dantas teve a idéia de reunir em um CD algumas das várias versões
que cantores famosos fizeram de suas canções. O projeto está sendo
concretizado com o disco Todos Cantam Luiz Gonzaga e Zé Dantas, lançado
pela Som Livre. (© Pernambuco.com) Sanfoneiros do Sul e do Nordeste Discos do esquecido catarinense Pedro Raimundo e do inesquecível Gonzagão exibem a verve instrumental de suas regiões Tárik de SouzaEra um espanto, o gaúcho (na verdade, catarinense) pilchado (de bombachas, bota, esporas, guaiaca, chapéu e lenço no pescoço) como um vaqueiro das coxilhas, em pleno auditório da Rádio Nacional - a Rede Globo da época - em 1943. Pedro Raimundo, seu nome, foi levado para a emissora pelo cantor, compositor e produtor Almirante e impressionou o pernambucano de Exu, que tocava sua sanfona e passava o pires na zona do meretrício no Mangue, entre valsas, choros, polcas e serestas. Esse outro, Luiz Gonzaga, espelhou-se no sulista para montar sua indumentária também típica. À base de gibão de couro e chapéu de cangaceiro nascia o rei do baião, que se transformaria no maior fenômeno do incipiente mercado brasileiro entre o final dos 40 e começo dos 50, com um impacto de vendas proporcional ao provocado pelo rei do rock Elvis Presley nos EUA, meia década depois. Pitacos dessa curiosa história saltam de dois lançamentos recentes do selo especialista Revivendo, de Curitiba. Uma rara compilação do hoje esquecido Pedro Raimundo (Saudade de Laguna) e outra do sempre evidente Luiz Gonzaga (Despedida) capturam os ritos de passagem dos sanfoneiros - um do Sul e outro do Nordeste. Além da sanfona, outro ponto em comum entre os dois era o repertório instrumental. Atestando que o choro transformou-se em linguagem nacional, Pedro Raimundo já estreou em disco, em 1943, com um de sua autoria Tico-tico no terreiro. A despeito do título evocativo do clássico Tico-tico no fubá (do paulista Zequinha de Abreu), de 1931, o de Pedro tem sotaque gaúcho como o veloz e acidentado De galho em galho e o sambado Manhoso. Na pele de instrumentista, ele também incursiona no vizinho tango (Lamentos), na valsa (Contigo no pensamento) e na rancheira Mexeriqueira. Antes de conseguir convencer os executivos de sua gravadora de seus dotes vocais, o sanfoneiro Luiz Gonzaga também atacou de choro (Bolo mimoso, 1945), valsa (Despedida, 1944, Marieta, 1946), polca (Impertinente, 1945, De Juazeiro a Pirapora, 1946), boa parte de sua autoria. Depois, cada um mergulhou na música de seus pagos. Nascido em Imaruí, SC, Pedro Raimundo (1906-1973) estourou logo de saída com o schottisch dele Adeus Mariana, de refrão colante e versalhada, mais falas e interjeições no miolo. Sua fama chegou ao cinema em filmes como Uma luz na estrada (Alberto Pieralise, 1949) e Natureza gaúcha (Rafael Mancini, 1958), mas, embora tenha alcançado sucesso com o epíteto ''o gaúcho alegre do rádio'', não conseguiu implantar seu projeto regionalista com a profunda perenidade e amplitude de Gonzaga. Culpa da pouca maleabilidade de toadas (O carreteiro, Flor brasileira, 1944), schottish (aportuguesado para xote, com seu correspondente nordestino), como Se Deus quiser (1943), e rancheiras (Meu cavalo parelheiro, Morena faceira, 1944, Gauchinha, 1945) de letras fechadas num universo quase esotérico? Ou da pequena imigração gaúcha para os grandes centros, ao contrário do cisma que espalhou nordestinos por todo o Sudeste? Questões para a sociologia e os musicólogos. Não falta domínio de seu tema a Pedro Raimundo, como em Gaúcho largado, crônica de malandragem pampeira, ou traquejo para o sucesso, como na polquinha Adeus moçada, de 1944. O arsenal de opções estéticas de Luiz Gonzaga (1912-1989) soa mais rico. E ele utilizou o máximo de recursos, demonstra a antologia Despedida. Tanto proclamou o reinado do baião em A dança da moda (com Zé Dantas), de 1950, quanto sua derrocada, através da lira de João do Vale (e Sebastião Rodrigues) em Pra onde tu vai baião, de 1963 (''Nos clubes e nas boates/ não me deixam mais entrá/ é só twist, bolero, rock e cha cha chá''). Fustigou os políticos no misto de coco e baião Comício do mato (1957), deplorou o automóvel na linda toada baião Estrada do Canindé (com Humberto Teixeira), de 1950. Lançado por ele em 1951, o Baião da Penha, de Guio de Moraes e David Nasser, foi regravado tanto por Caetano (Circuladô de Fulô, 1991) quanto pelo ministro Gil (Eu tu eles, 2002). Na exaltação à praia paraibana Tambaú (de Severino Araujo e Silvino Lopes), de 1977, Gonzaga, inventor do minimalismo de sanfona, zabumba e triângulo, aproxima-se do estilo big band. No raro Rei bantu (parceria dele com Zé Dantas, de 1950), ele descortina o universo do maracatu, matéria-prima do movimento mangue beat, 40 anos depois. Quem antecipa, fica.(© JB Online) Dominguinhos pede ajuda a Gil para manter Memorial Luiz Gonzaga
Diário do Nordeste
(©
O Globo Online)
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