05-06-2008
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Pupillo, baterista da
Nação Zumbi e produtor |
Baterista e produtor fecha ano como um dos
personagens mais importantes da cena musical do Estado
Luciana Veras
Da equipe do DIARIO
Ele é
baterista da Nação Zumbi, a banda pernambucana eleita, pelo público que
freqüentou o Abril pro Rock, o Curitiba Pop Festival e o Tim Festival, e
por gente como Caetano Veloso, o melhor grupo brasileiro; é um dos
idealizadores e dono do selo Candeeiro Records, que lançou o Contraditório
de DJ Dolores e Orchestra Santa Massa e Baião de Viramundo; é co-produtor
de Sem Gravidade, Condom Black e Samba pra Burro, os três discos de Otto,
e de O Outro Mundo de Manuela Rosário; é DJ ocasional, toca na Los Sebozos
Postiços, gravou uma faixa no novo CD de Fernanda Abreu e prepara, para
2004, o lançamento de duas coletâneas. Ah, ele também foi convidado pelo
mesmo Caetano que teceu loas à Nação para participar de uma faixa de A
Foreign Sound, álbum com regravações que o cantor lança em março próximo.
A música? "Uma de Bob Dylan. Desculpa, mas não lembro o nome", diz
Pupillo.
OK, o cara que herdou o apelido do amigo que
lhe dava aulas de bateira ("me apresentava na noite como seu pupilo",
relembra) e que tocou noZaratempô, na Santa Boêmia e no Conservados em
Formol pode não recordar o título da música em que ele gravou "bateria e
uns canais de caixa", mas sabe como, por que e quando isso ocorreu e o que
aconteceu, nos seus 29 anos de vida, para que em 2003 ele se tornasse um
bem colocado e poderoso peão no tabuleiro da música pernambucana, para não
dizer brasileira. "Tudo é em função da banda, do respeito que a gente
conquistou. A gente se utiliza disso para realizar e dar continuidade a
nossos projetos legais", explica Romário Menezes de Oliveira Junior, pai
de Camila, 8 anos, batera da Nação desde antes das gravações de
Afrociberdelia.
Pupillo, alcunha antes grafada com um único
"L" e alterada não por sugestões numerológicas e sim "porque os dois Ls
pareciam um par de baquetas", reconhece que 2003 foi uma temporada que lhe
consolidou como instrumentista e produtor. Não se gaba ou vangloria, muito
pelo contrário; frisa, a todo instante, a participação da banda nesse
momento de sua vida e dos companheiros - Jorgedu Peixe, Lúcio Maia,
Alexandre Dengue, Toca Ogan, Gilmar Bola 8, Marco Matias e Da Lua - nos
projetos paralelos. "Tudo isso, na verdade, vem muito de Chico Science,
que era um cara com um leque aberto para tudo e sempre deu coragem para
expandirmos. A idéia de fazer um selo, por exemplo, era dele. Depois do
acidente, resolvi fazer mesmo, me juntei a Marcelo (Soares, sócio do
Candeeiro) e montamos o Candeeiro", lembra. "Os projetos de cada um a
gente discute, cada um dá idéia. É um aprendizado".
O baixista Dengue, por exemplo, é parceiro em
mais uma idéia que Pupillo desenvolve. Dividindo-se em Recife, Rio de
Janeiro e São Paulo, ele mora com Dengue e Rica Amabis, do Instituto, na
capital paulista, e com eles pensou num álbum "sexista", com marmanjos
escrevendo os versos a serem entoados por moçoilas. "A gente já adiantou
um bocado de coisa da parte rítmica, até porque moramos juntos, e chamamos
Otto, Xico Sá, Du Peixe e Fausto Fawcett para fazer as letras. Queremos
uma coisa bem sexista mesmo. Para cantar,já estão fechadas Bianca, do
Leela, Thalma de Freitas e Pitty", adianta.
Mauritzstad Dub, com versões de Mestre Salu,
Dona Lia de Itamaracá e a banda de Pífanos remixadas por ele e bambambans
como Kassin, Berna Ceppas e Apollo já está pronto, a sair pela chancela do
Candeeiro no primeiro semestre de 2004, junto com o tal CD machista. Esses
três produtores são admirados por Pupillo, assim como Scott Hard (que
mixou Nação Zumbi), Mario Caldato, Tom Capone. Como baterista, ele tira o
chapéu para Wilson das Neves, "um dos mestres da bossa nova", que aprendeu
a apreciar já grande - quando guri e ainda brigando com o pai para ter sua
própria bateria, ele revela, não tinha um ídolo.
Agora, Pupillo não tem um "ídolo", e sim
amigos como os comparsas da banda e os parceiros a quem empresta ritmos e
idéias, o propósito de se aperfeiçoar como produtor ("tinha o sonho de
trabalhar com a Mundo Livre S/A, alcancei nesse último disco deles e quero
continuar trabalhando com esse tipo de som") e a admiração de muitos,
comoo mesmo Caetano que ligou-lhe no celular para convocá-lo. "Tava
rolando um boato chato de que a Nação não gostava dele e ficou um clima
ruim dos dois lados. Quando ele me ligou, pensei que era um convite para
toda a banda, mas não era, e aí aproveitei para passar a limpo essa
história", conta. Não só resolveu essa pendenga como reafirmou, perante o
autor de Transa e, apesar dos recentes pesares, um dos mais importantes da
MPB, seu cacife artístico.
(©
Pernambuco.com)
Momentos históricos em DVD
Quando
Caetano Veloso disse em Pernambuco que o novo disco da Nação Zumbi é melhor
do que os produzidos junto com Chico Science, ele não estava emitindo uma
opinião totalmente original só para causar polêmica. A partir do CD, lançado
no fim de 2002, o ano de 2003 se tornou um dos mais importantes da carreira
da banda, com shows lotados, prêmios, indicações importantes, elogios na
imprensa mundial e participações em grandes festivais, num período frutífero
que acabou coroado pela gravação do primeiro DVD do grupo.
Dezenas de câmeras registraram a performance da
grupo para o DVD, em um show gravado no DirecTV Music Hall em São Paulo,
mesmo lugar onde foi feito o especial do Planet Hemp. Além de mostrar a
banda ao vivo, o DVD inclui entrevistas, videoclipes e um documentário sobre
os últimos 10 anos de carreira da Nação Zumbi, com imagens inéditas de
momentos históricos.
Durante 2003, eles participaram como atrações
principais do Abril Pro Rock, Skol Hip Rock, TIM Festival (abrindo para o
Public Enemy no Rio), Curitiba Pop Festival (abrindo para The Breeders),
Porão Do Rock (DF), Garage Rock Festival (BA) e Womex (Espanha), além de
terem sido indicados para o Grammy Latino e para Video Music Brasil da MTV e
premiados como melhor banda rock do Brasil no Prêmio TIM de Música, que
substituiu o Prêmio Sharp.
Em dezembro, a Trama, gravadora do grupo,
colocou na internet à disposição do público remixes inéditos da música
Mormaço (além da versão original), um dos hits do disco. Em apenas um mês,
mais de 50 mil downloads foram feitos por internautas. Os projetos paralelos
dos integrantes também obtiveram êxito, como a trilha sonora do filme
Amarelo Manga, produzida por Lúcio Maia (guitarrista) e Jorge du Peixe
(vocalista), lançada em CD pela YBrasil. (Júlio Cavani)
(©
Pernambuco.com)
Entrevista Pupillo |
A maior sensação da música pop
brasileira dos anos 90, com suas misturas de maracatu, samba, rap, dub
e rock, a Nação Zumbi sobreviveu à morte do líder Chico Science em
1997 e continuou correndo o mundo com seu som sem igual. O baterista
Pupillo conta das novas influências da banda, de música independente
(ele toca o selo fonográfico Candeeiro), de ação social e dos projetos
paralelos dos músicos do Nação.
Onde é que você tocava antes de entrar no Nação Zumbi, e como é que
foi a sua entrada na banda?
[Pupillo] Eu comecei a tocar cedo. Com o crescimento da cena em
Recife eu toquei com uma porrada de bandas como Santa Boêmia,
Conservados em Formol, e tocava na noite também. Eu fazia meus
projetos com o pessoal de lá.
Conheci o pessoal da Nação Zumbi e entrei na banda quando os caras
voltaram da primeira turnê do Da Lama ao Caos (2º disco do CSNZ). Eles
estavam a fim de experimentar outras coisas e queriam alguém que
executasse um pouco mais as idéias. A galera voltou cheia de
referência, cheia de influências novas.
E o que você tem ouvido que tem te influenciado sonoramente?
[Pupillo] Eu tenho pirado muito em afrobeat. Tenho escutado
muito Fela Kuti, muito Tony Allen (o baterista de Fela Kuti ). Eles
fizeram um som maneiro pra caramba, uma mistura de jazz com afrofunk.
Eu tenho pirado muito nisso. Sem falar no dub que é uma parada que a
banda inteira ouve pra caramba. Ska, música jamaicana, basicamente
música negra. Onde a música negra estiver espalhada tenho pirado muito
porque é muito forte ritmicamente.
Ao longo da carreira da banda dá pra ver que vocês se tornaram cada
vez mais independentes. Eu queria saber se você acha que isso é uma
alternativa para que os artistas tenham mais controle sobre suas
carreiras?
[Pupillo] Com certeza. Eu tenho duas visões com relação a essa
parada de independente. Ser uma banda independente que banque o
próprio disco, é uma coisa. E ser uma banda que independentemente da
gravadora em que esteja mantenha a postura e não deixe ninguém meter a
mão no trabalho, é outra. Eu acredito que o ideal para qualquer
artista e para qualquer banda é ter o máximo de estrutura possível.
Pra poder trabalhar com os equipamentos que está a fim de trabalhar,
tirar aquela sonoridade que está a fim, trazer para perto as pessoas
com quem quer trabalhar. E para isso a banda precisa de um orçamento.
No caso da Nação Zumbi a gente se diz independente, não porque por ser
uma banda que banca suas coisas, mas por ter essa postura de não abrir
espaço para as gravadoras interferirem no trabalho.
No caso do meu selo foi muito mais uma tentativa de diminuir o tempo
de ralação das bandas de lá, pra não ficarem com a preocupação de ter
que fazer uma demo para mandar para o Sul. Chegou uma hora que Recife
cresceu muito com relação à cena cultural, mas não tinha estrutura.
Então eu tentei dar o mínimo de estrutura para a galera fazer um disco
e ajudar a mudar um pouquinho essa parada do mercado. Essa parada do
jabá estava sufocando a galera. Neguinho fica falando de pirataria por
aí mas a questão não é piratear. Eu acho que é válido baixar músicas
na internet e quem curte música vai querer o disco original. Precisa
ter estrutura. O governo precisa sentar com as gravadoras para rever
imposto e rever a margem de lucro. Outro dia desses, eu lancei o disco
do Mundo Livre S/A pelo meu selo e o caras estavam vendendo o disco
deles nos shows por dez reais. Então quer dizer que dá pra fazer.
E vocês têm um projeto em Recife nas comunidades carentes?
[Pupillo] É um projeto do Devotos e da Nação Zumbi. O pessoal
da prefeitura procurou a gente, fomos lá trocar uma idéia e mostramos
esse projeto itinerante que se chama Acorda Povo. A gente escolhia
quinze bairros da periferia e passava quinze dias dando oficinas para
as crianças de fotografia, reciclagem, moda, dança afro. Só que a
gente foi vendo que precisávamos de um lugar pra poder encaminhar
essas crianças. Porque você chegar lá com a oficina e um guri passar
quinze dias trabalhando com fotografia ou com qualquer coisa, você
perceber que aquele guri tem aptidão para aquilo e não poder
encaminha-lo, é complicado. A gente se sentiu mal com isso. Pedimos
durante um tempão ao governo e à prefeitura uma sede para o Acorda
Povo para que a gente pudesse encaminhar essa galera e não
conseguimos. Então a gente resolveu parar. A gente acredita no
seguinte: ficar fazendo paliativo a vida inteira não vai resolver o
problema desse pessoal. Mas rola, sempre que pode o Toca
(percussonista da banda) tem a parada dele lá em Peixinhos, ele tem as
oficinas de percussão. Neguinho tá sempre dando uma força.
Quais são os projetos da banda para o futuro? Vocês já estão
pensando em gravar alguma coisa nova?
[Pupillo] A gente está sempre tirando um som, registrando. Mas
enquanto a gente está fazendo turnê do disco estamos sempre fazendo
projetos paralelos. Eu estava num trampo do disco do Mundo Livre S/A,
Lúcio Maia e Jorge Du Peixe estavam fazendo a trilha do filme Amarelo
Manga, Toca e o pessoal da percussão tem um projeto chamado Pra Mateus
Poder Sambar. Eu, Dengue, Lúcio e Jorge temos um projeto que chama Los
Sebozos Postiços que são festas que a gente sai fazendo por aí em
homenagem ao Jorge Ben tocando os clássicos dele, das antigas. E aí a
gente vai agitando. Cada projeto desses que a gente faz sempre traz
algo novo para a banda. E quando a galera se reúne pra fazer um som é
legal por isso, sempre tem alguma coisa de diferente que neguinho
traz.
(©
timfestival.com.br) |
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