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05-06-2008
Cantor pernambucano lança novo CD e pretende consolidar sua carreira no Brasil O agudo cristalino de Fênix ainda não é conhecido pelo grande público como a voz de Edson Cordeiro, outro contratenor que fez fama ao mesclar o pop com a música erudita. Mas quem teve a oportunidade de ouvir seu timbre quase feminino, talhado desde a adolescência em aulas de canto, não fica indiferente à figura andrógina do cantor pernambucano. Gostar ou não de sua música é menos importante que o estranhamento por ela causado. O nome, que remete à mitológica ave que ressurgia das próprias cinzas, também simboliza a atual reinvenção artística de Fênix. Seu segundo CD, Marfim, volta-se para o pop, enquanto o anterior, Eu, causa e efeito (2001), mantinha raízes na música erudita e regional nordestina. "Meu primeiro disco é mais experimental, intuitivo. Agora quis fazer música pop, mas com qualidade, sem seguir fórmulas mercadológicas", explica o cantor. No álbum que lança no Teatro Maria Clara Machado, Fênix se mostra um compositor mais confiante. Se o CD anterior trazia duas faixas de sua autoria (Zapping, World) e uma parceria com Maria Olívia (Sinais), das 11 músicas do novo disco, cinco são composições suas - duas delas com outros autores. O cantor ainda é responsável pela versão de They say vision, que em português recebeu o nome de Cara a tapa. "Quando escrevi esta letra questionava o que é preciso para fazer sucesso, se é mesmo necessário tornar a arte mais palatável, digerível. Como diz um dos versos, 'pra que me confundir com o cara da televisão'?", reflete. Além das próprias composições, Fênix interpreta música de outros autores presentes no álbum, como Um certo alguém (Lulu Santos e Ronaldo Bastos), Nhém, nhém, nhém (Totonho), Duas horas da manhã (Nelson cavaquinho e Ary Monteiro), Circulador de fulô (Caetano Veloso e haroldo de Campos), além da inédita Para um amor no Rio, de Zeca Baleiro. "O Zeca havia me dado uma fita com dez músicas inéditas, das quais eu gravei Flores e Cada qual no primeiro disco. Acho que fiquei mais à vontade para gravar essa música agora, depois de uma aproximação maior com a cidade do Rio", analisa. Para criar uma música que caracteriza como universal, o cantor deixou Recife e passou a viver entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Nova York, de onde abriu as portas do mercado internacional. Depois dos primeiros shows no Brasil, Fênix se apresenta nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Japão. Contudo, sua prioridade atual é o mercado brasileiro: "Criei hiatos na minha carreira que impediram o público brasileiro de conhecer meu trabalho. Adoro cantar no exterior, mas é uma coisa limitada, me apresento para um restrito público de admiradores da música brasileira. Agora quero construir uma carreira dentro do Brasil". (© JB Online) Fênix não quer mais ser uma ave rara
JOSÉ TELES Quase desconhecido em sua própria terra, cult no Rio e São Paulo, o pernambucano Fênix, lança seu segundo disco, Marfim, amanhã, 21h, no Teatro Parque, com participação do saxofonista Leo Gandelman, e cenário assinado por Gringo Cardia. Hoje com 28 anos, Fênix deixou o Recife no meio da década de 90, passou pelo teatro (dirigido por Wolf Maia), cantou em palcos dos EUA e Europa, e voltou ao Brasil, em 2001, para gravar seu primeiro disco, Eu, Causa e Efeito, como este novo CD, uma produção independente. “Banco o projeto e licencio os direitos para alguma gravadora. Marfim será lançado na Europa e Japão pelo selo alemão Traumtom”, explica o cantor. Dono de um timbre raro de voz, assumidamente andrógino (é comparado a Ney Matogrosso e Edson Cordeiro, sem os exageros do segundo, e com a elegância do primeiro), Fênix foi coberto de elogios pelo novo trabalho, mas sabe que ainda não foi além do status de cult, “Nos shows de lançamento, o teatro lota, sai bastante matérias na imprensa, maior badalação, depois acaba”, diz ele, revelando que este ano pretende lutar para conseguir uma maior projeção, mesmo que isso passe pelo paradoxalmente onipresente e invísivel jabá (dinheiro que as emissoras de rádio receberiam para tocar determinado artista). “Sem o rádio a gente não alcança o público. Minha música toca numa rádio lá em Goiás, noutra em Minas, não adianta. Pretendo chegar a um público mais amplo, estou fazendo um remix com Marcelinho da Lua e quero tocar no rádio. Mas como a coisa é na base da grana, vou investir no jabá”, detona. Se dependesse do prestígio que desfruta no meio artístico, Fênix não precisaria apelar para esse detestável recurso. No show do disco anterior, no Recife, Ney Matogrosso que veio de Brasília para cantar apenas duas músicas com o amigo e voltar em seguida para a Capital do País, onde fazia temporada. Neste show, é a vez de Leo Gandelman, que faz um solo com a banda de Fênix, e toca em Chá de maçã, faixa de Marfim, de cuja gravação participou. Assim como no disco de estréia, este conta com vários músicos bem conhecidos: Marcos Susano, Totonho, Sacha Ambak, João Vianna (filho de Djavan), Ramiro Musoto, Carlos Malta, e composições inéditas de Zeca Baleiro e Totonho, entre outros. “Acho que isso se deve à qualidade. Eu a busco incessantemente, sou um tarado pela qualidade”, explica. (© JC Online)Repertório basicamente pop com leve sotaque nordestino Fênix considera seu novo show como o mais redondo de sua já tarimbada carreira. “Mais até do que os que fiz com Gerald Thomas ou Wolf Maia”, diz. O cantor vem com uma banda formada por Cristovão Galvão (bateria), João Gaspar (guitarra e direção musical), Daniel Ribeiro (teclados), e Pedro Moraes (baixo), músicos tarimbados, que tocam com Gilberto Gil, Jorge Vercilo, entre outros.Marfim é um disco basicamente pop, na linha do pop chic de Marisa Monte. “Foi de Marisa o primeiro show de MPB que vi”, lembra Fênix, que diz ter ficado “impactado” pela qualidade e carisma da cantora. Em Marfim nota-se esta influência, pela variedade de estilos, arranjos sofisticados, tudo com uma forte dose pop, e um leve sotaque nordestino. “É um disco conscientemente pop, mas tem alguma coisa das minhas raízes. Aqui ali tem uma levada, um ritmo do Nordeste, como na música de Totonho”, diz Fênix. A maioria das canções é assinada por ele e parceiros: “Gosto de música simples, seria incapaz de escrever por metáforas, no entanto me sinto bem cantando as metáforas alheias”, analisa o compositor e cantor, que gravou a difícil (tanto em ritmo quanto em metáforas) Circuladô de fulô (Caetano Veloso e Haroldo de Campos). As canções autorais, revela, passam obrigatoriamente por experiências de vida, nenhuma, no entanto, faz proselitismo ou apologia do seu modus vivendi, em algumas vai direto ao alvo, a exemplo de Cara a tapa : “Não quero ser achado, nem estar perdido/ Eu quero o meu menu-control, não opinião”. Na capa do CD, o cantor posa com um camiseta com os dizeres Venus in Furs (Venus com Peles), livro de Leopold von Sacher-Masoch, título também de uma canção do Velvet Underground. (© JC Online)
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