Hermilo Borba Filho (Engenho Verde,
Palmares PE 1917 - Recife PE 1976). Dramaturgo, encenador,
professor, crítico e ensaísta. Fundador do Teatro do
Estudante de Pernambuco e do Teatro Popular do Nordeste, é
um dos homens de teatro mais atuantes no Nordeste brasileiro
Começa a carreira na década de 30,
trabalhando como ponto do Grupo Gente Nossa, de Samuel
Campelo, em Pernambuco. Na década de 40, ingressa no Teatro
de Amadores de Pernambuco, TAP, traduzindo peças e atuando
nos espetáculos. Insatisfeito com a linha de repertório do
grupo, funda, em 1945, o Teatro do Estudante de Pernambuco,
TEP, escolhendo para a estréia uma peça antinazista, O
Segredo, de Sender, em 1946 e, no ano seguinte, O
Urso, de Anton Tchekhov. Mais tarde, o TEP monta uma
barraca em praça pública, onde realiza vários espetáculos,
entre eles, as primeiras peças de
Ariano Suassuna e do
próprio Borba Filho.
Em 1950 vai para São Paulo, onde trabalha
como jornalista, diretor de teatro e faz parte da Comissão
Estadual de Teatro. Volta para o Recife, nos anos 60, e
funda o Teatro Popular do Nordeste, com o objetivo de abrir
caminho para a profissionalização do teatro em sua região.
Na capital pernambucana, dirige, entre
outras, A Farsa da Boa Preguiça, A Pena e a Lei,
Processo do Diabo, A Caseira e a Catarina,
peças de Ariano Suassuna, encenadas em 1960. A dificuldade
financeira interrompe a atividade.
Hermilo Borba Filho funda, então, o
Teatro de Arena do Recife, onde encena Marido Magro,
Mulher Chata, de
Augusto Boal, 1960, e
Eles Não Usam Black-Tie
de
Gianfrancesco Guarnieri,
1961.
Em 1966, retoma as atividades do TPN com
O Inspetor, recriação de O Inspetor Geral, de
Nicolai Gogol, a partir da teatralidade e das técnicas das
festas populares nordestinas. Dirige em seguida O Santo
Inquérito, de
Dias Gomes, e Inimigo do
Povo, de Henrik Ibsen, ambos em 1967, e Dom Quixote,
de Antonio José, o Judeu, 1969. No ano seguinte, encena
Cabeleira Vem Aí, de Silvio Rabelo, Bum, de Osman
Lins e José Bezerra, Município de São Silvestre, de
Aristóteles Soares, O Pagador de Promessa, de Dias
Gomes, O Cabo Fanfarrão, de Hermilo Borba Filho,
Antígona, de Sófocles, e Andorra, de Max Frisch.
Para contornar o déficit permanente da
companhia, Borba Filho tenta atrair os operários e os
estudantes, faz convênios com entidades do comércio e da
indústria, mas não consegue pagar as dívidas e fecha o
teatro de 90 lugares.
Em entrevista para o Serviço Nacional de
Teatro, SNT, questionado sobre se algum dia ganhou dinheiro
com teatro, Hermilo Borba Filho se refere à montagem de
Dercy Gonçalves para sua
versão de A Dama das Camélias como exemplo único, e
acrescenta: "mas, de repente, verifiquei que a prostituição
era muito pesada, e parei".1
Em 1957, recebe prêmio como diretor
revelação pela Associação Paulista de Críticos Teatrais,
APCT, com a peça
Auto da Compadecida,
de Ariano Suassuna. Entre 1959 e 1968, é sucessivamente
premiado como diretor pela Associação de Críticos Teatrais
de Pernambuco.
Exerce atividades culturais em muitas
entidades: Serviço Nacional de Teatro, Secretaria de
Educação e Cultura de São Paulo, Secretaria de Educação e
Cultura de Pernambuco, Escolinha de Arte do Recife, Centro
Cultural Luiz Freire. Na Universidade Federal de Pernambuco,
cria e ministra a cadeira de história do teatro no Curso de
Arte Dramática, em 1958; funda o Movimento de Cultura
Popular - MCP, com Paulo Freire, Ariano Suassuna e outros;
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, colabora
para a implantação do Curso de Teatro, em 1967; na
Universidade Federal da Paraíba, ministra a disciplina de
história do espetáculo; no Centro de Comunicação Social do
Nordeste - Cecosne, leciona história do espetáculo. Em 1969,
cria Teatroneco, dedicado ao teatro de bonecos.
Como crítico de teatro colabora, em São
Paulo, para os jornais Última Hora, Correio
Paulistano e Movimento, além da revista
Visão e, em Pernambuco, para Folha da Manhã, Jornal
Pequeno, Diário da Noite, Diário de Pernambuco, Jornal do
Comércio e Jornal da Cidade.
Em 1969, ganha o título de Chevalier de
L'Ordre des Arts et des Lettres, outorgado pelo governo
da França.
O trabalho de Hermilo Borba Filho, nos
grupos que funda, é o de criar um caminho para buscar um
espetáculo nordestino, com uma estética épica, baseada nos
folguedos populares. Em conferências, artigos e nos diversos
livros que publicou, relê as teorias universais do teatro a
partir da ótica das manifestações festivas do Nordeste.
Depois do primeiro livro teórico, publicado em 1947,
Teatro, Arte do Povo e Reflexões sobre a Mise-en-scène,
volta a escrever nos anos 60, publicando, entre outros:
Teoria e Prática do Teatro, 1960, Diálogo do
Encenador, 1964, Espetáculos Populares do Nordeste
e Fisionomia e Espírito do Mamulengo, ambos em 1966,
Apresentação do Bumba-Meu-Boi, 1967, e História do
Espetáculo, 1968. Seus estudos sobre a cultura
nordestina coincidem com a fundação do TPN, onde ele coloca
em prática a fusão entre o popular e o erudito.
Osman Lins, de quem ele encena uma peça
no TPN, afirma, em artigo para a Revista de Teatro da
Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais, que em todos
os cargos e funções que ocupa Hermilo Borba Filho luta pela
transformação: "Há por trás de quase todos esses títulos e
iniciativas um combate que passa desapercebido do público:
as incompatibilidades com as funções ou o empenho no sentido
de renová-las".2
Em artigo para o Diário de Pernambuco,
quatro anos após sua morte, Benjamin Santos, ex-integrante
do TPN, escreve: "Durante a fase final de uma montagem,
Hermilo já estava adaptando, traduzindo e concebendo o
próximo espetáculo (...). Outras características do TPN:
revezamento de papéis importantes, divulgação do nome do
grupo e não de atores isolados, formação de atores pela
montagem sucessiva de espetáculos em função da estética
procurada, incentivo ao estudo e à reflexão, formação de
pessoal paralelo ao palco (cenógrafos, figurinistas,
aderecistas...) (...). Mais importante, porém, que todos
esses aspectos encontrados é a concretização de uma estética
do espetáculo. (...) Em resumo, seria um teatro com o canto,
a dança, a máscara, o boneco, o bicho... uma recriação do
espírito popular nordestino (...); o homem brasileiro posto
no palco com toda a sua luta, o sofrimento, a derrota, a
insistência, a vitória; um teatro de intensidade emocional e
crítica, um teatro vivo, aberto, sem a ilusão da quarta
parede, permitindo ao público a compreensão maior de sua
própria história. O teatro como um ato político e religioso
a um só tempo. Esta é a busca de Hermilo (...)".3
(©
Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro)
Notas
1. BORBA FILHO,
Hermilo. (Dossiê Personalidade Artes Cênicas). Rio de
Janeiro: Cedoc/Funarte.
2 . LINS, Osman. O invencível Hermilo, Revista de
Teatro, Rio de Janeiro, julho/agosto de 1976.
3. SANTOS, Benjamin. Por uma história do teatro
popular do NE, Diário de Pernambuco, Recife, 2 de
junho de 1980, seção c, página 1.