Pedagoga apresenta na Bienal um projeto pedagógico que adota os
folhetos populares no ensino de matérias como geografia e português
Por alguns momentos, os livros ficam de lado e os cordéis passam a
ocupar as carteiras da sala de aula. Professores de 50 escolas
municipais de Olinda estão adotando os folhetos populares para
complementar aulas de história, geografia, português, matemática e
artes. O projeto, desenvolvido pela jornalista e pedagoga Rivani
Nasario, será apresentado no estande da
Prefeitura de Olinda na VI Bienal Internacional do Livro, realizada
no Centro de Convenções de Pernambuco.
“É uma maneira diferente de ensinar”, diz Rivani. “No cordel, o
aluno tem a oportunidade de vivenciar a sua própria realidade social
e cultural”, explica a pedagoga, que desenvolve cordéis
especialmente para a prática nas escolas. Além de detalhar sua nova
proposta de ensino, durante a apresentação do projeto pedagógico,
Rivani irá recitar uma versão musicada do cordel Olinda, carnaval,
cultura e história, de sua autoria. “Com a melodia, os alunos
conseguem assimilar ainda mais facilmente o conteúdo das aulas”,
afirma.
A adoção dos folhetos nas salas de aula surgiu através da
divulgação boca-a-boca da própria autora. Primeiro, foram os outros
professores da escola onde ela trabalha e hoje, segundo os cálculos
de Rivani, quase 200 mestres já adotam os cordéis no ensino.
Entre os temas explorados nos cordéis, política, discussão de
gêneros, meio ambiente, cultura, problemas sociais e história,
assuntos sempre explorados com um viés regional.
Adepta do pedagogo Paulo Freire, Rivani acredita que a proposta
de ensino deve ser elaborada segundo os temas mais próximos da
realidade dos alunos. “A maioria dos livros adotados nas nossas
escolas são produzidos no Sudeste do País, o que dificulta a
identificação dos alunos com as temáticas abordadas neles”, afirma
Rivani, que procura trazer elementos do Nordeste, desde aspectos da
liguagem aos costumes locais.
Depois de publicar diversos cordéis, a pedagoga agora pretende
lançar uma obra criada em conjunto com os seus alunos, que
participarão de todas as etapas da produção, inclusive na confecção
e impressão do livreto. O folheto, que já conta com mais de dez
estrofes prontas, deverá ser finalizado até o fim do ano. Outro
projeto da autora é gravar um álbum de versões musicadas de seus
trabalhos, ainda sem previsão de lançamento.
(©
JC Online)
Autores nordestinos são destaque na 6ª Bienal
Se o tema da Bienal deste ano é Literatura:
diálogos e interfaces, nada mais justo que
valorizar os mais diversos aspectos da
escrita. Entre grandes autores nacionais e
internacionais, artistas populares também
têm espaço cativo na feira. O cordel, por
exemplo, marca presença no evento através da
União dos Cordelistas de Pernambuco
(Unicordel), que reúne poetas, declamadores,
folheteiros e editores da área. O coletivo
participou ontem de um recital na abertura
da Bienal e, na quinta-feira (11), o grupo
realiza uma oficina de poesia popular, das
10h às 12h, no Auditório Clarice Lispector.
O grupo também está com um estande no
evento, onde o público pode adquirir diverso
cordéis, inclusive de autores de outros,
além de livros, CDs e produtos relacionados.
O espaço também vai ser local de lançamentos
de livros, recitais e outras atividades.
Discutindo o diálogo entre as vertentes
literárias, a Bienal traz, no próximo
domingo (14), a palestra A Interface entre a
Literatura popular e a erudita. A
apresentação será das 15h15 às 16h15 e traz
como palestrantes Luiz Berto, José Honório,
Joselito Nunes e Dedé Monteiro, que
discutirão a produção popular do Nordeste
nos dias de hoje.
SERTÃO
Outra oportunidade de conhecer de perto o
trabalho de artistas populares é no estande
Armazém Cultural Cariri e Pajeú. O espaço,
uma réplica de uma casa de taipa, servirá de
palco para apresentação de poetas, grupos
musicais e cantores como Santanna, Josildo
Sá, Silvério Pessoa, Vates e Violas, Fim de
Feira, Jessier Quirino, além de lançamentos
de livros e outros trabalhos dos artistas.