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 Gilvan Lemos escreve a vida

 

 

 

Foto: JC Imagem

Gilvan Lemos completa 80 anos e lança novela Na Rua Padre Silva
 

O autor, que lança a novela Na Rua Padre Silva, diz que narra nos seus contos o que vê e conhece

Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com

Em julho do próximo ano, Gilvan Lemos completa 80 anos. Efemérides, no entanto, não o atraem. Pensar em oito décadas de vida só o surpreende. “Nunca pensei em viver tanto tempo. Meu pai morreu com 68, minha mãe, 60. Não acho vantagem nenhuma em viver até os 80. Que é a velhice? A pior desgraça que Deus inventou, acho que nem foi Ele, sim Satanaz”, afirmou o escritor num ano em que tantas personalidades são cercadas pelas contingências das datas redondas.

O Gilvan Lemos surpreso com sua longevidade lança amanhã, às 19h, sua nova coleção de novelas, Na Rua Padre Silva, no estande da Nossa Livraria da 6ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Mais uma vez, o livro tem como foco o Recife de desvalidos, de pessoas com biografias e destino à deriva, um universo que o autor diz conhecer bem. “Eu costumo dizer que o romancista deve escrever sobre o que conhece. E mais: eu não escrevo romances, eu os vivo. Assim, morando há mais de 50 anos no Recife, esta cidade teria de ‘aparecer’ nos meus escritos.”

O livro não só traz histórias de perdas verticais, de uma falta de ilusão assombrosa. As histórias relatadas por Gilvan são tratadas de forma seca, direta. Não há metáforas explícitas, não há salvação onde se agarrar. “Ele e os filhos, cada um com a camisa do time, boné do time, garganta afiada pra exaltar pelo qual torciam. Qual era, afinal? Nem lembrava. Não achava mais graça nessas coisas, desinteressado de tudo. Só podia ser doença, tirava tal conclusão pela quantidade de comida que comia no almoço”, escreveu na novela de abertura O mar do velho Ageu.

Gilvan, no entanto, nega que sua obra esteja abarcando um caráter engajado desde Vingança de desvalidos (livro que, no início desta década, marcou o começo da relação entre Gilvan Lemos e a Nossa Livraria). “Repito que escrevo sobre o que vejo e conheço. O que está nos contos é justamente a desgraceira que impera em nossa cidade, no nosso País. Quando escrevo busco o mesmo de quando iniciei, aos 15 anos de idade: distração, vivência, alegrias, tristezas”, destaca.

Apesar de negar o tom engajado da sua obra, na própria orelha de Na Rua Padre Silva o poeta Domingos Alexandre aponta que o livro é uma espécie de Vidas secas urbano, referindo-se ao romance-denúncia de Graciliano Ramos. Gilvan discorda. “Não, não concordo. Talvez na feitura porque, inicialmente, Vidas secas era uma coletânea de contos com o título de Viventes das Alagoas. Depois foi que Graciliano Ramos os reuniu com o novo título. Eu também comecei meu livro com contos, na mesma rua. Como os contos foram se relacionando, e a conselho do editor, eu os reuni e batizei-os como ‘novela’. Sua principal personagem é a Rua Padre Silva.”

(© JC Online)


Estado tem um DNA açucareiro

Pernambuco tem quase como um dos seus sinônimos a palavra açúcar, tão forte o ciclo da cana marcou o imaginário e a história do Estado. Para lembrar nosso DNA açucareiro, foi realizada uma série de seminários na Fundação Gilberto Freyre, entre 2006 e o primeiro semestre deste ano. O resultado dos debates foi reunido no livro Civilização do açúcar, organizado pela antropóloga Fátima Quintas e com selo do Sebrae, que promove o lançamento da obra hoje, às 19h, no seu estande.

O livro foi elaborado com a colaboração de seis estudiosos que, a partir dos conhecimentos na história da sociedade açucareira, contribuíram para desenvolver um conteúdo literário que engloba diversos campos de uma civilização. Cada autor convidado voltou-se a sua especialidade. José Luiz Mota Menezes fala da casa-grande, capela e senzala, abordando a unidade produtora de açúcar no Brasil. O antropólogo e museólogo Raul Lody escreve sobre religiosidade, fé, festa e cotidiano. Toda a culinária da sociedade dos senhores de engenho é contada pela pesquisadora gastronômica Maria Letícia Monteiro Cavalcanti. Tânia Kaufmanrevela a relação entre o açúcar e a migração judaica.

A organizadora Fátima Quintas, em mais de 100 páginas, aborda a cultura, o patrimônio, a cana, os engenhos, a família patriarcal, os personagens, os costumes, a moda e sua força social na sociedade açucareira. Para ela, o açúcar continua a pontuar o meio cultural pernambucano.

“Sobretudo em termos de gastronomia isso acontece. A nossa linguagem também é açucareira, pela herança dessa época. O fato de que nós dobramos os nomes, Eduardo, por exemplo, vira Dudu. Ou mesmo em expressões imperativas, que se tornam um pedido”, afirma Quintas.

A autora lembra que o açúcar percorre até a nossa religiosidade. “Gilberto Freyre dizia que, por causa do açúcar, a nossa religiosidade era lírica e sensual”, destaca Fátima Quintas.


Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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