Câncer
no fígado cala o poeta Alberto da Cunha Melo, cuja morte foi
anunciada no sábado em plena Bienal no Livro
Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com
Faleceu no sábado à noite um dos maiores nomes da poesia
contemporânea brasileira, o poeta pernambucano Alberto da Cunha
Melo, aos 65 anos. Ele estava internado na UTI do Hospital Jayme da
Fonte, onde deu entrada quinta-feira. Alberto, que sofria de câncer
no fígado, havia realizado um transplante do órgão no dia 24 de
agosto. O velório foi realizado na Cepe (Companhia Editora de
Pernambuco), e o enterro ocorreu ontem, às 16h, no Cemitério Morada
da Paz, em Paulista. O autor trabalhava na seção de obras raras da
Biblioteca Estadual Presidente Castelo Branco era colunista da
revista Continente Multicultural desde o início da publicação.
Alberto da Cunha Melo foi expoente da chamada Geração 65, de onde
saíram alguns dos nomes mais originais da poesia pernambucana, como
Jacy Bezerra e Lucila Nogueira. Seu último livro foi O cão dos olhos
amarelos & outros poemas (2006), lançado pela Editora A Girafa, que
estava fazendo a sua obra ser conhecida fora do Estado. O livro
rendeu ao autor, em julho, o Prêmio Poesia 2007, concedido pela
Academia Brasileira de Letras. Devido a problemas de saúde, Alberto
não conseguiu viajar para receber a homenagem.
A morte de Alberto foi anunciada ao público sábado à noite, na
Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. O anúncio ocorreu
durante o recital comandado por Cida Pedrosa, no Café Literário.
“Foi um choque muito grande para mim, porque eu tinha uma ligação
quase umbilical com Alberto. O meu primeiro livro foi enviado à
imprensa com um bilhete de Alberto, ninguém me conhecia, mas ele
apoiou meu trabalho. Ele foi um grande incentivador do Movimento dos
Poetas Independentes, do qual faço parte”, ressaltou Cida Pedrosa.
Cida fez um poema especial quando soube do falecimento de
Alberto, que aqui publicamos com exclusividade. Quem também enviou
poema inédito sobre a morte do escritor foi a poeta Micheliny
Verunschk. “Fiquei chocada com a morte de Alberto. Embora não o
conhecesse pessoalmente, sua poesia era muito presente em minha
vida. Achava mesmo que o poeta havia enganado a morte. A poesia de
Alberto esteve presente em grandes momentos de minha vida”,
ressaltou Micheliny.
Na entrada do velório de Alberto da Cunha Melo, estava exposto um
dos seus textos mais famosos, Canto dos emigrantes. “Esse era um
poema que emocionava muita gente. As pessoas têm uma relação muito
forte com esses versos”, ressaltou a viúva Cláudia Cordeiro, casada
com Alberto há 32 anos.
“Ela foi um dos grandes poetas do Brasil. Isso não sou eu quem
estou dizendo, não é só ‘achismo’. Grandes críticos falaram isso. A
poesia de Alberto era muito simples, mas essa simplicidade era uma
armadilha, porque ele falava de coisas muito sérias, dos abismos do
mundo. A linguagem era aberta para pegar o leitor”, lembrou Cláudia.
Cláudia afirmou que possui um vasto material inédito de Alberto e
que pretende continuar o trabalho de divulgação da sua poesia. “Ele
trabalhava todos os dias, estava sempre escrevendo. Alberto era
muito metódico. Ele não só escrevia poesia, como também pesquisava.
Posso dizer que, antes de qualquer coisa na vida, Alberto era poeta.
Foi pelo poeta, por seus versos que primeiro me apaixonei por ele”,
completou Cláudia.