Por Neusa Barbosa, do Cineweb
Conhecido por um estilo que procura a maior naturalidade
possível dos entrevistados e a menor interferência do diretor, como fez em
seus premiados trabalhos anteriores, "Santo Forte" (1999), "Edifício Master"
(2002) e o clássico "Cabra Marcado para Morrer" (1985), o cineasta Eduardo
Coutinho retoma o começo de sua carreira em seu novo trabalho, "Jogo de
Cena", que estreiou na sexta-feira.
Iniciando-se como cineasta com a ficção "O Homem que
Comprou o Mundo" (1967), Coutinho volta a escalar atores num trabalho, coisa
que faz pela primeira vez num documentário. Uma das atrizes é Marília Pêra,
que estreou no cinema justamente em "O Homem que Comprou o Mundo".
Marília, Fernanda Torres e Andréa Beltrão são as três
atrizes famosas que o diretor convocou para recriar em cena algumas
histórias reais de mulheres.
São todas mulheres, aliás, as personagens de "Jogo de
Cena", alternando-se depoimentos reais e as recriações das atrizes. Como
algumas não são famosas, isto faz com que o espectador se pergunte o tempo
todo qual é o depoimento real, qual o encenado, o que só se descobre no
final, com algumas surpresas.
Também as atrizes fogem às vezes do script e contam coisas
pessoais. Esse jogo que busca romper fronteiras entre documentário e ficção
é justamente o que interessa a Coutinho.
As mulheres que aparecem no filme foram selecionadas a
partir de anúncios publicados em jornais. Oitenta e três mulheres
compareceram dispostas a contar suas histórias de vida, como pedia o
anúncio.
Depois de um processo preliminar de entrevistas, método
habitual de Coutinho e sua equipe, restaram vinte personagens. Na tela, o
número de histórias caiu para menos de metade. A escolha dependeu mais da
capacidade de narração de cada entrevistada do que propriamente dos fatos de
sua vida.
Para interpretar seus papéis, as atrizes receberam versões
editadas dos depoimentos em DVD e também o conteúdo integral deles, por
escrito. A partir desse material, tinham liberdade de encontrar uma forma de
interpretar diante da câmera.
Tanto as atrizes quanto as mulheres anônimas falam a
Coutinho no cenário único do Teatro Glauce Rocha, no Rio. E o diretor
supera-se magistralmente, mais uma vez, encontrando novos caminhos para seu
cinema tão particular.