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 Antonio Meneses leva cada nota ao limite da expressão

 

 

 

Antonio Meneses
 

Crítica/erudito

Violoncelista pernambucano toca com a mesma intensidade de 25 anos atrás

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

A seção final do "Concerto para Violoncelo" de Elgar (1857-1934) é um desses milagres da arte, inimitável e sem explicação. Uma frase plangente vem caindo, caindo, cada vez cai de outro ponto, parece que nunca mais vai parar de cair, para dentro e para o fundo de alguma indecifrável verdade. Ouvir essa música tocada por Antonio Meneses foi um privilégio e tanto, encerrando a temporada do Cultura Artística anteontem.

Já se tornou tão previsível fazer elogios ao violoncelista pernambucano que cabe agora algum cuidado, para não deixar de elogiá-lo só por causa disso. Chegando aos 50 anos, o recém-nomeado professor do Conservatório de Berna (Suíça) segue tocando com a mesma intensidade que tinha aos 25, quando interpretou o "Concerto" de Elgar pela primeira vez. Cada nota, com ele, vai a um limite da expressão, sem jamais passar desse não nomeado limite, sua medida musical.

Acompanhado aqui pela Orquestra Filarmônica de Varsóvia, regida por Antoni Wit, ele fez um Elgar menos nostálgico do que de hábito. Menos eduardiano, menos "inglês". Quase nada, de fato, em Elgar corresponde a isso; mas, do modo como se toca sua música (especialmente na Inglaterra) às vezes até parece que sim.

Contexto

Composto logo depois da Primeira Guerra, em 1919, o "Concerto" é a obra-prima do autor das "Variações Enigma", da marcha "Pompa e Circunstância" e do também impressionante oratório "The Dream of Gerontius" (que a Osesp apresenta na semana que vem).

Começa de chofre com o violoncelo solo. E termina voltando ao começo, depois de passar pelo moto-perpétuo do segundo movimento e pelas confissões do terceiro. O violoncelo toca quase sem descanso. Entre as virtudes de Meneses está a capacidade de concentração, que não vacila nunca, nem nas alturas da corda lá, nem nas profundezas dos graves, que parecem mesmo atraídos para baixo pela força da gravidade.

A orquestra tem papel de mero acompanhante neste "Concerto". Antes dele os poloneses tocaram a "Abertura" da ópera "Guilherme Tell" de Rossini (1792-1868). Fizeram bonito -com destaque para o naipe de colegas violoncelistas-, sem chegar a ser memorável. Uma boa orquestra européia, cumprindo suas competências.

Claro que a Filarmônica, depois, deve ter feito muito bem a "Primeira Sinfonia" de Brahms (1833-1897), regida pelo vigoroso Wit. Mas há certos casos em que a música, depois de ouvida, precisa de silêncio, para ir decantando aos poucos. Vai caindo, caindo, para dentro e para o fundo de alguma indecifrável verdade. O Elgar foi assim. Depois de ouvir Meneses, não havia Brahms que valesse o silêncio, ou o barulho dos carros, que fosse, subindo a rua da Consolação.

Avaliação: ótimo

(© Folha de S. Paulo)


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Músico registra Mendelssohn em novo álbum

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sonoridade gloriosa, afinação impecável, discurso musical fluente, excelência técnica, maturidade interpretativa: os últimos discos do violoncelista pernambucano radicado na Suíça Antonio Meneses têm trazido todas essas qualidades, e o derradeiro, dedicado a Mendelssohn, não é exceção.

Meneses começou a carreira na década de 1980, na esteira do primeiro prêmio obtido no Concurso Tchaikovski, em Moscou. Ao lado do pianista russo Evgueni Kissin e da violinista alemã Anne-Sophie Mutter, foi um dos jovens astros a gravar naquele período com a Filarmônica de Berlim, comandada pelo mítico Herbert von Karajan (1908-1989).

Com 50 anos de idade e a inestimável vivência de dez anos fazendo música de câmara com o piano genial de Menahem Pressler, no Beaux Arts Trio, Meneses parece estar vivendo seu auge técnico e intelectual.

O pianista que o acompanha no disco de Mendelssohn não é Pressler, nem a baiana Cristina Ortiz, com a qual ele teve um duo cheio de som e fúria, mas o suíço Gérard Wyss, que pode não possuir todo o refinamento de Pressler, nem a sonoridade exuberante de Ortiz, mas se revela um parceiro inteligente e sensível.

Félix Mendelssohn (1809-1847) teve um irmão, Paul, que era violoncelista amador, ao qual dedicou sua primeira sonata para o instrumento. A segunda, de maior fôlego, entrou definitivamente no repertório do violoncelo, como elemento de ligação entre o universo de Beethoven, o primeiro autor importante a escrever sonatas para violoncelo e piano, e Brahms, que compôs um par de obras-primas no gênero.

Houve uma época em que foi moda acusar Mendelssohn de superficialidade.

Ouvir o bem-acabado disco de Meneses é o melhor antídoto para esses preconceitos, e descobrir o vigor e a elegância desse mestre do período de transição entre o apuro formal do estilo clássico e os arroubos retóricos da geração romântica.

MENDELSSOHN - MÚSICA PARA VIOLONCELO E PIANO
Artista:
Antonio Meneses (violoncelo) e Gérard Wyss (piano)
Gravadora: Avie Records/Selo Clássicos
Quanto: R$ 37

(© Folha de S. Paulo)

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