Divulgação
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'Xeroperformance', obra de 1980
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Talles Colatino
tallescolatino@jc.com.brA arte conceitual é aquela em que se
considera a idéia por trás da obra, a intenção do artista no
processo criativo, mais do que o próprio resultado final. Esse
estilo foi fortemente discutido e divulgado pelo grupo americano
Fluxus, composto por músicos artistas plásticos e poetas, que marcou
as artes das décadas de 1960 e 1970, opondo-se aos valores
burgueses, às galerias de arte e ao individualismo vingente na
época. Por meio da Arte Postal, devesenvolvida pelo grupo, vários
artistas do mundo inteiro puderam difundir as idéias correspondentes
às bases do movimento. No Brasil, o pernambucano Paulo Bruscky foi
um dos principais artistas atuantes junto ao Fluxus. Ao longo do
contato com os artistas, como o ingleses Dick Higgins e Robin
Crozier, Bruscky coletou um vasto acervo sobre o Fluxus, que mostra
ao público no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam), a
partir de hoje.
A mostra Fluxus – Acervo Paulo Bruscky que as propostas revela as
primeira experimentações com a Arte Conceitual. A coleção teve
início a partir da inserção do artista no Fluxus e foi construída
através de trocas de correspondências, contatos pessoais com os
outros participantes e aquisições durante várias viagens que
realizou. “A exposição vem para reafirmar minha preocupação com a
memória. Nós antecipamos, àquela época, as trocas via redes, até a
internet. Para o Fluxus, a arte era uma informação que necessitava
desse trânsito”, explica Bruscky. “O Fluxus, mais que um grupo, era
um conceito que agregava outros conceito na arte-vida”, completa.
Cada andar do Mamam detém uma temática e reserva um determinado
tipo de interesse aos visitantes. No térreo, Bruscky disponibilizou
cópias de trabalhos teóricos e manifestos para que os interessados
possam pesquisar mais sobre o assunto. “Foi nesses manifestos que,
pela primeira vez, se usou a palavra intermídia”, lembra o artista.
Entre os arquivos que estão expostos, figuram raridades como o
primeiro manifesto do Fluxus, publicado em 1966. Ao público ainda
será distribuído um folder explicativo sobre o grupo Fluxus, na
entrada do museu. “Não adianta fazer uma exposição desse nível sem
oferecer uma explicação, inserir o visitante no contexto”.
O primeiro andar divide seus espaços com as artes sonoras e
visuais. Num espaço, serão colocados pufes e CD players para que o
público possa apreciar a audioarte. Entre as mostras de artes
visuais, documentos como a coleção da editora de Dick Higgins,
trabalhos de Joseph Beyus, Nam June Paik (considerado o pai da
vídeoarte), George Maciunas (criador do termo Fluxus), Yoko Ono e
John Lennon, que o público pouco conhece como artista gráfico. Além
das clássicas produções, a mostra ainda conta com trabalhos mais
recentes de quase todos os integrantes do Fluxus.
“A crítica de arte só veio se interessar pela produção do Fluxus
agora. Mesmo à época, nos Estados Unidos, pouco foi publicado,
tornando-se um material raro”, comenta Bruscky. No final da
exposição, Paulo Bruscky pretende editar um livro sobre o grupo, com
textos de, entre outros, do pesquisador Adolfo Monteiro, sobre a
influência (ou não) do Fluxus na arte brasileira. E sobre o Brasil à
época do seu trabalho com o Fluxus, Bruscky, diz que nunca sentiu
necessidade de ir para o Sudeste (efervecência cultural da época).
“Já nessa época trabalhei praticamente isolado aqui no Nordeste.
Tive mais contato com os artistas conceituais do exterior que do
Brasil”, confessa.
» Exposição Fluxus – Acervo Paulo Bruscky. Abertura hoje, às
19h. Visitação aberta ao público até 13 de janeiro. De terça a
domingo, das 13h às 19h e quartas, das 9h às 19h. Museu de Arte
Moderna Aloísio Magalhães, Rua da Aurora, 265, Boa Vista.
(©
JC Online)
Em São Paulo
Paulo Bruscky, o homem multimídia, ganha exposição
Márcia Abos - O Globo Online
SÃO PAULO - Foi a partir deste ano que o artista plástico Paulo Bruscky, de 58 anos, tornou-se conhecido, apesar da vasta produção do pernambucano desde os anos 60. Ao aproximar a arte da vida cotidiana Bruscky acabou sendo marginalizado, se manteve fora do mercado e foi incompreendido pela crítica. Desde março, sua obra passa por uma revisão e seu nome virou febre no circuito das artes plásticas.
O reconhecimento nasceu do esforço da pesquisadora Cristina Freire, que assina a curadoria de uma exposição com mais de 150 trabalhos do artista, "Ars Brevis", a primeira retrospectiva dedicada a Bruscky. A mostra será aberta ao público nesta sexta-feira no Museu de Arte Contemporânea (MAC) em São Paulo.
Um dos pioneiros da arte conceitual no Brasil, Bruscky foi influenciado pelo movimento Fluxus, do qual Yoko Ono faz parte. As duas exposições - de Paulo Bruscky e
Yoko Ono
- que entram em cartaz em São Paulo neste fim de semana são uma oportunidade para o público conhecer este efervescente movimento iniciado na Alemanha em 1962 que busca romper as barreiras entre arte e não-arte, dirigindo a criação artística às coisas do mundo. Cristina Freire diz que as duas mostras são indicadores de um resgate em nível internacional da arte dos anos 60 e 70, especialmente da arte conceitual.
- Mas é importante ressaltar que há diferenças muito significativas entre a produção dos artistas da América do Norte e da América Latina neste período, pois países como Brasil, Argentina e Chile viviam sob violentas ditaduras militares. Esta vertente política é um determinante para a arte latino-americana nos anos 60 e 70 - explicou Cristina, que há dez anos pesquisa a arte conceitual brasileira no acervo do MAC.
Foram estas diferenças que fizeram com que a arte postal tivesse um papel muito especial na América Latina nos anos 70. Artistas como Paulo Bruscky burlavam a censura criando uma rede de comunicação mundial pelos Correios. A troca de postais criados pelos artistas transformou-se em uma forma de denúncia sobre os abusos dos militares na América Latina.
- Eles formavam uma grande rede de troca de idéias e informações, antecipando em 1970 princípios muito importantes da produção artística dos dias atuais, incluindo aí a internet, que ampliou e aumentou a velocidade das trocas em rede - explicou Cristina Freire.
Paulo Bruscky é um artista multimídia, que fez vídeos, poesia, arte postal, livros, intervenções urbanas e instalações. Nunca sobreviveu fazendo arte. Foi funcionário público do setor de comunicação de um hospital em Recife e usou equipamentos hospitalares para a criação artística. Uma de sua obras é um eletro encefalograma do próprio artista. Bruscky mostra como diferentes sentimentos causam variações em suas ondas cerebrais.
Ars Brevis - De 9 de novembro a 28 de abril de 2008. Visitação: Terça a sexta das 10 às 18 horas, sábados, domingos e feriados das 10 às 16 horas. Entrada gratuita. MAC USP Cidade Universitária. Rua da Reitoria, 160. Informações: 11 30913039. Agendamento para visitas: 11 30913328
Livro: "Paulo Bruscky - Arte, arquivo e utopia" - Ed. Companhia Editora de Pernambuco. Escrito e organizado por Cristina Freire. 271 páginas. Preço: R$ 100
(©
O Globo)
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