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 Siba lança CD marcado pela poesia nordestina

 

 

Siba, ex-Mestre Ambrósio, lança seu segundo CD solo
 

Disco do ex-Mestre Ambrósio busca mostrar contemporaneidade de ritmos regionais

Músico pernambucano conta ter feito álbum de música pop baseado em estilos como o maracatu de baque solto e a ciranda

ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

Poeira não é exatamente o que Siba espana da cultura do maracatu, da ciranda e de outros ritmos nordestinos. No novo álbum "Toda Vez que Eu Dou um Passo o Mundo Sai do Lugar", o poeta pernambucano reafirma a contemporaneidade desses estilos, sem apelar para "beats" ou coisa que o valha.

Siba se apóia na rica cultura da zona da Mata Norte de Pernambuco, de onde vêm os músicos da banda que o acompanha desde 2002, a Fuloresta, para embalar em sons locais canções que são pura poesia.

São letras que surpreendem pelo apuro e pela riqueza de detalhes, utilizados para descrever temas cotidianos, imagens da natureza ou, simplesmente, para filosofar, como na inspirada faixa que dá nome ao disco ("Vivo no mundo com medo/ Do mundo me atropelar/ Que o mundo por ser redondo/ Tem por destino embolar...").

"A base desse trabalho está no maracatu do baque solto e na ciranda, que, antes de serem música, são estilos de poesia", conta Siba, 38. "A música está sempre em função do verso, mesmo que seja para animar uma festa."

Segundo CD

Esse é o segundo CD solo de Siba, que deixou o grupo Mestre Ambrósio no início dos anos 2000 e se embrenhou na mata para retomar as pesquisas sobre sonoridades marcadas por percussão e metais, que o encantaram quando ainda era um jovem guitarrista de rock.

"Na época, com 20 anos, quando cheguei aqui [zona da Mata], encontrei pessoas de todas as idades praticando estilos de música ligados à poesia com muita vibração", lembra Siba.

"Isso mudou minha vida. Acabei fazendo dessa cultura um processo de aprendizado."

Criado entre os subúrbios de Recife e Olinda, Siba herdou o gosto pelo texto de seu pai, oriundo da zona rural, e o recriou a seu modo. "A poesia oral que temos no Nordeste, como a cantoria de viola, a literatura de cordel, a ciranda, o maracatu de baque solto, são a base de meu processo criativo", define ele.

Isso nada tem a ver com uma recuperação pura e simples do passado. "É a busca por um estilo pessoal", diz. "Não é repetir coisas feitas num tempo imemorial qualquer." A palavra tradição, aliás, lhe causa calafrios: "Precisamos entender a tradição como uma coisa viva, dinâmica", fala ele. "O canto de maracatu hoje é muito diferente do que se fazia há 50 anos. Tradição é isso: gostar de uma coisa e saber seu histórico."

Pensando nisso, Siba define seu trabalho como pop: "O disco tem todos os recursos que a música pop utiliza. Ele dialoga com o dub jamaicano, o pop em geral, a música africana. Ao mesmo tempo, tem um compromisso radical com estilos de poesia e música tradicionais".

TODA VEZ QUE EU DOU UM PASSO O MUNDO SAI DO LUGAR
Artista:
Siba e a Fuloresta
Lançamento: Ambulante Discos
Quanto: R$ 25,90, em média
Avaliação: ótimo

(© Folha de S. Paulo)

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