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 Francisco Brennand sob o viés do ensaio

 

 

Francisco Brennand, ceramista e pintor pernambucano
 

Poeta e jornalista pernambucano radicado em São Paulo, Júlio Tavares lança o livro Brennand: arte e sonho, um olhar apaixonado sobre obra do artista

Olívia Mindêlo
oliviamindelo@jc.com.br

Muitos autores já se debruçaram sobre o universo artístico de Francisco Brennand, ceramista e pintor pernambucano capaz de surpreender os olhares mais longínquos. Weydson Barros Leal, Fernando Monteiro e Olívio Tavares Araújo são alguns dos principais nomes que tiveram a preocupação em descrever e, sobretudo, analisar a vida e a obra do mestre da Várzea. Hoje, uma nova publicação sobre o assunto chega às livrarias: Brennand, arte e sonho, do jornalista e poeta Júlio Tavares. O lançamento é às 19h, na Livraria Cultura.

“O livro é um ensaio. Não é um trabalho biográfico, nem uma simples crítica de arte”, diz o autor pernambucano radicado em São Paulo. “Como um ensaio, portanto, tentei pegar a obra dele e fazer minhas considerações, muito particulares, indo além do que se coloca normalmente em relação ao artista”. De fato, o caráter ensaístico, no qual o arranjo textual se dá de maneira muito leve, despretensiosa e pessoal, é evidente no livro. Mais ainda: permite o leitor, principalmente o que nunca teve a chance de desbravar a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, passear pelo local como se estivesse lá, tamanho o poder descritivo das palavras de Júlio Tavares. Um narrador-admirador, sem dúvida. Por isso, a leitura se torna agradável.

No entanto, é de se ponderar o fato de que há realmente uma interpretação inovadora de sua parte em relação a Brennand, por mais íntima e subjetiva que seja sua abordagem. Afora alguns avanços, ele não se mostra inusitado, no sentido de “ir além” do que já foi dito anteriormente, mesmo que com outros recortes e palavras, a respeito do artista. A pulsação sexual, as simbologias, o mundo dos sonhos e do inconsciente (ou o surrealismo, como o autor prefere nomear), o nacionalismo, o humanismo, a imponência, a ousadia, o caráter libertário etc. são aspectos já descobertos, de uma forma ou de outra, por outros críticos. “Não sou um crítico de arte, sou apenas um admirador da obra de Brennand”, previne Júlio Tavares, logo nas primeiras páginas do livro.

O mais inusitado e interessante da publicação são as poesias que acompanham o ensaio apaixonado. Os versos são de autoria do próprio Tavares e tentam revelar mais do que seus olhos foram capazes de ver em Brennand. “Tão protegida por longos bicos-espada/ Tão bela e recatada/ De longe te vejo triste e isolada/ Talvez estejas em uma ilha de sonhos e grades/ Talvez estejas rezando ou pensando/ Sei apenas que estás obrigatoriamente calada/ Mulher-poema de seios alertas e de ventre fértil,/ nas tuas mãos e olhos tantos pedidos, tantas quimeras/ Eu te olho de longe e te acho bela,/ mas tu tens um dono e ela te mantém seqüestrada”, versa o autor, no poema A seqüestrada, a respeito da escultura homônima do artista, feita em 1986 para a oficina.

Além do ensaio e das poesias, o livro é recheado ainda com imagens, entre fotografias e reproduções de obras, feitas pelo próprio poeta, afora uma breve cronologia do artista que completou 80 anos em junho passado. “Mais do que uma homenagem, o livro é um agradecimento a Brennand, pelo prazer e pela oportunidade que me deu para analisar sua obra”.

(© JC Online)

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