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Zeca faz um ''amontoado'' de canções para se dançar

01/10/2008

 

 

Foto: Geórgia Santiago/O Povo

Zeca Baleiro
 

Ska, rock, samba-funk e outros ritmos em misturas divertidas

Lauro Lisboa Garcia

As noites suingadas do projeto de baile de Zeca Baleiro têm nítidos reflexos no novo álbum do compositor. O Coração do Homem-Bomba Volume 1 (MZA Music), como evidencia o título, é o primeiro de uma dobradinha. Na função de homem-baile sem limites nem preconceitos, Baleiro cantou um punhado de temas e ritmos diversos e faz o mesmo no divertido CD: "Amor, solidão, saudade, sedução, loucura, crônicas deste tempo tecnológico e cínico", em levadas de ska, samba-funk, repente, ragga, reggaeton, rock, iê-iê-iê e muitas mais.

Neste "amontoado de canções acumuladas ao longo dos anos", com a banda Os Bombásticos, ele assina novas parcerias com Chico César (Geraldo Vandré e Aquela Prainha), Joãozinho Gomes (Você É Má) e Zé Geraldo (Ela Falou Malandro). No segundo volume, que sai em novembro, tem canções com Wado, Kléber Albuquerque e Totonho.

Além de uma maioria de composições próprias sozinho, Zeca "baileiro" tira do baú o sambão jóia Bola Dividida (Luiz Ayrão) e reinterpreta o manifesto anti-racista Alma Não Tem Cor (André Abujamra). São dois bons momentos do CD, que ganham arranjos revigorantes. O sambão se transforma radicalmente com aquilo que ele chama de "pop bósnio". O tema simbólico do Karnak é mais próximo do original num misto de xaxado, rumba e outras variações.

O sacudido samba-funk Vai de Madureira é uma das que Zeca tirou do próprio baú. Feita para a volta das Frenéticas, no álbum de 2001, foi regravada em ritmo de samba-funk, com a dupla maranhense Criolina nos vocais. É uma nas quais exercita seu gosto pelo trocadilho ("se não tem água perrier eu não vou me aperrear"), que culmina na vinheta Aquela Prainha, cuja letra, entoada em paródia de canto lírico, diz: "Sabe aquela prainha lá do Ceará/ Onde íamos todo sábado à tarde/No fim da tarde ouvir o Black Sabbath?/ Pois é, degringolou, pois é, degringolou/Tá cheio de gringo lá". Outra vinheta, Aí, Beethoven comete esta infâmia: "Tem alguém aí, Beethoven/ Será que ninguém me ouve?" Eta nóis!!!

No reggaeton Elas por Elas, com letra do gênero lista, de rimas um tanto forçadas, o refrão escorrega na prosódia. Em Você É Má, Zeca joga com adjetivos e verbos iniciados com a sílaba "ma" e repete um recurso de duplo sentido já presente no ska Você Não Liga pra Mim. "Você quer ser o meu mal/ Mas sabe que podia ser meu bem", diz nesta. "Você é má, mas pode ter um bem", reprisa na outra.

Já disponibilizado no site de Baileiro há meses, o rock Toca Raul pega carona na levada de Como Vovó Já Dizia, é uma alfinetada bem-humorada nos que vivem pedindo música do "maluco beleza" nos shows dos vivos. Nega Neguinha é uma das melhores faixas de Pecadinho, primeiro CD de Márcia Castro, revelação baiana que faz a diferença nestes tempos com excesso de cantoras branquinhas "descafeinadas", como diz um colega. Sem ela, a gravação de Zeca perde muito da graça e do suingue.

Em seguida, o homem-bomba, que explode de alegria no início, termina melancólico numa balada em homenagem a Vandré, dizendo que "os jornalistas querem saber/ O que houve com você/ Os urubus querem carniça". Perseguido pela ditadura militar o recluso Vandré há décadas abandonou a música. Há muito tempo deixou de despertar o interesse dos "urubus" e assentou em algum canto da memória dos saudosistas.

(© Estadão)


Estouro do Baleiro

Tiago Coutinho

Mal Zeca Baleiro subiu ao palco, alguém da platéia grita "Toca Raul!". A indagação poderia soar como provocativa, caso não fizesse referência a uma das novas músicas de Zeca Baleiro, que homenageia o roqueiro Raul Seixas e deve tornar-se conhecida, pelo menos entre aqueles que acompanham a carreira do cantor.

A frase mostra também a sintonia do público com o show que viria em seguida. Ao se apresentar na última sexta-feira, no Siará Hall, o músico maranhense mostrou que possui um público cativo em Fortaleza. Embora não tenha lotado a casa, havia gente o suficiente para justificar o local da apresentação. Não só. Mostrou também ter muitos fãs que acompanham sua carreira, pois parte significativa dos fãs próxima ao palco cantava de cor todas as canções novas.

Com uma hora de atraso, Zeca Baleiro entrou no palco, acompanhando da banda Os Bombásticos cantando a vinheta "O coração do homem-bomba faz tum tum/ até o dia em que ele fizer bum", a mesma que abre o novo disco que também é título do show: Coração de Homem Bomba. Daí, ele simula uma explosão, provoca uma fumaceira inicial e engatilha as músicas numa mistura memorial da sua carreira.

No palco, o cantor mostrou mais dinamismo e arriscou alguns trejeitos com o corpo, danças mecânicas, algo meio coreográfico, meio desengonçado. Irreverente, Zeca usava um chapéu para cobrir a calvície saliente, um colete de paletó, sem camisa por baixo, os tradicionais óculos escuros e ainda um colar néon iluminado, tipo daqueles usados em rave.

Quem estava acostumado a uma apresentação de Baleiro mais a dois, mais lento e, quiçá, romântico, pode ter se surpreendido no começo. O novo disco possui músicas bem mais dançantes e agitadas do que trabalhos anteriores. Para manter um equilíbrio de palco, as letras antigas ganharam novas roupagens.

Nessa seqüência, Zeca mistura ritmos. Salão de Beleza vira pout pourri com o funk Glamourosa, de MC Marcinho, e dá continuidade em Banguela. O cantor sabe apresentar um novo repertório. Depois das primeiras músicas agitadas, ele pára e prepara cenário para a leveza e o reencontro com o melancólico, lírico, Zeca Baleiro.

Sentado, com a presença de uma sanfona na banda, canta músicas mais lentas e ganha vários aplausos. Engrena, então, Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina, Babylon, Quase Nada e a belíssima Bandeira. Finalmente, canta Telegrama em novo estilo, mas mantendo o charme lentinho, ovacionado pela platéia.

No embalo de músicas românticas, Zeca faz uma justa homenagem ao mestre Waldick Soriano, falecido no começo do mês. "Ele era o cantor de música brasileira, mais brasileiro que existia", comenta. Toma um gole de uísque, derrama uma parte para o "santo" e canta Tortura de Amor. Em coro, toda a platéia acompanha "hoje eu quero paz, quero ternura em nossas vidas...".

Waldick não foi o único homenageado da noite. Como se era de esperar, o raulzito marcou presença. Aos pulos, Zeca Baleiro encerra o show com Toca Raul, emendada do refrão de Raul Seixas, "quem não tem colírio usa óculos escuros" (Como Vovó Já Dizia). Depois de um curto intervalo, o maranhense volta ao palco para o bis e terminar a noite de vez. Faz homenagem ao amigo e parceiro Fausto Nilo, errando a letra da canção Frenesi e pedindo desculpas ao mesmo tempo. Em seguida, as bem agitadas Mamãe Oxum e Heavy Metal do Senhor são as últimas do show.

Apesar de investir em músicas com novas releituras e arranjos, garantindo momentos de grande agitação, prevaleceu a marca de Zeca Baleiro mais lento. Talvez também uma preferência de seus fãs.

(© O Povo) 

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