Fliporto divulga sua programação para 2008 na qual presta homenagem às
particularidades da literatura africanaSchneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com
Foi liberada ontem a programação da 4ª Festa Literária Internacional de
Porto de Galinhas (Fliporto), que toma conta do balneário de 6 e 9 de
novembro deste ano. Se 2007 foi marcado pelo processo de internacionalização
do evento, com mesas e debates sobre a questão latino-americana no texto,
agora é a vez da programação esmiuçar a África. Pensar uma literatura
africana implica, a princípio, numa generalização – o continente africano
como um bloco só, homogêneo. Olhar simplista que passa longe das intenções
da festa.
Pensar uma literatura africana é também admitir inegáveis pontos em comum
num continente para lá de heterogêneo – entre esses pontos, nações
pós-coloniais, guerras civis, desigualdade social radical, povos em trânsito
e o difícil processo de erguer uma identidade. “Iremos nos ater mais
detalhadamente aos países da África negra de língua portuguesa. Contudo, sem
esquecer os nossos laços com outros países africanos como o Benin, o que
alguns chamam de África Profunda, que tanto inspirou Pierre Vergé, Caribé e
o pintor pernambucano José Cláudio, que estará expondo no evento”, explicou
o curador-geral da Fliporto, Antonio Campos.
A idéia de homenagear a África surgiu no ano passado e foi cercada,
segundo ele, por uma série de efemérides coincidentes: os 100 anos de
nascimento do poeta Solano Trindade, o centenário da morte de Machado de
Assis, que foi neto de escravos, 110 anos do fundador do simbolismo Cruz e
Souza, 140 anos de apresentação pública do poema Navio negreiro, de Castro
Alves, e os 120 anos da Abolição. “A África nunca saiu de moda, mas este ano
ela está ainda mais em evidência”.
A curadoria da programação literária mais uma vez está nas mãos da
escritora e professora da UFPE Lucila Nogueira. Para esta edição, o número
de convidados foi reduzido, mas ainda assim as palestras irão ocupar
simultaneamente três salas do Hotel Armação. “Algumas pessoas, que não
gostavam de literatura olhavam para mim e diziam ‘lá vem o spa literário’,
como se fosse um problema ter muitos debates. A Fliporto é um local de
reflexão de literatura. É importante o entretenimento, mas não podemos
esquecer da profundidade das discussões”, defendeu Lucila.
Para participar dos debates, o público paga um valor simbólico de R$ 4
(inteira) e R$ 2 (meia). “Fizemos convênios com cursos de letras, com a UBE
e a Academia de Letras para que sete ônibus façam viagens diárias de ida e
volta para a Fliporto. O importante para a gente é ter público e esse valor
é mais para organizar melhor o acesso das pessoas às salas”, destacou
Antonio Campos.
Este ano, a abertura da Fliporto fica nas mãos de Ariano Suassuna, que
fará aula-espetáculo e será seguido por um recital comandado por Marcelino
Santos (Moçambique), Quincy Troupe (EUA), Rei Berroa (República Dominicana)
e o poeta amazonense Thiago de Mello, que foi um dos destaques da Fliporto
do ano passado. “No primeiro dia de fato de debates, a África terá o foco
principal da Fliporto”, afirmou Lucila listando alguns nomes convidados da
África, como Pepetela, José Eduardo Agualusa e Ondjaki.
No segundo dia da Fliporto, o foco de debates se abre para a relação
África/América Latina e para a literatura brasileira hoje. Estão confirmados
nomes como João Paulo Cuenca, Vicente Franz Cecim, Affonso Romano de
Sant’Anna e personalidades da mídia como Zeca Camargo. Haverá ainda mesas
focadas na Geração 65 e homenagem para Raimundo Carrero comandada pelos
alunos da sua oficina literária e pelo jornalista e poeta Marcelo Pereira.
No domingo, o destaque é a conferência do acadêmico da ABL Antonio Carlos
Secchin sobre os 100 anos de morte de Machado de Assis.