18/10/2008
Foto: Jedson
Nobre
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SPENCER e Amaro Filho acompanham gravação do curta pelo
video-assistente
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Fernando Spencer
conclui novo curta-metragem, sobre os ursos carnavalescos, e já engatilha
projetos para o próximo ano
Mirella Martins
Especial para o JC
Quem passou pelo
Poço da Panela na tarde desta última quinta-feira, deve ter estranhado a
animação que tomou conta das redondenzas. Era o último dia de filmagem do
curta-metragem Nossos ursos camaradas, do cineasta Fernando Spencer,
iniciada neste Carnaval. O projeto é um documentário/ficção sobre as troças
carnavalescas de ursos.
Numa visão
bem-humorada, o produto mostra toda a simbologia deste animal, desde sua
origem, passando pelos desfiles no reinado de Momo até as criações do
imaginário popular em torno do tema. “Gosto de filmar coisas relacionadas ao
Carnaval. Já havia feito trabalho sobre maracatu e caboclinho e estava com
este roteiro pronto há um bom tempo”, explica Spencer.
O cineasta
desenvolveu o roteiro em apenas um dia, depois de solicitar uma pesquisa ao
amigo e historiador Mario Souto Maior sobre a origem desta brincadeira.
“Assim como eu, Mario era um grande admirador da cultura nordestina”,
avalia.
“Nossos Ursos
é um projeto que tenho guardado há cinco anos e agora vou conseguir
realizá-lo”, sentencia Spencer, contente em ver o filme sair do papel. Para
conseguir esta façanha, conta com a ajuda da produtora Página 21. Segundo a
produtora executiva Cláudia Moraes, a obra custou R$ 130 mil, sendo R$ 80
mil captados pela Petrobras, via lei audiovisual, e R$ 50 mil, pela
Fundarpe.
O lançamento
está previsto inicialmente para o Carnaval 2009, ano em que a Página 21
completa dez anos de existência. “Temos outros dois projetos para lançar
também: o novo filme de Simião Martiniano e um documentário sobre o maetro
Ademir Araújo”, avisa Cláudia. Depois do fim das filmagens, a produtora,
agora, vai atacar em outras instâncias: “Vamos trabalhar com a locução e
fazer a seleção de imagens de acervo”, explica. Cláudia acredita que o
processo de edição deverá ser iniciado em novembro ou dezembro. “Em janeiro,
começará o processo de telecinagem”.
Gravado em
digital com produto final em 35 mm, Spencer é conhecido como o cineasta das
três bitolas, por ter realizado material também em super-8 e 16mm, além de
vários trabalhos em vídeo. Autodidata, encontrou no super-8 a sua grande
escola. Na sua conta, são 43 obras (sendo sete em vídeo), em 36 anos de
cinema. A maioria dos temas é ligada a atividades da arte e da cultura
populares do Nordeste.
O elenco é
todo formado por pernambucanos. O protagonista Domingos Leão fez uma
participação em Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles, e acaba de
compor o elenco da série Som e Fúria da O2 filmes.
Aos 81 anos,
Fernando Spencer tenta viabilizar recursos para suas próximas criações.
Serão dois projetos. Um chamado O dia em que Lampião enfrentou John Wayne,
uma espécie de drama-comédia em que mostra a chegada de Virgulino a uma
cidade qualquer. Como era amante do cinema, foi assistir a uma aventura com
John Wayne. Mais tarde, sonha que está em um embate com o rei do faroeste.
Outro projeto
seria sobre Maria Bonita, mulher de Lampião. Com o nome Maria, matéria de
memória, o cineasta tenta resgatar material sobre a companheira do
cangaceiro. “Tenho muita curiosidade sobre Lampião e Maria Bonita. Queria
fazer algo aproveitando as coisas que tenho sobre o casal: são folhetos de
feira narrando aventuras deles, fotos dela escovando o cabelo dele e um
depoimento inédito de Dadá (a mulher de Corisco) sobre estas figuras
folclóricas”, avisa.
Os projetos
estão no início, ainda em fase de sinopse. O primeiro seria um
média-metragem e o segundo, um curta. “Vou me concentrar, primeiramente, em
Maria Bonita, porque o de Lampião será algo maior: um média-metragem, que
requer muito mais dinheiro”.
(©
JC Online)
Fernando Spencer captura o
‘urso’
O cineasta, patrimônio cultural vivo, conclui filmagens do seu novo curta
LUIZ JOAQUIM
O clima era de realização pessoal na tarde da última quinta-feira, em frente
ao número 49 da rua Antônio Vitrúvio, no Poço da Panela. Em torno de uma
grua (espécie de gangorra cinematográfica para fazer tomadas do alto e em
movimento), o grupo com cerca de 15 pessoas concluía a gravação da última
seqüência de “Nossos Ursos Camaradas”, o novo curta-metragem do mestre
Fernando Spencer.Em fevereiro último, a Folha de Pernambuco acompanhou
com exclusividade o princípio da captação de imagens do filme na avenida
Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Sto. Antônio. Eram cenas que precisavam
ser feitas naquele período, durante o carnaval, em função do que Spencer vai
nos contar aqui, ou seja, a origem do termo “urso” sendo utilizado na região
para definir a idéia do amante proibido, e levado à manifestação popular em
forma de brincadeira.
“Começamos pelo fim”, recorda Spencer, “em fevereiro filmamos o destino
final do ‘urso pé de lã’ quando ele, de cueca, e fugindo do marido que o
flagra com a esposa, vai parar num desfile de carnaval e encontra-se com o
‘urso’ alegórico”, explicou.Entre quarta e quinta-feira, a equipe da
produtora Página 21 concentrou-se em registrar as imagens que contam a
história prévia desse destino final. Ou seja, seqüências em que o marido (o
ator Rogério Costa) despede-se da esposa (Hilda Torrer) e vai ao aeroporto,
mas volta para casa em função do cancelamento do vôo. É na volta para casa
que se dá o flagra e a fuga do amante (Domingos Leão).
O produtor Amaro Filho conta que a casa da restauradora Persíde, locação
para cena do flagra, era o cenário perfeito para a concepção que Spencer
tinha em mente, dando pouco trabalho para Manoel Constantino e equipe na
cenografia. “Difícil mesmo foi encontrar um óculos que deixasse Domingos com
cara de cafajeste. Todos que testávamos o deixavam bem”, lembra Constantino.
E a preocupação com os óculos aqui não é despropositada, uma vez que se
trata da única indumentária que o ator usa na maioria das cenas, além da
cueca, claro.PÓS-PRODUÇÃO
A produtora Cláudia Moraes diz que planeja apontar a montagem de “Nossos
Ursos..” com Spencer e o editor J. Marcelino até o início de novembro.
“Concluímos a última captação de imagens, mas ainda aguardamos uma animação
que encomendamos com o chargista Vladimir Souza. Nela, representaremos a
história de Zeca Mariano (filho do marechal Floriano Peixoto), o atleta de
luta romana que desafia o italiano que chega com um urso polar no Recife na
década de 1920”, adianta Moraes.
Esta história, contada pelo historiador Mário Souto Maior em 2001 a Spencer
foi o que estimulou o cineasta a criar um roteiro cinematográfico para o
assunto. Neste roteiro, Spencer mescla a dramaturgia do flagra com a voz de
Renato Phaelante em off descrevendo o cunho histórico do tema.Com
recursos de 80 mil reais que veio do edital ‘Preservação da Memória’ (edital
2006/2007), da Petrobrás, e mais 50 mil reais como apoio do governo do
Estado de Pernambuco, “Nossos Ursos...” deve ficar pronto em fevereiro.
O produtor Amaro Filho quer já em janeiro passar pelo processo de transfer
(no qual imprimirá em película 35mm as imagens aqui captadas em digital)
para em fevereiro promover uma première do curta em alguma data próxima ao
carnaval 2009.“A época do lançamento de ‘Nossos Ursos...’ vai casar com
outros dois projetos da Página 21, já em forma de celebração dos 10 anos da
produtora” destaca Amaro. Um deles é “Show Variado”, um conjunto de esquetes
que o camelô de cinema Simião Martiniano está preparando. “Tudo será reunido
em DVDs, pelo qual queremos também lançar os outros títulos de Simião”,
adianta o produtor.
“O outro trabalho, já em fase de edição, chama-se “Maestro Formiga”, uma
homenagem ao maestro Ademir Araújo”, contou Amaro entusiasmado, enquanto
Spencer, sorrindo, revia no video-assistent (pequeno monitor que auxilia os
diretores) as cenas do seu ‘urso pé de lã’ correndo desesperado do marido
traído.
(©
Folha de Pernambuco) |
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