26/10/2008
|
Targino Gondim
|
Forrozeiro
pernambucano espera conquistar mais espaço no Recife. Ele está lançando CD
com favoritas do público e DVD com show de 2005, além de preparar festival
de sanfona
José Teles
teles@jc.com.br
Por mais
paradoxal que seja, o forró autêntico, o que se convencionou chamar
pé-de-serra, encontra-se em melhor situação no Nordeste hoje do que no seu
período clássico, entre os anos 50 e 60. Mesmo tocando infinitamente menos
nas emissoras de rádio, com a concorrência das bandas de fuleiragem music.
Uma prova disto é o pernambucano (de Salgueiro) Targino Gondim, que tirou a
sorte grande quando Gilberto Gil gravou seu xote Esperando na janela
(parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeom). Gondim virou sucesso
nacional, fez turnê com o então ministro da cultura, mas continua morando em
Juazeiro (BA): “Eu tenho um certo conforto em relação a outros forrozeiros
pela exposição que Esperando na janela me deu. Os convite para show não
faltam. Fiz recentemente apresentações em Portugal. Teve esta entresafra do
período político, mas as coias voltam ao normal. Em novembro começo a gravar
um programa sobre a caatinga, uma série para a TV Cultura”, comenta o
forrozeiro, em entrevista por telefone.
Targino
Gondim está lançado de uma só fornada um CD e um DVD. “O CD fiz a pedido da
Atração, um disco com as músicas preferidas do meu público, gravadas ao
vivo, com três músicas inéditas, que cantei na turnê por Portugal. O DVD tem
um show de 2005”, conta ele, que trabalha em mais outro projeto, o Festival
Nacional da Sanfona, previsto para março de 2009, em Petrolina e Juazeiro:
“Um amigo aprovou o festival na Lei Rouanet e me convidou para ser o
curador. Na época convidei Sivuca, que estava com problemas na garganta e
disse que não podia vir. O festival será dedicado a ele e a Luiz Gonzaga.
Era para ser realizado em dezembro, no aniversário de Luiz Gonzaga, mas
passamos para março, de 19 a 21”.
O festival
reunirá instrumentistas de vários estilos e regiões. Entre outros, Renato
Borghetti (RS), Oswaldinho do Acordeom (SP), Zé Calixto e Luizinho Calixto
(PB), Geraldo Correa (PB), Mestre Camarão, e ainda Elba Ramalho, Biliu de
Campina e provavelmente Gilberto Gil. “Convidei Gil, que inclusive também
toca sanfona, quando ainda era ministro. Agora vou ter que convidar o
artista, e torcer para que tenha vaga na agenda”, diz Targino, acrescentando
que é cada vez maior o número de sanfoneiros no Nordeste, em grande parte,
por causa das bandas de fuleiragem music. “Elas têm um lado negativo e um
positivo. Por volta de 1991, numa banda como Mastruz com Leite se podia
ouvir muito a sanfona, com o surgimento de mais bandas abriu-se uma brecha
para o sanfoneiro trabalhar, e eles não ficavam só naquela música não.
Estudavam, ouviam muito Dominguinhos. Hoje nem precisam usar a palavra forró
no nome”.
Outro ponto
positivo, segundo Gondim é que mesmo que tenham instalado em todo o Brasil o
sistema do jabá e sejam muito fortes, quando acabam logo surge outra. “Hoje
é Aviões, amanhã Aviões termina, e vem uma nova banda. Isto levou o forró
pé-de-serra a também ter seu espaço o ano inteiro. Na Bahia, o São João hoje
é mais rentável do que o Carnaval, que só tem poder em Salvador, enquanto o
período junino tem grandes festas em várias cidades do interior, e também na
capital, movimenta o estado inteiro”.
Embora seja
pernambucano, Targino queixa-se de que é em sua terra onde menos faz
apresentações: “É uma história que eu queria mudar. No Recife só faço, de
vez em quando, a Sala de Reboco. Aliás faço show lá em novembro e aproveito
para lançar o disco e o DVD”. Talvez ele tenha mais espaço para lançar os
próximos CD e DVD. O primeiro está gravado, Canções de Luiz, só com
regravações de músicas de Luiz Gonzaga. O segundo será gravado no Festival
Nacional da Sanfona, já com a participação garantida de Elba Ramalho.
(©
JC Online)
Margareth mantém a forma fora do axé
Cantora grava inédita de Marisa Monte e Arnaldo Antunes e canta com
Gil
Lauro Lisboa Garcia
Como Daniela Mercury, Margareth Menezes é das poucas cantoras baianas
vinculadas ao carnaval que têm repertório decente e potencial para
transitar por gêneros variados. Significativamente acima da média, no
entanto, nem sempre são bem-sucedidas as tentativas (de ambas) para
fugir do estigma da axé music, quando tentam baixar o tom de suas vozes
trovejantes. Naturalmente (MZA Music) é o título da nova investida de
Margareth, que tem mais méritos do que seu irregular álbum anterior, Pra
Você (2005).
O novo CD começa em cadência de reggae, com ela e Gilberto Gil em dueto
em Mulher de Coronel, que ele lançou em 1989. A canção não é da melhor
safra do compositor, mas tem "apelo radiofônico", como diria um
executivo de gravadora dos tempos de vacas gordas. Nesse aspecto, o CD
melhora um tanto na segunda faixa, Gente, parceria inédita de Marisa
Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes, que envereda pelo lado tribalista,
festeiro, dançante de Margareth e é tão descartável quanto a de Gil.
Bem mais consistentes são Febre (Zeca Baleiro/Lúcia Santos) e Matança
(Jatobá), nas quais também se denotam duas de suas melhores
interpretações. Margareth também canta samba (Abuso de Poder, de
Marquinho PQD e Carlito Cavalcante) e investe em baladas como Os Cegos
do Castelo (Nando Reis), Foi Deus Quem Fez Você (Luís Ramalho) e Por Que
Você Não Vem Morar Comigo? (Chico César). As três foram gravadas antes
por Nando, Amelinha e César. Na voz de Margareth só a última cai bem.
Foi Deus não é nenhuma pérola que mereça ser relembrada. Nem Um Caso a
Mais, de e com Luis Represas em duo.
Como Daniela, ela é melhor cantando do que quando compõe. Lua no Mar
(parceria com Robson Costa) está aí para confirmar. De qualquer maneira,
com boa produção, entre altos e baixos, é bom ouvir Margareth
diversificada, mais tranqüila, fora do contexto do samba-reggae, e em
boa forma vocal.
(©
Estadão) |
|
|
Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
|