Depois de meses
de ensaio, a Poruu faz hoje sua estréia oficial. Detalhe: o trio não traz o
repertório do show ensaiado. Cria música na hora e o público pode
influenciar na criação
José Teles
teles@jc.com.br
Quando lançou,
em maio do ano passado, o disco solo Projeções e mais duas séries para
violões de sete cordas, Marcelo Campello ainda estava na Mombojó, mas sua
saída começava a se delinear. Não devido aos elogios recebidos pelo CD solo,
inteiramente instrumental (ele tocando um violão de sete cordas), mas porque
tinha na cabeça sons que não se encaixavam na Mombojó, da qual saiu no
início deste ano. “Acho que completou meu ciclo na banda, além do mais eu
queria buscar outros caminhos desde que fiz o disco instrumental. Aprendi
muito com a Mombojó, foi a minha adolescência. Aprendi como funciona a
cadeia produtiva da música, como as coisas funcionam, porém desde Projeções
eu já sabia o caminho que queria seguir”, diz Marcelo Campello que estréia
hoje em banda nova, a Poruu, no Café Porteño, no Espinheiro.
A Poruu é um
trio, formado por Campello (guitarra) Yezu Kaeru (percussão) e Igor de
Medeiros (sintetizador). Hoje, o grupo terá as participações especiais de
Thelmo Cristovam e Henrique Vaz (a apresentação será filmada por Gabriel
Mascaro). O nome da banda, feito o da Mombojó, é uma palavra inventada pelos
integrantes e não significa absolutamente nada. “Ou pode significar tudo.
Este vazio de significado pode ser preenchido pelas pessoas que assistirem à
banda, então ele acaba significando muitas coisas”, comenta Marcelo
Campello. A banda não nasceu premeditadamente. “No início éramos apenas três
caras que gostavam de tirar um som juntos. Este ano começamos a nos reunir
mais sistematicamente, até que decidimos formar o grupo”, continua Campello.
Improvisação
é a base da música da Poruu, mas não tem nada a ver com jazz, ressalta o
guitarrista. “Não sei explicar o que seria nossa música. Porque, para
começar, nem tem música pronta antecipadamente, nem combinação prévia,
melodia, andamento, nada. A música vai surgindo a partir do que se sugere.
Toda vez que é tocada é reinventada, e aí pode ter influência do próprio
ambiente, do público. Até uma vaia poderia interferir na criação”.
Se é tudo
feito na hora, então por que o trio ensaia? “Ensaiamos para abrir caminhos.
O conceito é este de fluxo de consciência, como fazia John Cage. Quer dizer,
a coisa está no ar há tempos, não tem nada de revolucionário”.
Talvez não
revolucionário, mas, convencional certamente a Poruu não é. Os instrumentos
do trio, um sintetizador, uma guitarra semi-acústica e percussão são
devidamente aditivados, ou melhor, preparados, seguindo a receita de “piano
preparado” de John Cage. “Passo o dia procurando objetos pela casa para usar
na guitarra, pode ser qualquer coisa: molas, grampos. Quero expandir ao
máximo as possibilidades sonoras do instrumento. Tem quem compre pedaleira,
mas posso tirar um som diferente da guitarra empregando coisas bem mais
baratas. Nada contra pedais. O espírito é este, invenção. A percussão,
tocada por Yezu, também não é nada convencional. Ele usa panelas, arco num
prato, muita coisa. É o conceito de que de tudo se pode tirar um som”.
O primeiro
disco da Poruu será o registro do show de hoje. “A gente tem alguma música
gravada, mas não com a mesma qualidade do equipamento que utilizaremos no
Café Porteño. Temos planos de lançar CD, mas este trabalho vai ser colocado
no myspace (www.myspace.com/poruu)”, diz Marcelo Campello. Os planos do
grupo? “A gente quer circular, até mesmo porque o tipo de som que tiramos
vai ter mais aceitação lá fora. E como somos um trio, fica mais barato, é
mais fácil o pessoal contratar o show da banda”.
» Show de
estréia da banda Poruu, às 21h, no Festival Instrumental, no Café Porteño,
rua da Hora, 712, Espinheiro. Couvert: R$8. Reservas: 3077-3006.
(©
JC Online)