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Poruu, uma banda que toca sem música

28/10/2008

 

 

Foto: Divulgação

A banda Poruu
 

Depois de meses de ensaio, a Poruu faz hoje sua estréia oficial. Detalhe: o trio não traz o repertório do show ensaiado. Cria música na hora e o público pode influenciar na criação

José Teles
teles@jc.com.br

Quando lançou, em maio do ano passado, o disco solo Projeções e mais duas séries para violões de sete cordas, Marcelo Campello ainda estava na Mombojó, mas sua saída começava a se delinear. Não devido aos elogios recebidos pelo CD solo, inteiramente instrumental (ele tocando um violão de sete cordas), mas porque tinha na cabeça sons que não se encaixavam na Mombojó, da qual saiu no início deste ano. “Acho que completou meu ciclo na banda, além do mais eu queria buscar outros caminhos desde que fiz o disco instrumental. Aprendi muito com a Mombojó, foi a minha adolescência. Aprendi como funciona a cadeia produtiva da música, como as coisas funcionam, porém desde Projeções eu já sabia o caminho que queria seguir”, diz Marcelo Campello que estréia hoje em banda nova, a Poruu, no Café Porteño, no Espinheiro.

A Poruu é um trio, formado por Campello (guitarra) Yezu Kaeru (percussão) e Igor de Medeiros (sintetizador). Hoje, o grupo terá as participações especiais de Thelmo Cristovam e Henrique Vaz (a apresentação será filmada por Gabriel Mascaro). O nome da banda, feito o da Mombojó, é uma palavra inventada pelos integrantes e não significa absolutamente nada. “Ou pode significar tudo. Este vazio de significado pode ser preenchido pelas pessoas que assistirem à banda, então ele acaba significando muitas coisas”, comenta Marcelo Campello. A banda não nasceu premeditadamente. “No início éramos apenas três caras que gostavam de tirar um som juntos. Este ano começamos a nos reunir mais sistematicamente, até que decidimos formar o grupo”, continua Campello.

Improvisação é a base da música da Poruu, mas não tem nada a ver com jazz, ressalta o guitarrista. “Não sei explicar o que seria nossa música. Porque, para começar, nem tem música pronta antecipadamente, nem combinação prévia, melodia, andamento, nada. A música vai surgindo a partir do que se sugere. Toda vez que é tocada é reinventada, e aí pode ter influência do próprio ambiente, do público. Até uma vaia poderia interferir na criação”.

Se é tudo feito na hora, então por que o trio ensaia? “Ensaiamos para abrir caminhos. O conceito é este de fluxo de consciência, como fazia John Cage. Quer dizer, a coisa está no ar há tempos, não tem nada de revolucionário”.

Talvez não revolucionário, mas, convencional certamente a Poruu não é. Os instrumentos do trio, um sintetizador, uma guitarra semi-acústica e percussão são devidamente aditivados, ou melhor, preparados, seguindo a receita de “piano preparado” de John Cage. “Passo o dia procurando objetos pela casa para usar na guitarra, pode ser qualquer coisa: molas, grampos. Quero expandir ao máximo as possibilidades sonoras do instrumento. Tem quem compre pedaleira, mas posso tirar um som diferente da guitarra empregando coisas bem mais baratas. Nada contra pedais. O espírito é este, invenção. A percussão, tocada por Yezu, também não é nada convencional. Ele usa panelas, arco num prato, muita coisa. É o conceito de que de tudo se pode tirar um som”.

O primeiro disco da Poruu será o registro do show de hoje. “A gente tem alguma música gravada, mas não com a mesma qualidade do equipamento que utilizaremos no Café Porteño. Temos planos de lançar CD, mas este trabalho vai ser colocado no myspace (www.myspace.com/poruu)”, diz Marcelo Campello. Os planos do grupo? “A gente quer circular, até mesmo porque o tipo de som que tiramos vai ter mais aceitação lá fora. E como somos um trio, fica mais barato, é mais fácil o pessoal contratar o show da banda”.

» Show de estréia da banda Poruu, às 21h, no Festival Instrumental, no Café Porteño, rua da Hora, 712, Espinheiro. Couvert: R$8. Reservas: 3077-3006.

(© JC Online)

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