07/11/2008
Foto:
Divulgação
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Priscila Fantin e Murilo Rosa no filme 'Orquestra dos meninos'
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Paulo Thiago
leva para a tela a história da Orquestra Sinfônica do Agreste, que ganhou
projeção nacional nos anos 90.
Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
O cineasta
mineiro (radicado no Rio) Paulo Thiago tem uma filmografia claramente
interessada em histórias brasileiras. Filmou em Pernambuco uma espécie de
épico histórico chamado Batalha dos Guararapes (1977), mostrou um
caminhoneiro pelas estradas do Brasil em Jorge um brasileiro (1988) e
investigou a alma do que se chama o tupiniquim em Policarpo Quaresma – Herói
do Brasil (1998), onde seu herói queria o tupi-guarani como nossa língua
oficial. Seu novo filme, A orquestra dos meninos (2008), segue o curso com
mais um relato brasileiro, inclusive de uma história real: o nefasto sistema
de intrigas pessoais e políticas que tentou derrubar o trabalho de música e
cultura orquestrado por um professor no Agreste pernambucano.
A história de
Mozart, natural de Belo Jardim, é material farto para um filme e não é
difícil associar essa história pronta a Thiago e sua adesão irrestrita às
convenções de uma narrativa popular/popularesca. Temos o herói contra todos
e injustiçado, investindo no árido terreno da falta de cultura e de educação
como alvo incansável desse trabalho (visto como alienígena, como não poderia
deixar de ser num mar de pobreza).
Purificador e
esclarecedor, os beneficiários são a sociedade como um todo, e mais
diretamente um grupo de crianças que, de outra maneira, nunca teriam acesso
à música e a novas oportunidades. Entre o final dos anos 80 e os anos 90,
Mozart, músico e professor, formou a Orquestra Sinfônica do Agreste,
utilizando menores que estariam normalmente pegando em enxadas, e não em
tubas e oboés.
Se o projeto
é exemplar do ponto de vista de como alguém põe em prática sua paixão e
claro amor à arte, é também o tipo de pauta que a imprensa adora, até mesmo
por trabalhar com arquétipos arcaicos da representação de uma cultura –
leia-se “crianças sertanejas tocando música clássica, que inusitado...”. A
televisão vive desse tipo de realismo fantástico com base no político e no
social, e a Rede Globo fez uma matéria especial memorável que “vendeu” a
história para todo o País com aquele ar de encantamento global tão
conhecido.
Para encurtar
a história, com o projeto na Globo e a orquestra sendo recebida pelo então
presidente da República Itamar Franco, tudo os levou também a uma turbulenta
ciumeira política que Mozart preferiu não concordar. Os desenvolvimentos
incluem sugestões de pedofilia e o seqüestro de um dos garotos integrantes
com uma pitada impensável de terror.
Há um mês,
Paulo Thiago, Mozart e o ator que o interpreta, Murilo Rosa, vieram ao
Recife para divulgar o filme. Tentamos perguntar ao maestro o que ficou dos
eventos de 1995 e como isso bate com o filme. “Esse filme fala de uma
ditadura branca, pois é o que acontece com alguém que se mete com questões
sociais e vai falar a verdade. Há pré-requisitos que te perseguem como, por
exemplo, a inveja. Hoje eu conheço a diferença entre o mal e o bem. Ali veio
o ódio, a prepotência e a inveja, a oligarquia. Sou sério, belo jardinense,
casado há 21 anos com o amor da minha vida e vi bandidos terem tratamentos
mais especiais do que o que eu tive na época”, disse.
Sobre o filme
em si, A orquestra dos meninos nos coloca (os espectadores), numa difícil
posição, que é a de ver o filme (envolvente no seu estilo rústico com tudo
bem preto e tudo bem branco) e não esquecer que se trata de uma dramatização
de incidentes verídicos, algo que sentimos também no também baseado em fato
Última parada: 174, de Bruno Barreto.
O diretor
Paulo Thiago não parece operar muito bem com sutilezas no seu cinema, sempre
pintado com pinceladas espessas. Isso significa que os vilões (todos os que
vão contra a bela obra) agem como os vendilhões do templo numa paixão de
Cristo teatral, enquanto nosso herói (Murilo Rosa, constante, mas com a
questão do sotaque digital tão comum nas representações do Nordeste via
sudestinos) corre de A para B num papel que seria, de direito, de um Gregory
Peck ou um Tarcísio Meira. Personagens com Cussy de Almeida e Dom Helder
Câmara ganham roupas negras ou alvas como as nuvens, e há um estranho
transplante da morte do então crítico de música do Jornal do Commercio,
Heber Fonseca (de fato um dos grandes defensores da obra do maestro Mozart)
para fins narrativos do filme em si que não fazem qualquer sentido.
Constata-se
que A orquestra dos meninos narra uma história, realmente, isso é o seu
mérito, mas parece cego às grandes possibilidades de oferecer um panorama
humano e social complexo do Brasil, país sem educação e que, em bolsões de
ignorância arcaica, vê o conhecimento como algo que precisa ser destruído, e
não estimulado. Trabalha com as não-sutilezas de uma reportagem de TV onde
todos parecem ter sido especialmente penteados para aparecer, e onde fatos
são apresentados sem grande atenção para os detalhes. Poderá ser um sucesso.
(©
JC Online)
Astros de 'Orquestra dos meninos', Murilo Rosa e Priscila Fantin falam
da emocionante história real do filme
RIO - Em um ano em que o cinema comercial brasileiro parece estar mais
focado em violência e comédia pastelão, chega aos cinemas, esta sexta-feira,
"Orquestra dos meninos"
(assista ao trailer) , de Paulo Thiago. Estrelado por Murilo Rosa e
Priscila Fantin, o filme aposta no filão aberto na indústria nacional por
"Dois filhos de Francisco", sobre a história de um músico que luta contra
adversidades para conquistar seu sonho. E que ninguém duvide que acabará
emocionando o público.
- Esse filme toca em um assunto muito sério e para mim, como ator, é um
orgulho. Só pela história, ele já merece ser visto. Ele dá esperança - conta
Murilo Rosa, que interpreta na tela o maestro Mozart Vieira.
O longa é baseado na história real de Mozart, que criou, na década de 90
no interior pernambucano, a Orquestra Sinfônica do Agreste, formada por
crianças e adolescentes pobres que encontraram na música clássica uma
alternativa para a vida sofrida na roça.
- Quando li o roteiro, a história me comoveu bastante: um homem simples
com uma visão de inclusão social, confiando na educação através da música. É
incrível. Foram muitos anos de luta pela sobrevivência de um ideal e hoje
eles atendem 200 crianças na fundação - diz Priscila Fantin, que, em seu
primeiro papel no cinema vive Creusa, esposa de Mozart e uma das primeiras
integrantes da orquestra.
Em 1995, o maestro foi acusado falsamente de pedofilia e de forjar o
seqüestro de um dos integrantes da banda, por contrariar interesses dos
poderosos locais. Uma injustiça que só foi desmascarada com a ajuda do então
bispo Dom Hélder Câmara e de uma campanha com músicos nacionalmente
conhecidos, como Ivan Lins e Geraldo Azevedo.
- Eu acredito no filme, então estou trabalhando nele da melhor forma,
fazendo toda a divulgação para que ele possa ser assistido. Ele tem um tema
muito importante: é a história de um artista brasileiro que abriu uma
fundação para ensinar música clássica em uma cidade de 10 mil pessoas no
meio do Agreste - completa Murilo Rosa.
Mais do que contar uma história, o longa de Paulo Thiago cumpre, de certa
forma, uma função social. O reconhecimento da inocência de um homem que teve
que pagar caro por lutar pelo que acreditava: que um artista só deve se
curvar para receber o aplauso do público.
- O filme não é um documentário, tem coisas que não são como aconteceram
de verdade, mas tenho certeza que o filme já ajudou a tirar uma mancha de
dentro do Mozart, a mostrar a inocência dele - diz o ator.
Para os atores, um dos desafios era o de interpretar personagens reais -
e vivos -, contando uma história que se passou há apenas 13 anos. Para
Priscila Fantin, isso não foi uma dificuldade:
- Não sofri influência, porque conheci a Creusa depois do filme pronto.
Eu quis sentir e dar vida a ela a partir da história, e essa também foi a
proposta do diretor.
Já Murilo Rosa conta que conheceu o maestro uma semana antes das
filmagens, em Sergipe, e jantaram juntos. O ator levou um caderninho
escondido e anotou tudo que achava importante.
- Prestei muita atenção no sotaque, no jeito das mãos e no vigor
intempestivo da fala. Mas Mozart não é uma personalidade reconhecida para
que as pessoas saibam como ele é, então não tive que me preocupar com a
caracterização e quis ir fundo no sentimento, na emoção. Assisti ao filme ao
lado dele e foi muito emocionante. Ele me disse que chegou uma hora que ele
não sabia mais o que era o filme e o que era a vida dele e se enxergou em
mim na tela. Isso é gratificante.
(©
O Globo)
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