Virgínia Rodrigues: canções de amor ao lado do piano
18/11/2008
Foto: Divulgação
Virgínia Rodrigues
Cantora radicaliza ao dividir Recomeço só com as teclas de Cristóvão
Bastos
Lauro Lisboa Garcia
A voz operística da baiana Virgínia Rodrigues já dramatizou até sucessos
de carnaval de seus conterrâneos da axé music. Ela também já mergulhou,
convincentemente, nos clássicos afro-sambas de Baden Powell e Vinicius
de Moraes em Mares Profundos. Seu quarto álbum tem o sugestivo título de
Recomeço (Biscoito Fino). "Meus outros discos foram lançados pela
Natasha, para onde Caetano Veloso me levou. Este é o primeiro por uma
outra gravadora e acho que a partir desse trabalho é que vou saber se
minha carreira existe ou não. Por isso coloquei esse título", diz a
cantora.
Virgínia, que até aqui se voltou mais para o cancioneiro ligado à
negritude brasileira, agora radicalizou de outra forma. Decidiu gravar
11 canções sentimentais acompanhada apenas do piano de Cristóvão Bastos,
sem que para isso tenha mudado a forma de interpretar. "Não importa se
você está falando de amor, de tristeza ou protestando contra alguma
coisa, para cada uma há uma carga de emoção."
A cantora diz que esse projeto de voz e piano estava enraizado nela
havia muito tempo. "Mas é aquele tipo de coisa que você vai empurrando
pra frente, ou porque tem medo ou porque acha que ainda não é hora. A
oportunidade veio agora", diz a mezzo-soprano. "Já tinha feito algumas
coisas só com voz e piano quando cantava em corais e casamentos",
lembra.
A canção que abre o CD é uma célebre e pungente parceria do pianista com
Chico Buarque - Todo o Sentimento -, que já ganhou registros de Elizeth
Cardoso, Ney Matogrosso e Maria Bethânia, entre outros. Canção de Amor
(Elano de Paula/Chocolate), A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), Beatriz
(Edu Lobo/Chico Buarque), Por Toda a Minha Vida e Estrada Branca (ambas
de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) também foram gravadas por intérpretes
de forte personalidade, como Elis Regina, Ângela Maria, Maysa, Zizi
Possi, Milton Nascimento, além de Elizeth.
Do repertório de Simone, ela deu novos ares para Alma (Sueli Costa/Abel
Silva) e pinçou raridades de Francis Hime e Vinicius (Eu te Amo, Amor),
Novelli e Cacaso (Triste Baía da Guanabara), Guinga e Paulo César
Pinheiro (Porto de Araújo). Sem se prender a referências de seus
antecessores, Virgínia imprime sua marca em cada uma das canções. "Cada
intérprete sente a canção de maneira diferente, não suporto essa palavra
referência. Interpretação é uma coisa muito pessoal."
Algumas dessas canções são desafiadoras para qualquer intérprete, mas
ela não se intimidou diante da situação, embora considere difícil cantar
música popular em português, especialmente a brasileira. "Os afro-sambas
de Baden e Vinicius também são difíceis, dissonantes pra caramba, mas
para aquele disco tive mais tempo de estudar e, ao contrário do que as
pessoas pensam, cantar com orquestra, com um monte de instrumento te
cobrindo, é muito fácil."
Para dar "cobertura", nos shows de lançamento que passaram pelo Rio e
Salvador e chegam a São Paulo nos dias 29 e 30 (no Sesc Pompéia), além
do piano de Itamar Assiére, ela tem o violoncelo de Iura Ranevsky e a
percussão de João Bani. Antes, no dia 20, Virgínia canta na Catedral da
Sé, para celebrar o Dia da Consciência Negra.
Trabalho que recebeu o nome de
Recomeço, marca a volta da cantora baiana após quatro anos longe dos estúdios
Bruno Ribeiro
Quatro anos após lançar seu terceiro disco, a cantora Virgínia Rodrigues
ressurge com o belíssimo CD Recomeço, trabalho de nome sugestivo e
repertório diferente de tudo o que a baiana havia gravado até então.
Primeiro álbum pela gravadora Biscoito Fino, Recomeço é composto
exclusivamente por canções de amor e a voz ancestral da cantora aparece
acompanhada apenas pelo piano de Cristóvão Bastos. Em entrevista ao Caderno
C, ela diz que gravar um disco de piano e voz era um sonho antigo. “Mas tudo
tem seu tempo certo e só agora foi que consegui colocar o projeto em
prática”, conta.
Segundo Virgínia Rodrigues, as faixas foram escolhidas de modo a
contemplarem o universo do amor romântico que permeia o inconsciente
coletivo do povo brasileiro. Há canções que falam de amores começados e
terminados, saudade, traição, prazer e desconsolo. “Mesmo que algumas letras
sejam tristes, as canções são plenas de leveza e nos transportam para outros
lugares”, comenta a cantora. A maioria das canções, explica Virgínia, marcou
a sua infância e adolescência. “Ouvia minha avó e minha mãe cantando na
cozinha e prestava atenção, achava lindo... Nunca mais esqueci dessas
melodias”, revela.