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As viagens musicais de Silvério

20/11/2008

 

 

Foto: Divulgação

Silvério Pessoa
 

O cantor carpinense transforma em livro o diário de cinco anos de turnês, que até então estavam disponível apenas em seu blog na internet

José Teles
teles@jc.com.br

Nômade, o diário de viagens que Silvério Pessoa autografa hoje, a partir das 19h, na sede da edições Bagaço, no Poço da Panela, surgiu do blog Monolítico-tema, no qual o artista se comunicava com seu público e traçava o roteiro de suas turnês pelo Brasil, Europa e Ásia, entre 2003 e 2008. É um dos primeiros blogs do gênero que se transfere do virtual para o material, com uma qualidade que surpreendeu o próprio Silvério: “Para mim realmente foi uma grata surpresa, porque o blog é um pouco frio e o livro ficou muito colorido, dinâmico, bem versátil”.

Em suas 184 páginas, fartamente ilustradas, o cantor tece comentários, observações, traça suas andanças e sua trajetória, do sítio da avó (que virou faixa do primeiro disco da Cascabulho) até shows em Tóquio: “Nasci em Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco. Região úmida. No sítio de minha vó Alaíde, respirei o ar da cana-de-açúcar, vi na feira e ouvi na Rádio Planalto de Carpina os cantadores, o maracatu rural, as cirandas e trios de forró... Minha música é uma síntese das canções da Zona da Mata, Agreste e Sertão, e da sonoridade e idéias dos jovens dos Centros Urbanos... Em 1994, morando em Jaboatão dos Guararapes, Vila Rica, e estimulado pelas idéias do Movimento Mangue, ouvi Chico Science dizer: “Faça o que você é que dá certo...”. Silvério fez a coisa certa. Ajudou a fundar o grupo Cascabulho, com o qual fez a primeira excursão ao exterior. Deixou a banda em 2000, e arquitetou uma carreira solo das mais bem-administradas entre os músicos pernambucanos da sua geração.

Seu primeiro disco individual revisitou uma parte do repertório de Jacinto Silva, a que se referia ao povo humilde que labuta na cana-de-açúcar. Bate o mancá – O povo dos canaviais, lançado em 2001, numa produção independente, abriu o caminho para o mercado internacional, quando passou a ser distribuído na Europa, a partir de 2004, pelo selo L’Autre Distribution. A parceria com o produtor francês Marc Regnier alavancou a carreira de Silvério Pessoa lá fora. Ao longo dos cinco anos documentados no blog, e agora em livro, ele se tornou presença constante nos principais festivais do verão europeu, num intenso intercâmbio com artistas do Sul da França. Sua presença no filme Moro no Brasil, do finlandês Mika Kaurismaki, que concorreu no festival de Cannes, o tornou ainda mais conhecido. Foi, como diz Silvério, “uma boa janela para a divulgação do meu trabalho na Europa”. No filme ele é uma espécie de cicerone, levando a equipe de filmagem da Zona da Mata até o Agreste e litoral.

Os textos são curtos e leves. Funcionam bem na internet, e ainda melhor no livro, como por exemplo: “LÍNGUA outra loucura. Depois de passar pelo espanhol, em dialetos diferentes, como o galego e o catalão, entramos na França, depois ouvimos o dinamarquês, o inglês, voltamos ao francês e, agora, em Sarawah, se fala o malinês, chinês, o inglês (por causa da colonização da Inglaterra), e alguns falam o francês”. Ou ainda, a espontaneidade ao comentar um festival numa floresta na Malásia: “O SHOW – não existe comentar um show desses! Não existe! Depois de 5 dias de festival, recebemos a enorme responsa de fechar a noite, e ainda fui convidado para o ser o mestre de cerimônia do final do festival, chamando para uma enorme canja todas as bandas participantes! Imaginem. Lindo, emocionante, tendo uma floresta como cenário e um público de 10.000 pessoas novamente gritando: frevoooo! Frevoooo!” Da Malásia algumas páginas à frente e lá estão Silvério e banda de volta à Zona da Mata Norte, com shows em Paudalho e Carpina, comentados com o mesmo entusiasmo com que comenta um passeio na Holanda, ou um show em Paris, e tudo fartamente documentado por muitas fotos. O fecho fica com versos de Cecília Meireles: “Sei que canto. E a canção é tudo/ tem sangue eterno e alma ritmada/ E um dia sei que estarei mudo: – mais nada”.

»Lançamento do livro Nômade, de Silvério Pessoa, com com sessão de autógrafos, e exibição de trechos de turnês do cantor e banda em telão, a partir das 19h, na sede da Edições Bagaço, Rua dos Arcos, 150, Poço da Panela. Preço: R$ 40. Outras informações: 3441.0132.

(© JC Online)


ÁUDIO

  Silvério Pessoa - Poesia Urbana

VÍDEO

Silvério Pessoa - Carreiro Novo

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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