Compositor que fez parte do coletivo Nuvem 33 nos anos 70 e depois integrou
a vanguarda paulistana relança Cabelo de Sansão
José Teles
teles@jc.com.br
Quem vê o
cearense Tiago Araripe hoje, cinquentão, calvo, discreto no vestir, jamais
irá imaginar que se trata do mesmo que, nos idos de 72 agitou a cena musical
pernambucana no coletivo Nuvem 33, com o Laboratório de Sons Estranhos, o
grupo mais performático daquela movimentação udigrudi. Em 1973, araripe foi
para São Paulo, onde ajudou a formar a banda Papa Poluição, que marcou época
na cidade. Na década de 70, foi parceiro de Tom Zé, de Cid Campos, do pai
deste, Augusto de Campos. Tiago esteve envolvido na maioria das elucubrações
acontecidas na paulicéia desvairada, que acabaram desaguando no começo dos
80, no que se convnecionou chamar de Vanguarda Paulista, e no primeiro selo
independente importante do País, o Lira Paulistana. Seu disco Cabelos de
Sansão, que relança hoje, às 19h, na Passa Discom foi o segundo título do
Lira.
O
relançamento acontece graças a Zeca Baleiro, admirador do trabalho de Tiago
Araripe, e que o abrigou em seu selo, o Saravá Discos. Um relançamento que
deve levá-lo de volta ao estúdio. “É um resgate importante em dois níveis:
primeiro, por dar oportunidade às novas gerações de ter acesso a iniciativas
raras como a do Lira Paulistana no início dos anos 80, e da Saravá Discos
agora. Nos dois casos, são espaços abertos para trabalhos à margem das
grandes gravadoras, reveladores de outras formas de vida – no sentido de
valorização da diversidade cultural. Na época do LP, era difícil classificar
qual era exatamente o tipo de música que eu fazia – o mercado formal não
estava preparado para vender essa indefinição”, comenta Araripe.
Passados 35
anos, ele recomeça a carreira de músico, que trocou pela publicidade. “É
significativo estar de volta ao Recife, onde a viagem musical começou. O
relançamento de Cabelos de Sansão abre possibilidades para outro disco,
capaz de revelar composições armazenadas ao longo do tempo – inclusive
parcerias com Zeca Baleiro. O resgate de Zeca é importante também do ponto
de vista pessoal, ao me possibilitar uma reconexão com minha própria
história de vida. A leitura que ele faz do disco começou a me mostrar novas
possibilidades, indicando que o esforço não foi em vão”, diz Tiago.
Como é de
praxe nos lançamentos na Passa Disco, a sessão de autógrafo será acompanhada
de um pocket show, de Tiago Araripe com o violonista Leonardo César da
Silva: “Vou apresentar um punhado de canções de Cabelos de Sansão. Algum
elemento surpresa é sempre possível – e será sempre bem-vindo”, diz ele.
» Sessão
de autógrafos e pocket show do CD Cabelos de Sansão, de Tiago Araripe, a
partir das 19h, na Passa Disco (Estrada do Encanamento, 480, Parnamirim).
Outras informações: 3268.0888.
(©
JC Online)
Cabelos de Sansão é som de vanguarda
Michelle de Assumpção // Diario
michelle.assumpcao@diariodepernambuco.com.br
O (re)lançamento do CD Cabelos de Sansão, do cearense Tiago Araripe,
tem uma história talvez mais interessante do que o próprio conjunto
de canções que reaparecem 26 anos depois. Antes de mais nada, elas
continuam fazendo a linha "esquisitas", experimentais, completamente
fora do gosto comercial. Hoje, aos 56 anos, o cantor e compositor
trabalha com publicidade e propaganda em Fortaleza, mas não
abandonou a música. Ao contrário, deve até gravar outra produção. O
responsável pela volta de Tiago foi Zeca Baleiro. O CD
remasterizado, que traz a capa original, será lançado hoje, a partir
das 19h, na loja Passa Disco (Shopping Sítio Trindade).
O gosto do compositor maranhense pelo trabalho de Tiago, que na
época do CD integrava a turma da vanguarda de São Paulo, movimento
conhecido como Lira Paulistana, vem de 1986. Foi nesse ano que,
procurando discos numa loja, Baleiro deparou-se com uma capa
interessante que o fez comprar o LP: um homem, magro, de cabelos
compridos, cavalgando um leão em pleno espaço sideral. Foi amor à
primeira audição. Em oposição a toda a massificação das baladas dos
anos 80, Tiago revivia o tropicalisamo, o psicodelismo e o rock
nordestino de influências regionais - no seu caso, as tradições
populares da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, o reisado e o
maneiro-pau.
Zeca Baleiro demorou para conhecer Tiago. Certa vez, durante um show
em Fortaleza, pediu à sua produção que o localizasse. Os dois
tornaram-se parceiros e, tempos depois, o músico maranhense resolveu
relançar Cabelos de Sansão, o álbum que tanto o impressionou. Hoje à
noite, o cantor apresenta músicas do álbum ao lado do violonista
Leonardo César da Silva. O disco estará à venda por R$ 20. Fone:
3268-0888.