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O artista cearense Antonio Bandeira (1922-1967)
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MAC expõe uma panorâmica da obra do pintor
cearense que revela sintonias e aspectos mais
íntimos do processo criativo
Maria Hirszman
Quem esperar encontrar apenas típicas telas de Antonio Bandeira
(1922-1967), com suas explosões de cor e intensa gestualidade, na mostra
dedicada ao artista que o MAC de São Paulo abriu esta semana, ficará um
tanto decepcionado. Não se trata de uma exposição montada para reiterar
aquilo que já é conhecido e consagrado, mas sim uma tentativa de trazer
à tona aspectos menos conhecidos de sua obra, revelar sintonias e
aspectos mais íntimos de seu processo criativo.
Segundo Roberto Galvão, um dos curadores da mostra e diretor do Centro
Dragão do Mar (Fortaleza) ao qual pertencem as obras expostas, a mostra
pode ser comparada a um ensaio, com um caráter didático que casa bem com
o perfil do museu universitário paulista. Esse aspecto reflexivo
explica, por exemplo, a presença majoritária de obras até agora
inéditas. Ao expor dezenas de pequenos desenhos, esboços e pinturas lado
a lado leva o espectador a compreender melhor o processo investigativo
do artista.
Uma série de quase 30 esboços desembocam na tela Bicho, de 1947,
sublinhando na prática a importância da repetição, da disciplina, do
retorno quase obsessivo à mesma imagem na configuração de sua poética.
"Meu quadro é sempre uma seqüência do quadro que já foi elaborado (...),
indo juntar-se ao quadro que nascer depois. Talvez gostasse de fazer
quadros em circuitos, e que eles nunca terminassem, e acredito que nunca
terminarão mesmo", teria dito Bandeira em entrevista publicada em 1964 e
citada por Galvão e José Guedes no texto de abertura da mostra. Há
outros interessantes exercícios, agrupados por sua familiaridade, como
um conjunto de esboços de formas femininas de membros agigantados, que
remetem às célebres figuras antropofágicas de Tarsila do Amaral, ou a
série de desenhos e aquarelas que encerram a mostra com uma espécie de
retorno à figura, através de reiteradas imagens de paisagens urbanas.
Aliás, um dos aspectos centrais da exposição - e responsável inclusive
pelo título Desconfiguração - é a defesa clara de que Bandeira não
trabalha com conceitos abstratos, mas desconstrói, abstrai uma imagem
real, tangível. Como escrevem os curadores, ele trabalha
"indiscutivelmente com fragmentos da memória". Ou, como sintetizou
Bandeira, "em Paris, costumam chamar-me de abstrato, porém, quando vou
começar um quadro, nunca penso nisso, nesse suposto abstracionismo meu.
Quero apenas pintar, partindo da idéia (ou da imagem) de seres, cidades,
etc., isto é, coisas que eu já vi, espontaneamente".
Serviço
Antonio Bandeira. MAC-USP. Rua da Reitoria, 160, Cidade Universitária,
tel. 3091-3039. 10 h/18 h (sáb. e dom., até 16 h; fecha 2.ª). Grátis.
Até 25/1
(©
Estadão)
A mais completa mostra de Bandeira
Mais de 200 objetos entre quadros, desenhos, fotografias,
correspondências, fragmentos do livro autobiográfico, filme e peças de
uso pessoal de Antonio Bandeira são reunidos em mostra no Espaço
Cultural Unifor
Toda a singularidade e a delicadeza da arte de Antonio Bandeira
(1922-1967) — um dos expoentes máximos do abstracionismo lírico no
Brasil, uma das correntes da arte abstrata, surgida no bojo das
vanguardas européias, na primeira metade do século XX — podem ser vistas
e sentidas no Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor), da
Fundação Edson Queiroz. A abertura da exposição ´Antonio Bandeira´
acontece hoje, às 20h, para convidados, ficando aberta à visitação
pública a partir de amanhã, permanecendo em cartaz até o dia 22 de
fevereiro de 2009. A mostra reúne quase 200 objetos do pintor cearense,
entre telas, desenhos, fotografias, correspondências, fragmentos do
livro autobiográfico, filme e peças de uso pessoal.
Com a curadoria de Max Perlingeiro, a exposição destaca a importância da
obra de Bandeira no panorama artístico mundial. Além de expor as facetas
deste artista que parecia brincar com as cores, a mostra revela as
experimentações que fazia com materiais como papel jornal, juta e
isopor, assinalando que a versatilidade foi a marca registrada da arte
de Bandeira.
O pintor saiu de Fortaleza, em 1946, aos 23 anos, para conquistar,
inicialmente, o Rio de Janeiro acompanhado do pintor suíço, Jean-Pierre
Chabloz. Lá ele ganhou bolsa de estudo do governo francês, seguindo para
sua primeira temporada em Paris onde ficou até 1951. Quando volta ao
País, tem a satisfação de perceber que a arte abstrata estava sendo um
pouco aceita pelo público e críticos.
A exposição ressalta bem o traço versátil e inquieto do pintor, que
morreu aos 45 anos em Paris. Também recria um ambiente dedicado aos seus
objetos pessoais. A forma como a exposição foi montada, sugere um
passeio pela obra e a vida do pintor cearense, cuja produção artística
foi curta, apenas 20 anos. A mostra ´Antonio Bandeira´ é bastante
interativa, tanto pelo uso de recursos tecnológicos, quanto pela própria
disposição das obras no Centro Cultural Unifor.
A luz e a climatização proporcionam uma atmosfera intimista, favorecendo
uma mística entre obra/espectador/artista. É naquele espaço que o
público cearense verá as únicas imagens em movimento conhecidas do
pintor cearense, nascido em Fortaleza, em 1922, cujo primeiro contato
com a pintura foi através da professora Mundica, que utilizava como
método de ensino de arte a cópia, ou seja, o figurativo.
Na adolescência, Bandeira conheceu outros jovens que também gostavam de
arte. No final da década de 1930, existia uma geração de artistas em
Fortaleza que começava a abraçar uma nova estética. Antonio Bandeira
integrou, em 1941, a diretoria da primeira entidade de Artes Plásticas
de Fortaleza chamada Centro Cultural de Belas Artes. O Centro Cultural
de Belas Artes realizou três edições do Salão Cearense de Pintura e
Bandeira foi premiado no terceiro, em 1944, ano em que o Centro foi
fechado sendo criada em agosto, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas
(SCAP).
Bandeira participou da primeira exposição promovida pela entidade com 20
trabalhos. Em 1944 o adido cultural da embaixada francesa no Brasil,
Raymond Warnier, esteve em Fortaleza, conhecendo o pintor suíço
Jean-Pierre Chabloz que havia chegado aqui há um ano. O adido cultural
conheceu obras de alguns artistas cearenses inclusive as do jovem
Bandeira. No começo de 1945, ele viaja para o Rio de Janeiro onde fica
um ano. Em 1946 ganha bolsa do governo francês onde constrói sua
carreira.
Interação
Randal Martins Pompeu, vice-reitor de Extensão da Universidade de
Fortaleza , da Fundação Edson Queiroz e responsável pelo projeto Espaço
Cultural, destaca a importância da mostra. ´Estamos resgatando os
valores do Ceará´, disse. Uma das razões para a consolidação do Espaço
no circuito cultural da cidade é justamente o Projeto Arte Educação.
Desta vez, a exposição Antonio Bandeira pretende ir além das visitas
guiadas. Será criada uma exposição paralela, numa sala que funciona
dentro do Espaço, dedicado às crianças. O Projeto Arte Educação consiste
em visitas guiadas de alunos da rede de ensino público. A Unifor
disponibiliza ônibus para as escolas públicas, explica Randal Pompeu,
enfatizando que, assim, o Espaço democratiza a arte.
Inédito
Dentre as peças do artista, expostas pela primeira vez, estão as
pinturas realizadas pelo jovem Bandeira ainda em Fortaleza, antes de
seguir para Paris. Nas primeiras telas é possível perceber a sua paixão
pela pintura de Van Gogh. Através da exposição, percorremos toda a
trajetória da vida e da obra do artista. Ao chegar em Paris, em 1946,
entra em contato com os estudos acadêmicos de pintura. Ele estuda as
formas do corpo humano. A mostra retrata este momento
A partir do final dos anos 1940, Bandeira começa a modificar um pouco a
sua pintura. No entanto, é preciso deixar claro: Bandeira nunca se
interessou totalmente pelo figurativo. A mostra constitui um verdadeiro
passeio pelo o que alguns críticos chamam de ´gramática transfiguradora´
de Bandeira, reunindo 102 obras em pintura e desenhos, grande parte
inéditas. Além de 50 a 60 objetos pessoais.
De maneira didática, a exposição apresenta as obras produzidas em
Fortaleza (1942 a 1945); obras realizadas no Rio de Janeiro (1945 a
1946); coleção de desenhos produzidos na Academia de La Grande
Chaumière, em 1946, Paysage Désolée, de 1955. O famoso tríptico ´Sol e
Paisagem Azul´, de Paris, 1966; uma rara pintura sobre papel feita em
Toscana, Itália; obras pintadas em Londres e a sua grande produção de
abstratos feitos em Paris, no período de 1964 e 1967, incluindo últimos
trabalhos encontrados no seu ateliê, em Paris, como cinco aquarelas e o
último quadro que deixou no cavalete, antes de morrer.
Num constante vai-e-vem entre a figuração/abstração e vice-versa, as
obras de Bandeira parecem dialogar com o público. As experimentações, o
uso do azul, uma de suas cores prediletas, além do vermelho.
Poeta
Antonio Bandeira era dono de uma obra simples, delicada. Além de pintor,
desenhista, gravador, também transitou pela poesia. O difícil era
reconhecer quanto o artista usava a linguagem vocabular, ou seja, usava
as palavras para dialogar com o espectador, ou quando lançava mão à
linguagem plástica, provocando, sobretudo os olhos e a imaginação do
público. Bandeira fazia poesia com as cores criando o que os críticos
chamavam de uma ´gramática transfiguradora´ ou arte pura, que saía das
mãos do ´pintor de impulso´.
Como eram impulsivas as suas criações que transitavam entre a abstração
e a figuração com a mestria de um artista que se deixou guiar pela
lirismo, cuja inspiração era a natureza. Boêmio, Bandeira adorava a
noite, mas produzia com uma voracidade de quem tinha pressa, por isso
mesmo, o pintor cearense não teve medo de sair mundo afora em busca,
também do reconhecimento e do sucesso, mas, antes de tudo, para realizar
a sua vontade de aprender. Como mesmo deixou claro, em inúmeras
entrevistas, quando estava em Paris, que tinha muito a aprender.
Quem, sabe, Bandeira tivesse muito mais a fazer tanto pela arte quanto
pelo seu tempo. Paradoxal, impulsivo, alegre, amante da noite e,
sobretudo, da vida e da natureza. Mesmo numa época em que a arte vivia
um momento de mudança de modelos — saía do figurativo para a abstração
—, Bandeira demonstrou sua íntima relação com a natureza.
Pintou uma cidade cheia de luz, vida, economizando na forma e exagerando
no sentimento. Do mesmo modo, criou, a sua maneira, uma noite na qual
era possível enxergar pontos infinitos de luz, além de sugerir uma magia
que os amantes da noite e do se perder no mundo poderiam captar. Desta
forma, Bandeira não precisou usar palavras para fazer poesia, precisou
apenas de sentimentos e criatividade. Em Bandeira, é possível
identificar uma ´poética da abstração´. Seria Bandeira abstrato? Não
sabemos se abstrato, mas sem medo de errar, é possível afirmar que sua
pintura é lírica.
IRACEMA SALES
Repórter
Mais informações:
Exposição: Antonio Bandeira, no Espaço Cultural Unifor ( Av. Wasghinton
Soares, 1321, Bairro Edson Queiroz). De 28 de outubro de 2008 a 22 de
fevereiro de 2009. Das 10h às 20h, de terça-feira a domingo. Entrada
franca. As visitas guiadas devem ser agendadas pelo fone: 3277 3319
(©
Diário do Nordeste, 28.10.2008)
Aberta na Unifor a exposição Antonio Bandeira
A exposição Antonio Bandeira é aberta ao público,
no Espaço Cultural da Unifor
A obra de um dos artistas mais representativos do abstracionismo lírico
encontra-se em exposição no Espaço Cultural da
Universidade de Fortaleza (Unifor), da Fundação Edson Queiroz. A mostra
reúne mais de 200 objetos entre quadros, desenhos, fotografias,
correspondências, fragmentos do livro autobiográfico, documentário e
peças de uso pessoal desse artista cearense, nascido em Fortaleza em
1926 e falecido na França, em 1967.
Na abertura da exposição Antonio Bandeira, personalidades do meio
cultural, acadêmico e político destacaram-se entre os convidados da
noite. Também a presidente do Grupo Edson Queiroz, Dona Yolanda Queiroz,
o chanceler Airton Queiroz e a esposa Celina Queiroz visitaram a
exposição, que a partir de hoje é aberta ao público, prosseguindo até o
dia 22 de fevereiro de 2009.
A exposição é uma oportunidade para as novas gerações conhecerem, de
perto, a vida, a singularidade e delicadeza da arte desse pintor
cearense, que morreu aos 45 anos em Paris e cuja produção artística foi
curta, de apenas 20 anos.
Na noite de ontem, o vice-reitor de Extensão da Unifor, Randal Martins
Pompeu, ratificou que a mostra permite aos amantes das artes plásticas o
conhecimento da vida e da obra do artista, inclusive retratando todas as
fases que Antonio Bandeira vivenciou, desde quando começou a pintar,
ainda em Fortaleza, no Rio, quando ganhou uma bolsa para estudar na
França, até o seu falecimento, em virtude de um choque anafilático
devido a uma cirurgia de garganta.
Assim, no Espaço Cultural podem ser vistos não apenas o último quadro de
Bandeira, como uma coleção de cinco aquarelas, onde já é possível
observar sua incursão em novas cores (dourado, salmão, róseo), antes não
utilizadas em seus quadros. “Acreditamos que o pintor entrava em nova
fase de produção”, observou o vice-reitor Randal Martins Pompeu.
Para o sobrinho de Antonio Bandeira e também artista plástico, Manuel
Bezerra Lima Filho, a exposição é inédita, pela dimensão do que reúne e
para o conhecimento da grande obra desse cearense ilustre.
A mostra é bastante interativa não só pelo uso de recursos tecnológicos,
mas também pela própria disposição das obras no Centro Cultural Unifor.
Ali o público cearense verá as únicas imagens em movimento conhecidas do
pintor cearense.
Com a curadoria de Max Perlingeiro, a exposição recria a facilidade do
artista em brincar com as cores. Também revela as experimentações que
fazia com materiais como papel jornal e isopor, assinalando que a
versatilidade foi a marca registrada da arte de Bandeira.
Os quadros, expostos de forma cronológica, foram cedidos por
colecionadores cearenses, nacionais e do exterior.
Mais informações:
Exposição: Antonio Bandeira, na Unifor (Av. Wasghinton
Soares, 1321, bairro Edson Queiroz). De 28 de outubro de 2008 a 22 de
fevereiro de 2009. Das 10h às 20h, de terça-feira a domingo.
MOZARLY ALMEIDA
Repórter
O QUE ELES PENSAM
Mostra retrata vida e obra do artista
Essa talvez seja a mais rica, completa e organizada exposição
da obra de Antonio Bandeira, reunindo desde o seu primeiro ao último
quadro. A exposição apresenta a vida e documentário desse grande artista
cearense.
Auto Filho
Secretário de Cultura do Estado
A exposição é de grande importância, porque divulga a obra de um artista
cearense de renome nacional. A Unifor está de parabéns por essa
exposição magnífica e por já ter mostrado os trabalhos de artistas como
Raimundo Cela.
Fernando Ximenes
Presid. do Tribunal de Justiça do CE
É uma oportunidade de conhecermos profundamente a obra e a vida desse
grande cearense, em todas as fases de sua produção artística, desde o
início em Fortaleza, quando foi para o Rio de Janeiro, até seu
falecimento, na França.
Randal Martins Pompeu
Vice-reitor de Extensão da Unifor
(©
Diário do Nordeste, 28.10.2008) |