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Na intimidade de Antonio Bandeira

30/11/2008

 

 

O artista cearense Antonio Bandeira (1922-1967)
 

MAC expõe uma panorâmica da obra do pintor cearense que revela sintonias e aspectos mais íntimos do processo criativo

Maria Hirszman

Quem esperar encontrar apenas típicas telas de Antonio Bandeira (1922-1967), com suas explosões de cor e intensa gestualidade, na mostra dedicada ao artista que o MAC de São Paulo abriu esta semana, ficará um tanto decepcionado. Não se trata de uma exposição montada para reiterar aquilo que já é conhecido e consagrado, mas sim uma tentativa de trazer à tona aspectos menos conhecidos de sua obra, revelar sintonias e aspectos mais íntimos de seu processo criativo.

Segundo Roberto Galvão, um dos curadores da mostra e diretor do Centro Dragão do Mar (Fortaleza) ao qual pertencem as obras expostas, a mostra pode ser comparada a um ensaio, com um caráter didático que casa bem com o perfil do museu universitário paulista. Esse aspecto reflexivo explica, por exemplo, a presença majoritária de obras até agora inéditas. Ao expor dezenas de pequenos desenhos, esboços e pinturas lado a lado leva o espectador a compreender melhor o processo investigativo do artista.

Uma série de quase 30 esboços desembocam na tela Bicho, de 1947, sublinhando na prática a importância da repetição, da disciplina, do retorno quase obsessivo à mesma imagem na configuração de sua poética. "Meu quadro é sempre uma seqüência do quadro que já foi elaborado (...), indo juntar-se ao quadro que nascer depois. Talvez gostasse de fazer quadros em circuitos, e que eles nunca terminassem, e acredito que nunca terminarão mesmo", teria dito Bandeira em entrevista publicada em 1964 e citada por Galvão e José Guedes no texto de abertura da mostra. Há outros interessantes exercícios, agrupados por sua familiaridade, como um conjunto de esboços de formas femininas de membros agigantados, que remetem às célebres figuras antropofágicas de Tarsila do Amaral, ou a série de desenhos e aquarelas que encerram a mostra com uma espécie de retorno à figura, através de reiteradas imagens de paisagens urbanas.

Aliás, um dos aspectos centrais da exposição - e responsável inclusive pelo título Desconfiguração - é a defesa clara de que Bandeira não trabalha com conceitos abstratos, mas desconstrói, abstrai uma imagem real, tangível. Como escrevem os curadores, ele trabalha "indiscutivelmente com fragmentos da memória". Ou, como sintetizou Bandeira, "em Paris, costumam chamar-me de abstrato, porém, quando vou começar um quadro, nunca penso nisso, nesse suposto abstracionismo meu. Quero apenas pintar, partindo da idéia (ou da imagem) de seres, cidades, etc., isto é, coisas que eu já vi, espontaneamente".

Serviço

Antonio Bandeira. MAC-USP. Rua da Reitoria, 160, Cidade Universitária, tel. 3091-3039. 10 h/18 h (sáb. e dom., até 16 h; fecha 2.ª). Grátis. Até 25/1

(© Estadão)

 


A mais completa mostra de Bandeira

Mais de 200 objetos entre quadros, desenhos, fotografias, correspondências, fragmentos do livro autobiográfico, filme e peças de uso pessoal de Antonio Bandeira são reunidos em mostra no Espaço Cultural Unifor

Toda a singularidade e a delicadeza da arte de Antonio Bandeira (1922-1967) — um dos expoentes máximos do abstracionismo lírico no Brasil, uma das correntes da arte abstrata, surgida no bojo das vanguardas européias, na primeira metade do século XX — podem ser vistas e sentidas no Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor), da Fundação Edson Queiroz. A abertura da exposição ´Antonio Bandeira´ acontece hoje, às 20h, para convidados, ficando aberta à visitação pública a partir de amanhã, permanecendo em cartaz até o dia 22 de fevereiro de 2009. A mostra reúne quase 200 objetos do pintor cearense, entre telas, desenhos, fotografias, correspondências, fragmentos do livro autobiográfico, filme e peças de uso pessoal.

Com a curadoria de Max Perlingeiro, a exposição destaca a importância da obra de Bandeira no panorama artístico mundial. Além de expor as facetas deste artista que parecia brincar com as cores, a mostra revela as experimentações que fazia com materiais como papel jornal, juta e isopor, assinalando que a versatilidade foi a marca registrada da arte de Bandeira.

O pintor saiu de Fortaleza, em 1946, aos 23 anos, para conquistar, inicialmente, o Rio de Janeiro acompanhado do pintor suíço, Jean-Pierre Chabloz. Lá ele ganhou bolsa de estudo do governo francês, seguindo para sua primeira temporada em Paris onde ficou até 1951. Quando volta ao País, tem a satisfação de perceber que a arte abstrata estava sendo um pouco aceita pelo público e críticos.

A exposição ressalta bem o traço versátil e inquieto do pintor, que morreu aos 45 anos em Paris. Também recria um ambiente dedicado aos seus objetos pessoais. A forma como a exposição foi montada, sugere um passeio pela obra e a vida do pintor cearense, cuja produção artística foi curta, apenas 20 anos. A mostra ´Antonio Bandeira´ é bastante interativa, tanto pelo uso de recursos tecnológicos, quanto pela própria disposição das obras no Centro Cultural Unifor.

A luz e a climatização proporcionam uma atmosfera intimista, favorecendo uma mística entre obra/espectador/artista. É naquele espaço que o público cearense verá as únicas imagens em movimento conhecidas do pintor cearense, nascido em Fortaleza, em 1922, cujo primeiro contato com a pintura foi através da professora Mundica, que utilizava como método de ensino de arte a cópia, ou seja, o figurativo.

Na adolescência, Bandeira conheceu outros jovens que também gostavam de arte. No final da década de 1930, existia uma geração de artistas em Fortaleza que começava a abraçar uma nova estética. Antonio Bandeira integrou, em 1941, a diretoria da primeira entidade de Artes Plásticas de Fortaleza chamada Centro Cultural de Belas Artes. O Centro Cultural de Belas Artes realizou três edições do Salão Cearense de Pintura e Bandeira foi premiado no terceiro, em 1944, ano em que o Centro foi fechado sendo criada em agosto, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP).

Bandeira participou da primeira exposição promovida pela entidade com 20 trabalhos. Em 1944 o adido cultural da embaixada francesa no Brasil, Raymond Warnier, esteve em Fortaleza, conhecendo o pintor suíço Jean-Pierre Chabloz que havia chegado aqui há um ano. O adido cultural conheceu obras de alguns artistas cearenses inclusive as do jovem Bandeira. No começo de 1945, ele viaja para o Rio de Janeiro onde fica um ano. Em 1946 ganha bolsa do governo francês onde constrói sua carreira.

Interação

Randal Martins Pompeu, vice-reitor de Extensão da Universidade de Fortaleza , da Fundação Edson Queiroz e responsável pelo projeto Espaço Cultural, destaca a importância da mostra. ´Estamos resgatando os valores do Ceará´, disse. Uma das razões para a consolidação do Espaço no circuito cultural da cidade é justamente o Projeto Arte Educação. Desta vez, a exposição Antonio Bandeira pretende ir além das visitas guiadas. Será criada uma exposição paralela, numa sala que funciona dentro do Espaço, dedicado às crianças. O Projeto Arte Educação consiste em visitas guiadas de alunos da rede de ensino público. A Unifor disponibiliza ônibus para as escolas públicas, explica Randal Pompeu, enfatizando que, assim, o Espaço democratiza a arte.

Inédito

Dentre as peças do artista, expostas pela primeira vez, estão as pinturas realizadas pelo jovem Bandeira ainda em Fortaleza, antes de seguir para Paris. Nas primeiras telas é possível perceber a sua paixão pela pintura de Van Gogh. Através da exposição, percorremos toda a trajetória da vida e da obra do artista. Ao chegar em Paris, em 1946, entra em contato com os estudos acadêmicos de pintura. Ele estuda as formas do corpo humano. A mostra retrata este momento

A partir do final dos anos 1940, Bandeira começa a modificar um pouco a sua pintura. No entanto, é preciso deixar claro: Bandeira nunca se interessou totalmente pelo figurativo. A mostra constitui um verdadeiro passeio pelo o que alguns críticos chamam de ´gramática transfiguradora´ de Bandeira, reunindo 102 obras em pintura e desenhos, grande parte inéditas. Além de 50 a 60 objetos pessoais.

De maneira didática, a exposição apresenta as obras produzidas em Fortaleza (1942 a 1945); obras realizadas no Rio de Janeiro (1945 a 1946); coleção de desenhos produzidos na Academia de La Grande Chaumière, em 1946, Paysage Désolée, de 1955. O famoso tríptico ´Sol e Paisagem Azul´, de Paris, 1966; uma rara pintura sobre papel feita em Toscana, Itália; obras pintadas em Londres e a sua grande produção de abstratos feitos em Paris, no período de 1964 e 1967, incluindo últimos trabalhos encontrados no seu ateliê, em Paris, como cinco aquarelas e o último quadro que deixou no cavalete, antes de morrer.

Num constante vai-e-vem entre a figuração/abstração e vice-versa, as obras de Bandeira parecem dialogar com o público. As experimentações, o uso do azul, uma de suas cores prediletas, além do vermelho.

Poeta

Antonio Bandeira era dono de uma obra simples, delicada. Além de pintor, desenhista, gravador, também transitou pela poesia. O difícil era reconhecer quanto o artista usava a linguagem vocabular, ou seja, usava as palavras para dialogar com o espectador, ou quando lançava mão à linguagem plástica, provocando, sobretudo os olhos e a imaginação do público. Bandeira fazia poesia com as cores criando o que os críticos chamavam de uma ´gramática transfiguradora´ ou arte pura, que saía das mãos do ´pintor de impulso´.

Como eram impulsivas as suas criações que transitavam entre a abstração e a figuração com a mestria de um artista que se deixou guiar pela lirismo, cuja inspiração era a natureza. Boêmio, Bandeira adorava a noite, mas produzia com uma voracidade de quem tinha pressa, por isso mesmo, o pintor cearense não teve medo de sair mundo afora em busca, também do reconhecimento e do sucesso, mas, antes de tudo, para realizar a sua vontade de aprender. Como mesmo deixou claro, em inúmeras entrevistas, quando estava em Paris, que tinha muito a aprender.

Quem, sabe, Bandeira tivesse muito mais a fazer tanto pela arte quanto pelo seu tempo. Paradoxal, impulsivo, alegre, amante da noite e, sobretudo, da vida e da natureza. Mesmo numa época em que a arte vivia um momento de mudança de modelos — saía do figurativo para a abstração —, Bandeira demonstrou sua íntima relação com a natureza.

Pintou uma cidade cheia de luz, vida, economizando na forma e exagerando no sentimento. Do mesmo modo, criou, a sua maneira, uma noite na qual era possível enxergar pontos infinitos de luz, além de sugerir uma magia que os amantes da noite e do se perder no mundo poderiam captar. Desta forma, Bandeira não precisou usar palavras para fazer poesia, precisou apenas de sentimentos e criatividade. Em Bandeira, é possível identificar uma ´poética da abstração´. Seria Bandeira abstrato? Não sabemos se abstrato, mas sem medo de errar, é possível afirmar que sua pintura é lírica.

IRACEMA SALES
Repórter

Mais informações:

Exposição: Antonio Bandeira, no Espaço Cultural Unifor ( Av. Wasghinton Soares, 1321, Bairro Edson Queiroz). De 28 de outubro de 2008 a 22 de fevereiro de 2009. Das 10h às 20h, de terça-feira a domingo. Entrada franca. As visitas guiadas devem ser agendadas pelo fone: 3277 3319

(© Diário do Nordeste, 28.10.2008)


Aberta na Unifor a exposição Antonio Bandeira

A exposição Antonio Bandeira é aberta ao público, no Espaço Cultural da Unifor

A obra de um dos artistas mais representativos do abstracionismo lírico encontra-se em exposição no Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor), da Fundação Edson Queiroz. A mostra reúne mais de 200 objetos entre quadros, desenhos, fotografias, correspondências, fragmentos do livro autobiográfico, documentário e peças de uso pessoal desse artista cearense, nascido em Fortaleza em 1926 e falecido na França, em 1967.

Na abertura da exposição Antonio Bandeira, personalidades do meio cultural, acadêmico e político destacaram-se entre os convidados da noite. Também a presidente do Grupo Edson Queiroz, Dona Yolanda Queiroz, o chanceler Airton Queiroz e a esposa Celina Queiroz visitaram a exposição, que a partir de hoje é aberta ao público, prosseguindo até o dia 22 de fevereiro de 2009.

A exposição é uma oportunidade para as novas gerações conhecerem, de perto, a vida, a singularidade e delicadeza da arte desse pintor cearense, que morreu aos 45 anos em Paris e cuja produção artística foi curta, de apenas 20 anos.

Na noite de ontem, o vice-reitor de Extensão da Unifor, Randal Martins Pompeu, ratificou que a mostra permite aos amantes das artes plásticas o conhecimento da vida e da obra do artista, inclusive retratando todas as fases que Antonio Bandeira vivenciou, desde quando começou a pintar, ainda em Fortaleza, no Rio, quando ganhou uma bolsa para estudar na França, até o seu falecimento, em virtude de um choque anafilático devido a uma cirurgia de garganta.

Assim, no Espaço Cultural podem ser vistos não apenas o último quadro de Bandeira, como uma coleção de cinco aquarelas, onde já é possível observar sua incursão em novas cores (dourado, salmão, róseo), antes não utilizadas em seus quadros. “Acreditamos que o pintor entrava em nova fase de produção”, observou o vice-reitor Randal Martins Pompeu.

Para o sobrinho de Antonio Bandeira e também artista plástico, Manuel Bezerra Lima Filho, a exposição é inédita, pela dimensão do que reúne e para o conhecimento da grande obra desse cearense ilustre.

A mostra é bastante interativa não só pelo uso de recursos tecnológicos, mas também pela própria disposição das obras no Centro Cultural Unifor. Ali o público cearense verá as únicas imagens em movimento conhecidas do pintor cearense.

Com a curadoria de Max Perlingeiro, a exposição recria a facilidade do artista em brincar com as cores. Também revela as experimentações que fazia com materiais como papel jornal e isopor, assinalando que a versatilidade foi a marca registrada da arte de Bandeira.

Os quadros, expostos de forma cronológica, foram cedidos por colecionadores cearenses, nacionais e do exterior.

Mais informações:
Exposição: Antonio Bandeira, na Unifor (Av. Wasghinton Soares, 1321, bairro Edson Queiroz). De 28 de outubro de 2008 a 22 de fevereiro de 2009. Das 10h às 20h, de terça-feira a domingo.

MOZARLY ALMEIDA
Repórter

O QUE ELES PENSAM
Mostra retrata vida e obra do artista

Essa talvez seja a mais rica, completa e organizada exposição da obra de Antonio Bandeira, reunindo desde o seu primeiro ao último quadro. A exposição apresenta a vida e documentário desse grande artista cearense.

Auto Filho
Secretário de Cultura do Estado

A exposição é de grande importância, porque divulga a obra de um artista cearense de renome nacional. A Unifor está de parabéns por essa exposição magnífica e por já ter mostrado os trabalhos de artistas como Raimundo Cela.

Fernando Ximenes
Presid. do Tribunal de Justiça do CE

É uma oportunidade de conhecermos profundamente a obra e a vida desse grande cearense, em todas as fases de sua produção artística, desde o início em Fortaleza, quando foi para o Rio de Janeiro, até seu falecimento, na França.

Randal Martins Pompeu
Vice-reitor de Extensão da Unifor

(© Diário do Nordeste, 28.10.2008)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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