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Capa do DVD de S. Bernardo
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Nesta terça-feira (2/12), a partir das 20h, S.
Bernardo, longa dirigido por Leon Hirszman em 1972, será exibido no Cine
Bombril (Av. Paulista, 2.073 - Conjunto Nacional), em São Paulo. Com entrada
franca - mediante retirada de senha na bilheteria do cinema a partir das 19h -,
a sessão será seguida de debate com Othon Bastos, protagonista do filme, Lauro
Escorel, diretor de fotografia do drama e um dos responsáveis pelo projeto de
restauro da obra de Hirszman, e o crítico e ensaísta Ismail Xavier.
Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, S. Bernardo acompanha
Paulo Honório (Othon Bastos), um sertanejo de origem humilde, trabalha como
lavrador e deseja concretizar seu sonho de possuir a Fazenda São Bernardo, que
fica no município de Viçosa, em Alagoas. Numa manobra financeira, assume a
decadente propriedade e recupera a fazenda, expandindo sua cultura e entrando
para a sociedade local. Honório faz a fazenda prosperar, com muita astúcia e
violência, e se torna temido pelos empregados e fazendeiros vizinhos. Desejando
um herdeiro para um dia assumir o fruto da acumulação do capital, ele se casa
com Madalena (Isabel Ribeiro), uma professora cujo humanismo e sensibilidade
chocam-se com a rudeza do marido.
A versão restaurada de S. Bernardo abriu as atividades no último Festival
de Brasília do Cinema Brasileiro, encerrado em 25 de novembro, antes de seu
lançamento em DVD no mesmo mês. Visualmente, o longa recebeu cores e um
tratamento estético mais limpo, o que sobressai numa projeção em cinema, como
ocorreu na abertura deste festival. A obra, de importância histórica para o
cinema brasileiro, somente ganhou com a ajuda da tecnologia. Desta forma, o
trabalho mostra que o que os avanços tecnológicos podem fazer não somente para a
cinematografia contemporânea, mas também para a preservação histórica do cinema.
Este filme dá continuidade ao projeto de restauro da obra de Hirszman. Esta
segunda caixa de DVD com trabalhos do cineasta também inclui os curtas-metragens
Maioria Absoluta (1964) e Cantos de Trabalho (1975). A primeira
caixa, lançada no fim de 2007, incluiu os filmes Eles Não Usam Black-Tie,
ABC da Greve, Ecologia, Megalópolis, Pedreira de São
Diogo e o documentário inédito Deixa Que Eu Falo, de Eduardo Escorel.
Até 2010, mais duas caixas serão lançadas, reunindo outras obras essenciais do
cinema brasileiro, como A Falecida e Imagens do Inconsciente.
(©
CineClick)
Restaurado, "S.Bernardo" é exibido hoje em São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
A Folha e o Cine Bombril promovem hoje, às 20h, uma sessão
gratuita do filme "S. Bernardo" (1972), dirigido por Leon Hirszman
(1938-1987).
Após a exibição, haverá um debate com o ator e protagonista do filme,
Othon Bastos, o diretor de fotografia Lauro Escorel e o crítico Ismail
Xavier, com mediação do crítico da Folha Sérgio Rizzo.
As senhas poderão ser retiradas a partir das 19h na bilheteria do cinema
(av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3285-3696).
"S.Bernardo" também está sendo lançado em DVD (Videofilmes; R$ 55), em
uma caixa que inclui os curtas "Maioria Absoluta" (1964) e "Cantos de
Trabalho" (1975), além de extras. Até 2010 serão lançadas mais duas caixas
com filmes do diretor, com produções como "A Falecida" (1965) e "Imagens do
Inconsciente" (1983/1986).
O lançamento faz parte do projeto Restauro Digital da Obra de Leon
Hirszman, que tem o apoio do Ministério da Cultura e da Cinemateca
Brasileira, produção da Cinefilmes e patrocínio da Petrobras. Carlos Augusto
Calil, Lauro e Eduardo Escorel são os curadores e responsáveis pelo projeto,
com acompanhamento de Maria e João Pedro Hirszman, filhos do cineasta.
Cinema novo
Baseado no romance de Graciliano Ramos (1892-1953) e com música de
Caetano Veloso, o drama estrelado por Othon Bastos e Isabel Ribeiro conta a
história de Paulo Honório, caixeiro-viajante obcecado em arrancar a fazenda
São Bernardo das mãos de seu dono.
Quando atinge seu objetivo, Honório faz o local prosperar, mas torna-se
cada vez mais temido pelos funcionários e vizinhos. Quando se casa com a
professora Madalena, passa a viver dentro de um clima de ciúme obsessivo.
Um dos clássicos do cinema novo, "S.Bernardo" teve problemas com a
censura e foi retido sete vezes, o que contribuiu para a falência da
produtora Saga, da qual Hirszman era um dos sócios. Foi ainda premiado em
Gramado (ator e fotografia) e exibido nos festivais de Cannes e Berlim.
(©
Folha de S. Paulo)
Obra de Leon Hirszman ainda provoca e mantém atualidade
Orlando Margarido
Direto de Brasília
Um homem político, metódico, racional e emotivo. Foram essas as
qualidades, ainda que contraditórias, mais lembradas pelos estudiosos,
colaboradores e familiares sobre o cineasta Leon Hirszman durante o
debate na manhã desta quarta-feira no Hotel Nacional, o endereço oficial
de convivência do Festival de Brasília.
O encontro aconteceu em decorrência do relançamento em cópia
restaurada de S. Bernardo (assim mesmo, abreviado, como o diretor
adotou), um dos quatro filmes de ficção do carioca Hirszman, e
obra-prima do cinema brasileiro baseada em Graciliano Ramos que abriu a
41ª edição do evento.
O filme também está sendo lançado em DVD, acompanhado do
curta-metragem Maioria Absoluta (1964), sobre o analfabetismo,e
de uma alentada reunião de textos críticos sobre o realizador e o filme.
Dono de uma produção pequena mas signficativa, formada por cerca de 25
títulos, entre curtas, longas-metragens e episódios, Hirszman morreu de
forma precoce em 1987, aos 48 anos.
Esta seria uma das razões para os poucos títulos de sua autoria. "Mas
também ele era um realizador metódico, que demorava muito em suas
filmagens por ser rigoroso detalhista, além de todas as outras
dificuldades que se deve levar em conta para fazer cinema no Brasil",
disse Carlos Augusto Calil, crítico e um dos responsáveis pela
revitalização da obra do diretor e seu restauro.
A empreitada também parte de dois dos três filhos do cineasta, Maria
e João Pedro Hirzsman, este cineasta, e do fotógrafo de cinema Lauro
Escorel, que em S. Bernardo fez um de seus primeiros trabalhos. Estavam
todos presentes na mesa, ao lado ainda dos atores Othon Bastos e Nildo
Parente e do cineasta Vladimir Carvalho, entre outros convidados.
Foi de Carvalho, que se disse ainda impressionado por rever o filme,
o mais longo e amoroso depoimento lembrando o primeiro encontro com
Hirszman no Rio de Janeiro, em 1962, quando deparou com ele junto com
Cacá Diegues.
"Acabamos formando um grupo que se misturava, claro, com o Cinema
Novo; mas Leon era o racional do grupo, era o homem que sempre fazia da
conversa sua arma, aquele que não radicalizava; seu lema era a
negociação", contou o diretor paraibano, um documentarista contumaz.
Lembrou ainda do humor judaico - a ascendência do cineasta - em
situações como a que dizia atender as pessoas quando alguém soltava a
expressão "meu deus do céu".
Calil, atualmente também secretário municipal da Cultura, em São
Paulo, contextualizou a condição do realizador de Eles Não Usam
Black-Tie lembrando que ele é um dos três pilares do Cinema Novo, ao
lado de Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade.
Também apontou a importância de "ter acertado" com S. Bernardo
num momento em que o cineasta vinha com uma crise pessoal e
profissional. "Ele vinha de um fracasso com Garota de Ipanema e
pegou de frente a transformação político com o AI-5, em 1968, o que lhe
trouxe grande desesperança; S. Bernardo foi um chamado à ordem
nesse sentido, um projeto artístico de grande afinidade estética e
ideológica". Presente na platéia do debate, o cineasta Geraldo Sarno -
que concorre em Brasília com o longa-metragem Tudo Isto me Parece um
Sonho - fez uma intervenção lembrando que Maioria Absoluta foi, ao
lado de Aruanda (Linduarte Noronha, 1960), a maior referência
documental para sua geração e que seu documentário Viramundo
bebeu muito da mesma fonte.
Emocionado, Othon Bastos comentou os primeiros encontros com Hirszman
para o projeto de S. Bernardo, em que interpreta o protagonista
Paulo Honório. "Eu vinha de um papel de cangaceiro e todos os diretores
queriam que eu repetisse o personagem; Leon chegou então e me entregou o
livro de Graciliano e eu não me enxerguei no tipo físico de Honório",
disse o ator.
"Ele então me disse que aquilo que queria é o que estava dentro de
mim; foram essas certezas que fizeram da obra um filme atual até hoje".
Coube a Escorel relatar a condição precária de equipamentos e a
necessidade de intuição para realizar a fotografia, que guarda momentos
sublimes como aquele em que Madalena, esposa de Honório, se despede dele
na igreja.
"Como Leon foi extremamente fiel ao livro, até filmavamos com um
exemplar em vez de roteiro, tudo era muito pensado e repensado para não
gastar negativos". Bastos lembro que muitas cenas não podiam ultrapassar
quatro minutos de duração, mas poderiam levar seis horas de ensaio. Esse
rigor agora pode ser visto e revisto numa preciosa cópia restaurada como
se fosse, segundo lembrou um dos convidados, a Capela Sistina de
Michelangelo.
(©
Terra Cinema & DVD, 19.11.2008) |