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SaGrama em três tempos

02/12/2008

 

 

Foto: musicadepernambuco.pe.gov.br

SaGrama lança o CD Chão batido
 

O grupo lança amanhã, no Santa Isabel, um disco em que transita pela música de raiz, pela erudita e até a circense
José Teles

teles@jc.com.br

O SaGrama está de volta ao disco com o CD Chão batido, palco, picadeiro (pelo selo carioca Humaitá Music), que será lançado amanhã no Teatro de Santa Isabel, às 20h. O sétimo CD do grupo (em dez anos de carreira) é um trabalho conceitual e com uma sonoridade diferente do que se costuma escutar com em outros álbuns, mas sem mudanças radicais: “A instrumentação continua quase a mesma, acrescentamos apenas uma sanfona de oito baixos e contamos com participações de Wagner Tiso de Yamandu Costa”, comenta Sérgio Campelo, flautista e diretor musical do SaGrama. Da cena local muita gente veio dar uma mãozinha ao grupo, entre estes Marcos César, e Marcelo Melo e Toinho Alves, do Quinteto Violado. Vale lembrar que o disco anterior do SaGrama privilegiava a música carnavalesca, enquanto este álbum novo tem um repertorio bem variado onde cabem desde Ernesto Nazareth até Alceu Valença. Aliás o SaGrama é aberto a músicas e convidados que aparentemente não tem a ver com sua linha. Em Tábua de pirolito contaram com o Daruê Malungo e o guitarrista Fred Andrade.

Campello ressalta o apoio recebido da Petrobras: “É o que sustenta a cultura no país hoje, os patrocínios”. É isto que viabiliza não apenas turnês do grupo, como barateia o preço dos discos – o que está sendo lançado custará R$15, enquanto a entrada é franca. Os ingressos podem ser apanhados na bilheteria do teatro a partir de duas horas antes do espetáculo.

No título está explícito os três momentos do disco: “Chão batido seria mais a música de raiz, do forró aos sons e ritmos da zona rural, enquanto em palco pendemos mais para o erudito, à música de câmara, embora baseada na música de raiz. Picadeiro, por sua vez, tem algo de intinerante, fica entre o popular e o erudito, seria a música dos circos que circulam pelas cidade do interior”, explica Campelo, lembrando que a SaGrama está com lançamentos marcados no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília: “A gente tem feito muita coisa fora de Pernambuco. Lá fora é sempre legal, às vezes a aceitação chega a ser surpreendente. A cultura pernambucana é muito bem aceita”, comenta.

O que torna ainda mais fácil esta aceitação é o fato do SaGrama, embora integrado por músicos de formação de conservatório passa por longe do hermetismo, e é isto que ratifica Antonio Nóbrega. “O trabalho do SaGrama vem contrariar esse conceito tão difundido pela ideologia cultural dominante de que boa arte é chata. Esse é mais um desses deformados e deformadores conceitos que nos empurram diariamente pela mídia massificadora e irresponsável”.

É comum em outros Estados, e não poucas vezes aqui mesmo, se enquadrar o SaGrama nas hostes do movimento armorial, pelos instrumentos acústicos, pela música nordestina. Sérgio Campelo garante que isto não incomoda nem a ele nem aos demais integrantes do grupo, mas o que existe entre o SaGrama e o armorial são apenas algumas semelhanças: “Fazemos música nordestina, usamos escala mixolídia, enfim, bebemos na mesma fonte. Com certeza temos algumas influências do armorial, como temos do Quinteto Violado, da música erudita. Mas não somos armoriais”.

Ou como diz Bráulio Tavares na apresentação do álbum: “Este disco do SaGrama tem um grande número de canções familiares ao público brasileiro: ali estão Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Quinteto Violado. Mesmo quando emergem as composições originais do grupo, logo percebemos os timbres, as texturas sonoras, as tensões e resoluções melódicas tão familiares à nossa maneira nordestina de imaginar a música”. No lançamento de amanhã, o SaGrama não poderá contar, por questão de agenda, com Wagner Tiso e Yamandu.

Em compensação arregimentaram uma seleção de grandes músicos locais, começando por Nilsinho e Enock, da Trombonada (e da Spokfrevo Orquestra), o bandolinista Marcos César, Viviane e Michele Pimentel. O repertório será basicamente o do novo disco, com peças de trabalhos anteriores.

PONTE MUSICAL

Em Chão batido, palco, picadeiro, o SaGrama, de certa forma, faz uma espécie de ponte entre o Quinteto Violado, dos anos 70, com o Quinteto Armorial. Não por acaso, o repertório do CD é aberto com Vaquejada (Marcelo Melo, Toinho Alves e Luciano Pimentel), que conta com a participação da dupla fundadora do Quinteto Violado, Marcelo Melo e Toinho Alves, a quem o disco é dedicado (foi uma de suas últimas gravações). As três faixas seguintes, Banana machucada, Cuscuz, e Batata doce, são assinadas por Sérgio Campelo, que colore as melodias com um fole de oito baixos. Mundo do lua é um pot-pourri de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que o grupo já vinha fazendo ao vivo. O trabalho saiu tão redondo que quase não se sente a passagem do chão batido para o palco e picadeiro, da qual faz parte uma endiabrada interpretação de Escorregando, de Ernesto Nazareth.

A riqueza instrumental do grupo, aliada ao talento dos músicos, chega a momentos surpreendentes e sonoridades originais, como acontece em Moringa de barro, um baião de Luís Guimarães, simples, mas com acompanhamento complexo e divertido como algumas peças de Hermeto Pascoal, a bela Porto da saudade, de Alceu Valença, torna-se ainda mais bela com roupagem de música de câmara. Um disco em que o SaGrama aprimora ainda mais sua arte.

(© JC Online) 


Som de raiz, erudito e circense

Grupo instrumental se debruça sobre as músicas do ciclo junino, mas passeia por outros gêneros
 

Michelle de Assumpção // Diario
michelleassumpcao.pe@diariosassociados.com.br

O grupo instrumental SaGrama dá seqüência ao estudo armorial das músicas de festas nordestinas. Depois do disco Tenha modos - lançado logo após o Carnaval do ano passado - o grupo se debruça sobre as músicas do ciclo junino. Apresenta, no álbum Chão Batido, palco e picadeiro (o primeiro sob um selo carioca, Humaitá) não só músicas vinculadas a gêneros como baião, xote e quadrilha, mas faz uma divisão conceitual empírica, ao relacionar cada parte do título: chão batido, palco e picadeiro, a um conjunto específico de composições. No geral, é mais um belo disco do SaGrama.
 

SaGrama lança álbum Chão Batido, palco e picadeiro com um show no Teatro de Santa Isabel.Foto: Helder Ferrer/Divulgação
Mesmo passeando por outros gêneros, a identidade cultural do grupo formou uma assinatura tão marcante, que transcende à proposta mais elaborada. O ouvinte tem duas opções: ouvir o álbum e se deixar levar pelas construções harmônicas, rítmicas e melódicas que estabelecem ligações diversas com o interior (as festas populares, o circo, etc) ou apreciar as músicas dentro da sua proposta.

O chão batido, segundo o flautista e arranjador Sérgio Campelo representa a música mais popular, de raiz mesmo, dos folguedos da Zona da Mata e Agreste. Palco são as músicas mais intimistas, mais elaboradas, um erudito experimental criado a partir dos conhecimentos dos gêneros populares. O picadeiro é o grupo de músicas de característica mais alegre, itinerante, engraçada. A maior parte das composições segue a linha do popular, do chão batido. Destaque para Vaquejada (de Marcelo Mello e Toinho Alves). Foi uma das últimas participações de Toinho Alves em vida, por isso mesmo, o disco é uma homenagem a outro importante armorial da música pernambucana. Banana machucada, Cuscuz e Batata doce são outras três músicas desse universo. Nas suas células rítmicas correm o DNA do xote, do baião e do "rasta-pé" ou quadrilha, respectivamente.

Nesta parte tem também a faixas Moringa de Barro (baião de Luis Guimarães), que exigiu do SaGrama mais uma inovação instrumental. Foram construídas moringas nos tons médio, grave e agudo, que substituíram as percussões tradicionais. Como não poderia faltar, já que o assunto é "chão batido", há o pout-pourri Mundo do Lua, com clássicos de Luis Gonzaga e Humberto Teixeira. Palco tem versões, como a de Coco da Saudade (de Alceu Valença), Candeias (do violeiro SaGrama Cláudio Moura), Morro do Galo (composição do violeiro e arranjador do grupo, Caçapa), além de Cascalho (também de Cláudio) cuja percussão é feita com palmas de mão. Roda povo é uma ciranda de Sérgio Campelo, com participação de Enoc Cgaas no trompete e Nilsinho Amarante no trombone.

A sessão "picadeiro" tem quatro faixas. Escorregando (choro de Ernesto Nazareth com participação de Yamandu Costa), Samba um (Cláudio Moura), Carranca (choro baião de Marco César, com o violão solado pelo próprio) e Picadeiro, outra música do flautista Sérgio, que é uma junção de vários fragmentos da peça Fernando e Isaura, cuja trilha foi do SaGrama. Após um ano de elaboração, o SaGrama parte com a turnê do disco, que vai chegarno Sudeste ano que vem. O cancioneiro festivo de Pernambuco ainda está na mira. Sem nada definido, mas o SaGrama já começa a voltar seus conceitos sonoros para músicas adormecidas, da religião e do Natal.

Serviço

Lançamento do CD Chão Batido, palco, picadeiro
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro Santa Isabel
Quanto: aberto ao público (ingressos devem ser tirados da bilheteria, duas hora antes do espetáculo)

(© Diário de Pernambuco, atualização em 03.12.2008)


ÁUDIO

SaGrama - Presepada

 
Áudio
» Mundo da Lua
» Vaquejada
» Picadeiro

 

 

VÍDEO

SaGrama - Presepada

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