O extenso subtítulo da publicação dá idéia do que o leitor vai encontrar página adentro: Nos bastidores da folia ou como o trabalho de cenografia surgiu, cresceu e apareceu na maior festa de rua do Recife. Textos curtos, fotografias, esboços e projetos mostram como as criações de Joana Lira vêm decorando o Carnaval da cidade para além de fitas penduradas. A proposta desenvolvida por ela ao lado do escritório Lira Arquitetos Associados (do pai dela, Carlos Augusto Lira), que executa o projeto para a prefeitura desde 2001, coloca nas ruas uma megamostra de desenhos que se materializam em bonecos, painéis, móbiles, alamedas, banners e estamparias e não escapam nem aos olhos do folião mais desavisado. Uma estética multicolorida que dialoga com a xilogravura, como alguns textos do livro reiteram, mas assume uma característica muito própria, em contornos pretos e sensuais, cuja marca maior é a representação da figura feminina.

Muita gente pode dizer que Joana não costuma figurar nas galerias, nos museus e nos editais badalados da cidade, é verdade, mas jamais que seu trabalho é desconhecido. Qual artista tem um público tão grande como o dela? “Eu sinto, sim, como se estivesse pensando uma grande exposição. Tem a coisa de pegar a obra de outra pessoa (os artistas homenageados de cada Carnaval) e espalhar pela cidade, dando uma roupagem diferente, e isso acaba tendo uma dimensão enorme”, diz Joana. “É um trabalho de ilustração. Mas como está sendo feito há alguns anos, não é uma campanha publicitária, é fruto de uma aprendizagem, tem um cunho artístico de certa forma, ganha o seu valor”, continua ela.

MARCA

É fato que existe um padrão que se repete a cada ano e um produto – o Carnaval de uma gestão. Mas existe também um estilo capaz de desafiar qualquer ilustrador que pegue este projeto daqui para frente. Essa recorrência impregnou tanto o imaginário coletivo que é difícil pensar no Carnaval do Bairro do Recife, por exemplo, sem imaginar as figuras de Joana. Até o próprio escritório de Carlos Augusto Lira seguiu proposta semelhante na decoração que fez este ano para a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Mas é de se cogitar a possibilidade de outros artistas passarem a ocupar a função.

“Acho que outras pessoas têm que entrar. A cidade pode ganhar com isso. É uma abertura para os artistas se expressarem também. Não quero virar só uma marca de Carnaval. Por outro lado, não vou negar se me convidarem e vou procurar inovar sempre que eu puder”, afirma a designer, foliã de carteirinha. O próximo trabalho pelo menos continua sendo dela. Já está certo que a decoração do Carnaval 2009 vai ter suas ilustrações, calcadas na obra do artista plástico Cícero Dias e no universo do fundador do Galo da Madrugada Enéas Freire, ambos homenageados da festa em fevereiro.

O livro, no entanto, vai do Carnaval de 2001 a 2008, num processo que narra a evolução visual e técnica do projeto, sobretudo em procurar aliar o desenho a todos os imprevistos de uma megafesta ao ar livre. A decoração nasceu quando a prefeitura decidiu dividir a folia em pólos descentralizados e temáticos. Se no início, cinco caras marcavam a cenografia, agora os desenhos louvam artistas homenageados. Foi isso que deu virada ao projeto em 2006, quando as iluminogravuras de Ariano Suassuna inspiraram Joana. (O.M.)