Falhas de edição foram descobertas e corrigidas para livro com obra completa
Ubiratan Brasil
Nem o próprio poeta Ferreira Gullar suspeitava da existência de tantos erros
na sua obra poética disponível nas livrarias, erros que se perpetuavam nas
sucessivas reimpressões. As falhas foram descobertas e corrigidas ao longo
das semanas de convivência com o crítico Antonio Carlos Secchin, responsável
pela organização geral do livro que reúne a Poesia Completa, Teatro e Prosa
do poeta, lançado nesta semana pela Nova Aguilar (1.264 páginas, R$ 230).
Trata-se do primeiro volume inédito da nova fase da editora, que ganhou
fôlego para seus lançamentos desde o acordo firmado, em junho, com a Nova
Fronteira, do grupo Ediouro.
"A vantagem de editar um autor vivo é ter a presença dele na fixação do
texto", comenta o editor Sebastião Lacerda, à frente do negócio desde que
ele e seu pai, o líder político Carlos Lacerda, assumiram o controle da
editora, em 1975. "Gullar e Secchin conseguiram acertar até erros na
construção de versos."
Outro ganho é a inclusão de textos inéditos em livro. Na seção de poesia,
por exemplo, figura a obra de estréia de Gullar, Um Pouco Acima do Chão, de
1949, jamais comercialmente reeditada. Já nos textos de teatro, os destaques
são os pouco conhecidos Romance Nordestino e O Homem Como Invenção de Si
Mesmo. "É uma forma de reconhecimento para o autor", comenta Gullar.
Tamanho cuidado é um dos destaques dos volumes da Nova Aguilar, ao lado da
caprichada edição em capa dura e do papel-bíblia, esmero que encanta não
apenas leitores, mas também os próprios autores. Como o poeta João Cabral de
Melo Neto, cujo Poesia Completa e Prosa (1.264 páginas, R$ 230) também ganha
nova versão, lançada nesta semana. Em 1994, ele ficou à porta do prédio onde
morava, no bairro carioca do Flamengo, aflito por esperar a chegada de
Lacerda que, naquela noite, lhe entregaria a primeira edição da obra,
recém-saída do prelo. João Cabral, que morreria cinco anos depois,
emocionou-se ao folhear o livro, como se enfim recebesse o certificado de
mestre.
A obsessão pelo texto correto foi capaz de reparar erros gravíssimos, que já
estavam consolidados. E uma das maiores reparações ocorreu com a publicação
da obra completa do poeta Augusto dos Anjos (1884-1914). Responsável pelo
trabalho, o poeta Alexei Bueno precisou de 20 anos para concluir a pesquisa,
pois, dos grandes poetas do século passado, Augusto dos Anjos era o que
precisava mais urgentemente de um olhar rigoroso.
Assim, o volume que a Nova Aguilar lançou em 1996 trouxe uma preciosa
modificação. "Extremamente metódico, Bueno suspeitou de uma palavra em um
verso", lembra-se Lacerda. "O erro só foi descoberto graças ao material de
um colecionador da Paraíba: lá, Bueno constatou que uma letra foi editada de
ponta cabeça, ou seja, um 'u'
se transformou em 'n',
criando uma nova palavra."
Inspirada na francesa Plêiade, a Nova Aguilar foi fundada em 1958 com o
objetivo de privilegiar obras completas de autores consagrados, com
acabamento de luxo. Com 41 escritores atualmente em seu catálogo, o trabalho
é contínuo, mesmo no caso de autores já mortos. É o caso de Machado de
Assis, cuja obra completa foi retrabalhada durante 15 meses para que a nova
edição saísse até setembro, em tempo de participar do revival do autor, cuja
morte completou 100 anos em 2008.
Desde 1959, quando foi publicada a última edição da Obra Completa de
Machado, o conjunto de textos reconhecidos como de sua autoria aumentou a
ponto de a nova versão sair agora com quatro volumes, um a mais que a
anterior. Assim, textos que antes se acreditavam escritos por ele são, na
verdade, apenas traduções, como Queda Que as Mulheres Têm Para os Tolos. A
pesquisa apontou ainda que outros escritos simplesmente lhe foram atribuídos
por equívoco.
Para 2009, estão previstos o segundo volume do Teatro Completo de William
Shakespeare e a nova edição da obra poética e em prosa de Fernando Pessoa,
com novos textos descobertos nos 20 vinte anos. A literatura brasileira será
representada pelo Teatro Infantil Completo de Maria Clara Machado e as novas
edições revistas da Ficção Completa de João Guimarães Rosa e a obra completa
de Euclides da Cunha.
Festa Literária de Paraty acontece entre 1º e 5 de julho de
2009; Cosac Naify lançará outro volume de crônicas inéditas
O historiador Simon Schama é o único convidado já confirmado; outros nomes
já cogitados para a festa são Atiq Rahimi e Sophie Calle
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
A sétima edição da Festa Literária Internacional de Paraty acontecerá entre
os dias 1º e 5 de julho de 2009 e terá como autor homenageado o poeta Manuel
Bandeira (1886-1968). Com a homenagem, o diretor de programação da Flip, o
jornalista Flávio Moura, espera "redespertar o interesse" pela obra de
Bandeira.
"Além de grande referência entre os poetas modernistas, Bandeira tem uma
importante produção na crítica de arte, nos ensaios, em crônicas, em
traduções etc.", diz Moura, que vem comentando as novidades da Flip em se
u
blog (flaviormoura.wordpress.com).
A estrutura da homenagem não deve sofrer mudanças em
relação aos anos anteriores, com um tributo na abertura da Flip e mais duas
mesas.
Algumas editoras já estão programando novas edições de Bandeira por conta
da homenagem ao autor. Em janeiro, a Nova Fronteira, que publica a poesia de
Bandeira, vai anunciar uma série de lançamentos. A Cosac Naify já tem na
programação a reedição de "Apresentação da Poesia Brasileira", a tradução
que o poeta fez de "Macbeth" e também a versão para "Mary Stuart", de
Friedrich Schiller, títulos que vão sair pela Coleção Dramática.
Também será lançado um segundo volume de crônicas inéditas. "Se o
primeiro volume estava mais ligado à música e ao modernismo, nesse caso a
principal ênfase será a literatura", diz Paulo Werneck, editor da Cosac
Naify, que também estuda no momento um livro nos moldes de "O Santo Sujo -0A
Vida de Jayme Ovalle", biografia do paraense Jayme Ovalle (1894-1955),
compositor do clássico "Azulão", que tem letra de Bandeira.
"O projeto ainda está sendo montado, mas a idéia é falar sobre a figura
do Bandeira, o contexto social em que viveu e sua relação com a obra", diz
Werneck, que comemora a escolha de Bandeira para a homenagem na sétima Flip.
"Ele é um cara que só se agiganta, quanto mais a gente fuça sua obra."
Por ora, a sétima Flip tem só um convidado confirmado: o historiador
Simon Schama, cujo livro "O Futuro Americano" sairá em 2009 pela Companhia
das Letras. Outros nomes já cogitados são Atiq Rahimi, vencedor do Prêmio
Goncourt 2008, e a artista plástica Sophie Calle.