Miúcha desejava há anos gravar com o mestre do frevo
Claudionor Germano. Desta vez, o que era sonho virou realidade
José Teles
teles@jc.com.br
O cantor Claudionor Germano
assistia a um programa de entrevistas na TV. A entrevistada era a cantora
Miúcha. Lá pelo meio da entrevista, perguntaram se havia algum cantor com
quem ela gostaria de gravar: “Meu sonho é cantar num disco de Claudionor
Germano”, respondeu Miúcha. Por coincidência, ele estava começando a
trabalhar num disco novo. Então, no dia seguinte, ligou para Miúcha e fez o
convite. Imediatamente aceito. Miúcha tinha compromissos na Europa e
garantiu que, quando voltasse, gravaria com Claudionor. Ela cumpriu o
prometido, e nem fez como é comum hoje em dia: botar voz num estúdio no Rio
e enviar a gravação por e-mail. Miúcha preferiu gravar com seu ídolo num
estúdio recifense. Ela chegou esta semana e, na quarta e quinta, gravou duas
canções com Claudionor. “Fizemos Flabelo das ilusões, de Heleno Ramalho, um
frevo-de-bloco, e A noite dos mascarados, uma marcha-rancho de Chico
Buarque”, adianta o cantor, cujo próximo disco terá o título de Ranchos e
blocos no Carnaval do Recife. Este será o 32º título de uma discografia, que
conta com 23 LPs e oito CDs, sem contar as inúmeras reedições, com capas
diferentes de seus álbuns dos anos 60, e coletâneas editadas à sua revelia.
O que o levou a ele próprio regravar muito do que lançou no passado? “Por
mim eu regravaria aqueles discos que fiz na Rozenblit. Falei isso com um
amigo meu, que me fez desistir, alegou que aqueles discos são obras-primas,
não podem ser mexidos. Estive ouvindo e, realmente, têm um andamento mais
suave (cantarola É de amargar, de Capiba).
Em matéria de gravar com cantor famoso, Miúcha realizou sonhos que
nenhuma outra jamais conseguiu realizar. Ela foi a única cantora do Brasil
que gravou com os três monstros sagrados da bossa nova: João Gilberto (com
quem foi casada), Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E, agora, com um monstro
sagrado do frevo. Mas, sua intenção de realizar este “sonho” tem muito a ver
com suas ligações com Pernambuco. “Isto faz parte do meu DNA. O meu avô era
pernambucano. Durante muitos anos passei Carnaval no Recife e Olinda, porque
minha irmã Pii mora há mais de vinte anos em Olinda. Brinquei muito no Siri
na Lata e fui uma da fundadoras, ou melhor, seguradora, do Segura a Coisa.
Então, o Carnaval pernambucano está no meu sangue”, conta Miúcha,
ressaltando que muito anos antes de vir a Pernambuco já se ligava no frevo.
“Na minha casa éramos sete irmãos, todo mundo gostava de música e o rádio
era ligado o tempo inteiro. cantei muito Evocação nº1 de Nelson Ferreira. Eu
tocava violão, uns três acordes que aprendi com Vinicius. Depois chegou
Capiba, com A mesma rosa amarela, o que me fez também ficar apaixonada pela
poesia de Carlos Penna Filho. Anos depois fiz um show no Hotel 4 Rodas e
Capiba foi assistir, depois conversamos, ele era muito fofo”, entusiasma-se
Miúcha, lembrando que muita gente gravou A mesma rosa amarela, inclusive
ela. “Gravei primeiro para um disco que foi lançado no Japão, e só muito
depois saiu no Brasil pela BMG.
Claudionor Germano diz que pretende lançar o disco o mais depressa
possível, para que ele esteja disponível pelo menos um mês antes do
Carnaval. Miúcha, por outro lado, começa a divulgar um CD que documenta suas
gravações com João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Com Vinicius e
Toquinho fizemos uma temporada de um ano no Canecão. Em 1975, com João,
gravei num disco com Stan Getz. Com Tom Jobim também fiz show no Canecão”.