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Vida de Gregório Bezerra vira filme

07/10/2009

 

 

História de um valente, longa-metragem dirigido por Cláudio Barroso, começa a ser filmado, no Palácio do Campo das Princesas
 

Fellipe Fernandes
ffernandes@jc.com.br

Era 1969 quando Cláudio Barroso conheceu Gregório Bezerra. A ditadura já dava sinais de capitulação e o líder comunista (que havia sido exilado em troca da libertação do embaixador americano em 69) havia voltado ao País. Cerca de dois anos e meio atrás Barroso, paulistano que mora no Recife há cerca de vinte anos, teve a ideia de fazer um filme de ficção sobre a vida do militante. Depois de um tempo de captação e pré-produção, História de um valente, longa-metragem dirigido pelo próprio Barroso e produzido por Germano Coelho (Camará Filmes), começa a ser filmado, no Palácio do Campo das Princesas.

“Como Gregório é um homem muito querido, muita gente acaba mandando informações, pedaços de livros e recortes de jornal”, conta Barroso sobre o processo e pesquisa. “Fui atrás dos seus livros de memórias e comecei também a entrevistar antigos companheiros de partido em Carpina, encontrei antigos canavieiros... O filho dele Jurandir Bezerra foi muito importante nesse processo”, completa. O estudo sobre a vida de Gregório foi fundamental para construção do roteiro, que em sua primeira versão contava seis horas de película. “O primeiro roteiro começava em 1908, quando Gregório tinha apenas 8 anos. Essa versão serviu mais como uma base para gente conhecer a história do personagem, mas era realmente muito longa e tinha um custo muito alto”, explica Barroso, que divide a autoria do script com os cineastas Paulo Caldas, Pedro Severien e Amin Stepple.

Conseguir dar um recorte de duas horas numa vida tão conturbada como a do comunista não é tarefa fácil. Nascido em 1900, aos dez anos Gregório chega ao Recife de bondes e lampiões a gás, onde se torna menino de rua e passa a vender jornal até descobrir o sindicato da construção civil e começar a militar. Em 1930 ele se filia ao partido comunista, depois de já ter sido preso, solto e de estar servindo ao Exército. No Rio de Janeiro conhece Luís Carlos Prestes, de quem se torna grande amigo e parceiro de luta, e pouco tempo depois é eleito deputado federal em Pernambuco. Mas em 1947 Gregório é vítima de uma cilada que o obriga a cair na clandestinidade. Depois de nove anos circulando pelo País como anônimo e defendendo as causas dos trabalhadores, ele volta a Recife em 1957. História de um valente retrata a vida do ativista político a partir desse ano até 1964, quando é preso novamente, dessa vez pela ditadura militar. Gregório morreu em 1983, mas deixou um legado político e social que passa a ser revisitado pela telona.

Quando volta ao Recife em 57 ele se legaliza perante o Exército e se engaja na campanha de Miguel Arraes para o governo estadual. “Até que Gregório tem um estalo e volta para campo, onde repassa todo o aprendizado dos anos de clandestinidade”, acrescenta Barroso. Ao dizer campo, ele se refere a Zona da Mata Sul do Estado. Além do Recife, Olinda e Fernando de Noronha, o filme deverá ser rodado em cidades como Água Preta, Catende, Palmares, São Benedito do Sul e Igarapeba. O orçamento da produção, que continua captando recursos, gira em torno dos R$ 3,9 milhões. “Originalmente o longa deveria custar mais, afinal de contas é uma produção de época”, lembra o cineasta.

O fato do filme ser ambientado no final da década de 50 e início da década de 60 não dificulta apenas o setor financeiro. Encontrar locações, paisagens e materiais de arte para a reconstituição de época fez os produtores suarem bastante. “A grande dificuldade de fazer esse tipo de ambientação é que a preservação no nosso País é muito pouca, não há esse tipo de memória. Estamos com uma série de probleminhas porque queremos filmar um Recife que já não existe mais,” confessa Barroso. A cena em que o militante é torturado em praça pública pela ditadura militar não poderá, por exemplo ser gravada na Praça de Casa Forte, cenário original do lamentável episódio, por conta da atualidade da arquitetura que circunda a Praça hoje em dia. A tortura, que será uma das últimas cenas do filme, será filmada em frente a Prefeitura de Olinda.

Ainda que os sete anos em questão sejam o foco do enredo, o longa não fica restrito a esse período. “Vamos utilizar flashbacks para contar as tramas anteriores. E também estou usando alguns outros artifícios para contar bem a história de Gregório, afinal minha escola é de documentaristas”, esclarece Barroso, que já dirigiu curtas documentários como O mundo é uma cabeça (ao lado de Bidu Queiroz) e Margarida sempre viva. Ele decidiu encerrar sua obra com uma entrevista cedida por Gregório a Geneton Moraes Neto em 1982, quando o comunista falou sobre o episódio na Praça de Casa Forte. “O roteiro é muito forte e a ideia é fazer do filme uma aventura política, uma perseguição policial. Gregório sempre foi perseguido, seja por usineiros, militares ou americanos”, fala o cineasta sobre sua mais nova obra.

(© JC Online)

 


 

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