09/10/2009
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Livro
Caymmi sem folclore
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Caymmi Sem Folclore analisa a obra do compositor
baiano
Francisco Quinteiro Pires
Dorival Caymmi é urbano, é moderno. Não é apenas o
compositor e cantor que traduziu com pureza artística a essência
baiana. "Ele recriou a Bahia com uma linguagem do rádio e do
cinema", diz André Domingues (foto
abaixo), autor de Caymmi Sem Folclore, lançado
na Livraria Cultura.
Pesquisador musical, Domingues apresenta uma leitura que desvenda
"um projeto coerente de cultura nacional em Caymmi". A diferença é
que, para ele, a arte caymmiana não está no universo do folclore,
dos pescadores e do candomblé, mas no mundo do rádio, do disco e do
cinema ou, para resumir numa expressão apenas, no contexto da
indústria cultural.
Consciente das transformações históricas, Caymmi procurou dar certo,
adotando a estratégia da tentativa e erro. Essa afirmação, diz
Domingues, esbarra na ideia de que o compositor baiano era "uma
pedra bruta manipulada pela memória social de sua terra". Ele afirma
que "a produção baiana ocorre no Rio, na era de ouro da música
popular". "Na terra natal, ele fazia marchinhas cariocas." Domingues
acrescenta que "a Bahia de Caymmi é carioca, reflete o imaginário
nacional" da primeira metade do século 20. No livro, pretende
mostrar as ligações feitas por um pensamento nacionalista entre a
arte de compositores populares e uma identidade brasileira baseada
em elementos folclóricos.
Em
Caymmi Sem Folclore, adaptação de mestrado para USP, Domingues, de
33 anos, propõe um recorte temporal. A análise vai de 1938 a 1959,
período em que o músico consolida a carreira e cria a maior parte do
seu repertório - das 109 canções compostas 69 vêm a público no
intervalo de 20 anos. Sua trajetória começa com O Que É Que a Baiana
Tem, primeira gravação, e termina com o LP Chega de Saudade,
passando pelos anos 1950, quando se dedicou aos sambas-canção.
Domingues diz que o ponto final se deve a um detalhe escrito por Tom
Jobim na contracapa de Chega de Saudade: "Eu acredito em João
Gilberto porque ele é simples, sincero e extraordinariamente
musical. P.S.: Caymmi também acha!"
Dessa maneira, aquela revolução musical é identificada com o artista
baiano, filho de uma família de classe média de Salvador. "Um estudo
sobre a obra de Caymmi posterior à bossa nova exige uma complexidade
que meu livro não abrange", explica. Dorival Caymmi (1914-2008)
"respondeu com a sua obra a estímulos diretos" do momento histórico.
"Ele foi um homem que viveu intensamente o seu tempo."
Serviço
Caymmi Sem Folclore. De André Domingues. Editora Barcarolla. 150
págs., R$ 25. Livraria Cultura Artes. Av. Paulista, 2.073,
3285-4457.
(©
Estadão)
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