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13/12/2001

Xangai, mais brasileiro do que nunca

Xangai

Mônica Loureiro

   O Brasilerança mostra que a gente não está perdido, que sabemos qual caminho - verdadeiro - a trilhar na música". Desta forma, o cantor e compositor Xangai apresenta seu novo disco, Brasilerança, o segundo em sua carreira no qual é acompanhado pelo Quinteto da Paraíba. A proposta do projeto anterior, de 1998, foi unir vários compositores paraibanos. O resultado foi o CD Um Abraço Pra Ti, Pequenina, lançado pelo pequeno selo Acácia, que acabou sendo comprado pela Kuarup.

   "Durante a turnê do disco, tocamos em diferentes regiões do Brasil e pudemos sentir como o público pedia as músicas de Xangai. Apesar de não estar na mídia, ele é conhecido nacionalmente", conta Xisto Medeiros, contrabaixista do grupo e co-produtor do novo disco com Mário de Aratanha. O que parecia estranho e improvável no começo - unir a voz árida e marcante de Xangai a instrumentos camerísticos - tornou-se uma experiência de sucesso.

   "A música desmascara os preconceitos e lhes oferece arte contra teorias banais", defende o produtor de Um Abraço... Ricardo Anísio. E continua: "Este CD referenda a validade de culturas aparentemente distantes coabitarem no mesmo espaço". "Como o próprio nome sugere, o CD é uma reunião de música, poesia, que possibilita trazer uma palavra boa às pessoas. O que se chama de resgate, pesquisa, eu chamo de Brasilerança, define Xangai.

Dedicatórias

   Lançado pela Kuarup, Brasilerança traz releituras de sucessos de Xangai e músicas inéditas, dedicadas especialmente a ele - Utopia, de Chico César, e Pequenina, de Renato Teixeira. "O Renato compôs Pequenina em alusão ao nosso primeiro disco - o qual ele disse que ficou encantado ao ouvir", revela Xisto. Já Utopia tem participação do próprio Chico. "Conheço o Chico há mais de 20 anos. Ele gosta de dizer que tem a mim e Elomar como referenciais e que foi nossa postura musical que deu embasamento a ele. Mas não é nada disso... o talento dele é nato!", diz Xangai. Utopia não é a primeira música de Chico César gravada por Xangai: "O CD anterior tem Saudade Senhora Dona. Aí ele disse que fez esta nova música pensando em mim".

   Quem acompanha a carreira de Xangai há algum tempo, sabe que ele não poderia deixar de incluir no novo álbum ao menos duas músicas: Kukukaia e O ABC do Preguiçoso (Ai D'eu Sodade). A primeira, de Cátia de França, e a segunda, anônimo adaptado por ele, foram registradas no primeiro Cantoria, disco que reunia Xangai, Elomar, Vital Farias e Geraldo Azevedo. "Elas não fogem muito dos arranjos anteriores", opina Xangai. Brasilerança traz arranjos de Sérgio Galo, Xisto, Guerra Peixe, Adail Fernandes e João Omar (filho de Elomar).

   Mesmo sendo guiado por uma formação camerística, o álbum é conduzido com instrumentos populares, como rabeca e triângulo. "Nós já executamos um repertório exclusivamente erudito e mesmo hoje nos apresentamos com diversas orquestras do Estado. Mas temos um trabalho forte em cima do Movimento Armorial e desenvolvemos muitas pesquisas dentro da cultura popular. Então por isso a sonoridade do Brasilerança é tão particular: podemos ter um baixo tocado como zabumba (zabumbaixo), um violão como berimbau e violinos como rabeca", exemplifica Xisto.

   O Quinteto da Paraíba é formado por Xisto, Yerko Tabilo, Ronedilk Dantas, Samuel Espinoza e Nelson Videla, e é hoje reconhecido nacionalmente por seu trabalho na trilha sonora do filme Central do Brasil e pelas turnês com Xangai. "Nós fazemos uma música que, apesar de rebuscada, tem apelo popular e apresenta uma certa consciência. Só não temos mais espaço por sermos massacrados pelas micaretas, pela indústria do axé e do forró de baixa qualidade. Então, se não conseguimos o retorno ideal é por total falta de acesso às rádios e demais meios de comunicação", lamenta Xisto.

   "Tenho evitado prestar atenção nesses movimentos, forró de teclados, universitário... é tudo rótulo para uma música ruim. Gosto de destacar mesmo dois nomes que são esquecidos mas que para mim são da maior importância na música brasileira atual: Maciel Melo, lírico e popular ao mesmo tempo, e Juraildes da Cruz, um dos maiores poetas do País", completa Xangai.

   O cantor, que conhece bem essa realidade, está se movimentando para transformar Brasilerança em um projeto bem maior. "Terá uma série de teatro em Salvador e progranas da rádio e na TV Senado. A estréia dos programas devem acontecer em janeiro. Neles, apresentarei artistas de alta qualidade, principalmente aqueles que não têm oportunidade de estar na mídia", explica. Enquanto isso, o cantor se apresenta quinzenalmente no Café Teatro Porcão, em Salvador, também acompanhado por convidados: "A estréia foi dia 2 de dezembro, com Renato Teixeira. No dia 11 de dezembro eu vou levar Elomar", adianta. Nos planos de Xangai está também uma série de concertos com Elomar, no Rio de Janeiro, prevista também para o início do ano que vem.
(© CliqueMusic.com.br)


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