Foto: Daniel Roman
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O brasileiro come 153 gramas de rapadura por ano.
No Ceará, a média chega a 1,1 quilo por pessoa |
A empresa Rapunzel Naturkost enviou ofício ao Itamaraty
aceitando a substituição do registro, feito há quase 20 anos
Mônica Lucas
Repórter
Em breve, o brasileiro poderá dizer que a rapadura é nossa. A empresa alemã
Rapunzel Naturkost aceitou retirar o registro da marca ´rapadura´, que havia
feito, em 1989, nos Estados Unidos e na própria Alemanha. A comunicação foi
encaminhada nesta semana ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) e está
sendo analisada pelo grupo interministerial de Propriedade Industrial.
´Estamos só avaliando os detalhes, mas a formalização deve ser feita
rapidamente, já que a empresa aceitou a contraproposta brasileira´, afirma
Fábio Schmidt, diplomata membro da Divisão de Propriedade Intelectual do MRE
(Dipi). O Ministério havia sugerido a substituição pelo registro de forma
composta ´rapadura rapunzel´.
Da maneira como estava registrado, o doce exportado por um produtor
brasileiro para a Alemanha ou Estados Unidos não poderia ter esse nome se
não pagasse royalties à Rapunzel. ´Isto era um absurdo, que fere as regras
nacionais e internacionais de registro e propriedade intelectual´, argumenta
o advogado Ricardo Bacelar, presidente da Comissão de Cultura da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) no Ceará.
A entidade encaminhou, em 12 de junho do ano passado, notificação às
embaixadas da Alemanha e dos Estados Unidos no Brasil e ao Ministério das
Relações Exteriores,questionando o registro comercial indevido da marca
´rapadura´. Com o registro ´rapadura rapunzel´, formado por um termo
genérico e um distintivo da empresa produtora, permitido por lei, foi
encontrada uma solução simples e satisfatória.
A rapadura não é um item de peso na pauta de exportações do País. O Centro
Internacional de Negócios (CIN) não possui dados específicos. Considerando o
grupo dos confeitados que não levam cacau em sua composição, no qual se
inclui a rapadura, as vendas ao exterior somaram US$ 18,4 milhões no
primeiro semestre, de um total de US$ 11,370 bilhões.
´A questão não é apenas econômica. Estamos falando de um patrimônio
imaterial que se confunde com a tradição do povo brasileiro, sobretudo
nordestino´, enfatiza o presidente da OAB-CE, Hélio Leitão.
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar, do IBGE, o brasileiro come em
média 153 gramas de rapadura por ano, mais do que o consumo per capita de
chocolate em tablete (116 gramas) No Ceará, onde se vende até sorvete de
rapadura, chega a 1,1 quilo por pessoa.
Satisfeito com o desfecho do caso, Hélio Leitão acredita que servirá como
exemplo para que não haja novas apropriações desse tipo. No passado, o
Brasil já enfrentou problemas com empresas de outros países que registraram
nomes como cupuaçu e açaí.
(©
Diário do Nordeste)
Veja o texto
Açúcar Mascavo,
Melado e
Rapadura
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